Por Roberto Numeriano, em artigo enviado ao Blog Agora que, em relação ao ex-presidente Lula e qualquer demanda pelo bom direito, não há mais dúvidas quanto à sanha justiceira dos casacas negras, essa casta autocrática de togados arrogantes, que se imagina elite social e é em geral funcionalmente ineficaz nos seus palácios de gosto arquitetônico duvidoso, é necessário analisar as tendências e táticas eleitorais dos candidatos e partidos a partir, paradoxalmente, do polo inverso na luta pelo voto.
Limado e cassado pelos justiceiros dos tapetões da autocracia judiciária (o tipo de autocracia mais infame contra a democracia), Lula, que era o mantra dos candidatos Armando Monteiro e Paulo Câmara, agora é quem precisa do apoio ao projeto petista, que deverá seguir com Haddad (ainda oficialmente seu vice), e a confirmação de Manuela D’Ávila para a provável vice-candidatura.
Cremos, a esta altura, que a cúpula do PT vai teimar no seu nome até meados deste mês, enquanto ainda explora a perseguição ao mesmo.
Qual inversão pode se operar?
Os dois principais palanques da disputa em Pernambuco, sem Lula no páreo, precisarão fortalecer Haddad para emplacá-lo no segundo turno.
Sobretudo porque temos uma ameaça concreta e imediata representada pelo fascista e energúmeno Bolsonazi, uma figura vil e pérfida, produto do ódio social e todo tipo de preconceito que a Casa-Grande ancestral cultiva.
Bolsonazi é um gravíssimo perigo para a democracia e a convivência respeitosa já muito esgarçada entre os brasileiros.
O guia eletrônico e os discursos políticos serão essenciais para, até, consolidar, desde já, quem será vitorioso no segundo turno, na disputa local e nacional, com um quadro de tendências de voto que deverá se conformar, porém, no primeiro.
Em outras palavras, quem, agora, inverter as curvas estatísticas do voto no calor do guia do primeiro turno, dificilmente perderá a eleição no segundo escrutínio.
O desafio principal parece recair sobre Armando Monteiro.
Vamos, neste primeiro artigo, abrir com sua candidatura a análise da disputa local.
As duas principais e mais recentes pesquisas de opinião sinalizaram positivamente a evolução da tendência de voto em seu nome, após o veto da cúpula do PT nacional à postulação de Marília Arraes.
Os dados das duas pesquisas apontaram 27% (Câmara) a 21% (Monteiro) e 30% (Câmara) a 24% (Monteiro).
O que ressalta, imediatamente, é a diferença exata de 6% entre os dois.
Ainda que tenhamos em vista a natural margem de erro (numa mediana de cerca de 3% para mais ou para menos), a diferença em si é muito pequena em termos político-eleitorais, mesmo se fosse considerada em números absolutos (sem a ponderação da margem de erro).
O que isso pode significar?
Monteiro, ao que parece, num primeiro momento, terá “herdado” uma pequena parcela de eleitores potenciais de Marília.
Não seriam votos necessariamente ideológicos, numa perspectiva de esquerda, mas de protesto e, no limite, já “útil”, considerando a inexistência de outra candidatura competitiva para derrubar a tecnocracia que o reinado de Eduardo Campos instaurou em Pernambuco.
Haverá um massivo voto-protesto, relativamente às manobras que rifaram Lula e Marília?
Difícil aferir, neste instante, mas creio ser uma tendência objetiva Monteiro obter uma parcela expressiva desse voto dos indignados, sejam estes votos de “esquerda” ou puramente de “opinião”.
Os dados brutos das duas pesquisas (não vou me ater às suas variáveis porque o artigo ficaria extenso), também podem servir para Monteiro ponderar se haveria um teto para a tendência em análise, considerada por nós como um fenômeno já real.
Vamos aos números, então.
Em primeiro lugar, não creio haver esse teto.
Se aplicada a ponderação da margem de erro (consideremos, pois, aqui, a mediana de 3% para as duas pesquisas), Monteiro teria 27% ou 21%, em relação à pesquisa na qual alcançou 24%, e 24% ou 18%, em face da pesquisa onde obteve 21%.
A matemática encanta a muitos, mas não é mágica.
O que ressalta, imediatamente, do aparente “mistério” desses dados objetivos é que Monteiro pode variar numa faixa eleitoral de 18% a 27%, fazendo o cotejo das duas pesquisas.
Ou seja, não há como acreditar em um teto de tendência eleitoral que estaria em torno de hipotéticos 20%, por exemplo, para ficar num número redondo.
Não me surpreenderia se, na próxima pesquisa, o candidato alcançar entre 25% e 28% das preferências, percentuais perfeitamente possíveis diante do guia eleitoral e das tendências pretéritas, ora em análise.
Creio que o guia eleitoral e as ações de propaganda nas mídias sociais serão decisivas para a candidatura de Armando Monteiro virar o jogo das curvas eleitorais já no primeiro turno.
Alcançar esta meta tem a ver com a formulação de um discurso que, antes de escudado no “apoio de Lula” (o ex-presidente já passou da condição de preso político para o status de cassado), tem a ver com a mensagem de como ele, Monteiro, poderá ajudar Haddad no governo da República.
Se a sua equipe souber formular este refinado discurso e, mais ainda, convencer o eleitorado estadual quanto a possuir o melhor programa de governo para Pernambuco, a probabilidade de virar o jogo no primeiro tempo da partida é real.
Roberto Numeriano apresenta-se como jornalista, professor, pós-doutor em Ciência Política e candidato a deputado estadual pelo Avante