Um relatório de inteligência eleitoral analisou o cenário da disputa pelo governo de seis ’estados-chave’, entre eles o de Pernambuco.
Nesse material, foi levado em consideração variáveis como o contexto socioeconômico, o perfil do eleitorado, os recursos eleitorais dos candidatos e também os próprios atributos dos candidatos aos governos estaduais.
Coordenado por Ricardo Sennes, cientista político, diretor do Núcleo de Análise Política da Prospectiva e colunista da Exame, a análise aponta para uma vitória no primeiro turno do atual governador Paulo Câmara (PSB).
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Marília aparecia como a principal candidata da oposição que poderia inviabilizar o projeto de reeleição de Paulo Câmara, ainda que o governador ainda tivesse maiores chances do que a vereadora.
Com o recuo de Marília, que concorrerá agora à Câmara dos Deputados, Câmara conseguiu reunir em sua chapa partidos de esquerda, como o PCdoB, e já aposta em um discurso de apoio a Lula”.
Apesar de ter construído uma frente de oposição ‘robusta’, a análise aponta que a coligação do candidato Armando Monteiro (PTB) é menos competitiva do que a de Paulo. “A coligação, que conta com o apoio de partidos do centro e da direita, como o PSDB, o DEM e o PSC, é menos competitiva do ponto de vista de recursos eleitorais do que a de Câmara.
Além disso, sofre com a constante associação ao governo de Michel Temer.
Ainda que Armando tenha sido ministro de Dilma Rousseff, as duas vagas ao Senado – preenchidas por Mendonça Filho (DEM) e Bruno Araujo (PSDB) -, pertencem a ex-ministros de Temer”, registrou o estudo.
Segundo a Prospectiva, a escolha dos vices de Paulo Câmara e Armando Monteiro reflete a estratégia eleitoral dos candidatos. “No caso de Câmara, a escolha da deputada federal e ex-prefeita de Olinda, Luciana Santos (PCdoB), confere maior apoio da esquerda à sua campanha.
Segundo fontes, Santos é mal avaliada sobretudo na região de Recife.
Contudo, um nome feminino e de esquerda dá visibilidade a Câmara, que aposta no discurso lulista.
Armando Monteiro, por sua vez, apostou no nome do vereador Fred Ferreira (PSC) de modo a agregar os votos evangélicos do estado, principalmente da região metropolitana de Recife, onde Câmara tem maior inserção”.
Variáveis Contexto Socioeconômico Na primeira ‘variável’ analisada pela pesquisa, o cenário favorece Armando Monteiro (PTB). “O estado teve uma melhora considerável dos indicadores socioeconômicos nos últimos anos, sobretudo na saúde e na educação.
O desemprego segue mais alto e descolado da média nacional, mas cresceu menos que a média do Nordeste.
Pernambuco também é o sexto estado mais violento do Brasil, segundo dados do Atlas da Violência de 2018, tema que deve estar presente durante o debate eleitoral e usado como crítica ao atual governo.
A fragilidade do ambiente socioeconômico naturalmente enfraquece o governador Paulo Câmara e favorece Armando Monteiro, que inclusive tem o apoio de partidos de direita que devem apostar em críticas à segurança pública”.
Perfil do Eleitorado “Seguindo a tendência geral do eleitorado brasileiro, os candidatos com boas chances eleitorais estão associados a ideologias centristas.
No caso de Paulo Câmara, ainda que o governador adote um discurso de esquerda e de defesa do ex-presidente Lula, a composição de sua coligação, com MDB, PP, e PR, por exemplo, revela seu caráter centrista.
O mesmo se aplica para Armando Monteiro, que também conta com o apoio de partidos de centro ou centro-direita”, aponta o estudo, afirmando que o cenário favorece igualmente Paulo Câmara e Armando Monteiro.
Recursos Eleitorais dos Candidatos O terceiro ponto analisado foi referente à diferença dos recursos eleitorais da coligação de Paulo Câmara e de Armando Monteiro que segundo a pesquisa é significativa. “O atual governador conta com cerca de 10 minutos do tempo de rádio e TV, praticamente o dobro de Armando.
O apoio do PT, assim como de partidos como o PP e o PR, foram fundamentais para a competitividade de Câmara nos recursos eleitorais.
Além disso, a coligação governista detém o controle de grande parte das prefeituras do estado, o que favorece o cenário de reeleição do governador.
Câmara também deve ter acesso a uma boa parcela do Fundo Público para Campanhas (FEFC) do PSB, uma vez que o governo de Pernambuco é estratégico para o partido e não há um candidato à presidência apoiado pelo PSB, o que permite que a legenda concentre seus recursos nas eleições estaduais e na manutenção da bancada no Congresso”.
Atributos dos Candidatos Nesta variável, Paulo Câmara, que apesar do desgaste de ser governador, saí favorecido por não ter uma imagem tão atrelada à ‘velha política’ como Armando Monteiro tem. “Ainda que Paulo Câmara tenha sua imagem associada a Eduardo Campos, o governador tem menos experiência na gestão pública e é conhecido por ter pouca habilidade política.
Contudo, Câmara é favorecido pelo perfil de seu principal adversário, Armando Monteiro, associado à velha política pernambucana.
Segundo fontes da Prospectiva, as críticas da também candidata Dani Portela (PSOL) sobre a chapa de Armando refletem o que pensa o eleitorado do estado.
De acordo com Portela, tanto Armando Monteiro quanto Mendonça Filho são “os mesmos velhos nomes dizendo-se mudança.
Mais uma vez homens brancos, ricos, representantes da oligarquia se colocam como se fossem a melhor opção”.
Assim, é possível afirmar que a oposição, ainda que tenha ampla experiência de gestão pública, sofre um desgaste no estado.
O governador naturalmente também é alvo de críticas, porém a imagem da oposição personificada em nomes tradicionais favorece também o cenário de reeleição de Câmara”.