Presbítero, missionária, pai, irmão.
Estes são alguns dos inúmeros títulos religiosos que cada vez estão mais presentes no cenário político-eleitoral brasileiro.
Neste ano, ao menos 45 candidatos irão utilizar títulos religiosos no nome de urna no Estado de Pernambuco.
O levantamento feito pelo Blog de Jamildo analisou os nomes que serão utilizados na urna pelos candidatos a deputado federal, estadual, senador e governador.
Em todo o Brasil mais de 500 candidatos usam títulos religiosos em seus ’nomes políticos'.
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Para Elton Gomes, doutor em ciência política e professor da Faculdade Damas, o uso de ’títulos’ religiosos por políticos é um fenômeno da política brasileira. “Os títulos religiosos são associados a um fenômeno muito importante da política brasileira ocorrido nos últimos 25, 30 anos que é o peso do chamado voto evangélico neo pentecostal que costuma ser um tipo de voto relativamente ‘barato’ para os candidatos”, explica.
Segundo o Censo de 2010, mais de 20% da população de Pernambuco se declara evangélica, entre as diversas igrejas e denominações.
Na época, isso representava um contingente de 1,7 milhão de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “No caso do voto evangélico, ele é ao mesmo tempo concentrado e disperso.
Concentrado, pois é concentrado em um segmento da população que realiza essa congregação de fé.
Ele é disperso porque as igrejas protestantes, diferentemente da Igreja Católica, têm muita autonomia, são federalizadas, têm uma capilaridade muito grande e isso acaba sendo interessante para o político associado ao movimento religioso, seja ele pentecostal ou não”, afirma Gomes. “Ele acaba transformando isso em uma espécie de fator de multiplicação de suas capacidades políticas eleitorais.
Há casos em que o pastor pede voto para o político, às vezes o próprio político é pastor”.
Em Pernambuco, o principal título religioso utilizado é o de “irmã” ou “irmão”, em 22 casos, seguido “pastor” ou “pastora”, em 17 casos, “missionário” ou “missionária” (6) e “bispo(a)” em 1 caso.
Além do título religioso ajudar na identificação dos políticos junto à sua denominação, Elton Gomes afirma que o uso desses termos pode atrair votos de eleitores conservadores mesmo que eles não sejam ligados à religião. “Esses candidatos religiosos acabam abocanhando um pedacinho do eleitorado neo conservador que não necessariamente é protestante e não necessariamente é daquela denominação religiosa da qual o candidato faz parte.
Eles acabam tendo a simpatia de outros evangélicos e até de eleitores não evangélicos mas que gostam da defesa dele do ponto de vista moral-conservador.
Em geral esses candidatos são liberais no ponto de vista econômico e conservador no ponto de vista moral”, explica o cientista político.
Para o deputado federal Pastor Eurico (Patriota), segundo mais votado em 2014 com 233.762 votos, o uso de títulos religiosos é um direito.
O parlamentar diz não acredita que esse fator conceda uma grande quantidade de votos aos candidatos que assim se identificam. “O meu registro desde o princípio foi dessa forma, até porque é o nome que eu sempre fui conhecido no meio evangélico, no rádio e nas redes sociais.
Não é o ’título’ que faz o eleitor votar, se o título desse voto… é o direito de cada um como cidadão escolher o seu nome social.
Se a pessoa tem de fato uma liderança e quer usar esse ’titulo’ é um direito dele, a lei não proíbe”, afirmou o deputado.