“Vai ser muito difícil governar Pernambuco sem estar com Eduardo ao lado”.

Era a frase que o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB) dizia no encerramento da sua campanha de rua de 2014, eleição marcada pela morte do seu antecessor e padrinho político, Eduardo Campos (PSB), no dia 13 de agosto daquele ano, após a queda do avião que o levaria para uma agenda na disputa presidencial.

Exatamente quatro anos depois do acidente, a imagem do socialista ainda é usada no palanque do partido que ele e o avô Miguel Arraes presidiram, mas desta vez menos explorada e sem a comoção de quatro anos atrás. “É muito difícil imaginar que esse ano vai ter o mesmo impacto”, prevê o cientista político Ricardo Ismael, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). “No plano estadual, continua sendo uma referência”.

O cientista político Hely Ferreira, integrante do núcleo de estudos eleitorais, partidários e da democracia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), também avalia que a imagem de Eduardo Campos não será tão amplamente usada. “Iria epetir a agenda de quatro anos atrás, não seria positivo”, afirma. “Vamos ver até que ponto o peso de Eduardo ainda é decisivo nas eleiçõeses deste ano.

As eleições passadas viraram praticamente uma sessão espírita, só se falava em Eduardo”.

Além disso, a imagem do ex-governador está dividindo espaço com a do ex-presidente Lula (PT), que relatou este ano, em entrevista antes de ser preso, ter feito em 2011 uma proposta para que os petistas apoiassem Eduardo Campos neste pleito.

Lula, muito emocionado, durante velório de Eduardo Campos, em 2014.

Foto: Acervo JC Imagem Eduardo Campos foi ministro de Lula em 2004, depois de ser, na Câmara dos Deputados, articulador do governo petista.

O PSB permaneceu aliado ao PT nacionalmente até 2013, quando, para viabilizar a candidatura do socialista, rompeu com Dilma Rousseff (PT) e passou a criticar a gestão dela.

No Recife, a cisão havia acontecido um ano antes, no momento em que o então governador articulou o lançamento de Geraldo Julio (PSB) à prefeitura da capital, quadro técnico do governo dele que ganhou espaço político e atualmente é o primeiro-secretário nacional do partido.

A retomada da aliança com o PT levou mais de seis meses para se consolidar este ano, entre negociações que iam e voltavam; entre diversos outros interesses, de um lado para inviabilizar as candidaturas da petista Marília Arraes em Pernambuco e, do outro, do socialista Márcio Lacerda em Minas Gerais.

No Estado, Paulo Câmara ganhou o direito de se dizer candidato de Lula, que tem 49% das intenções de voto no Nordeste, segundo a última pesquisa Datafolha, realizada em junho.

Foto: Roberto Stuckert/Instituto Lula “A tendência é de associar mais a imagem de Paulo Câmara à de Lula principalmente nos menores municipios”, analisa Ricardo Ismael.

A equipe de comunicação de Lula publicou mais cedo uma imagem em homenagem a Eduardo Campos.

Apesar disso, Ricardo Ismael enfatiza que o governador é uma “cria” do padrinho político. “Acho que Paulo Câmara vai tentar sempre se associar à imagem de que ele é um governo de continuidade, dando sequência ao padrão administrativo de Eduardo Campos”, afirma o cientista político.

Na convenção que homologou as candidaturas da Frente Popular, no último dia 5, eram vistas fotos do ex-governador em banners do PSB e foi exibido um vídeo de homenagem a Eduardo Campos.

Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem O deputado federal Danilo Cabral (PSB), ex-secretário de Eduardo Campos, defendeu o legado do aliado. “O legado tanto de Arraes quanto de Eduardo estará presente, pelas ações que aqueles dois governos implementaram”, disse. “Os três governos (de Arraes, Eduardo Campos e Lula) tiveram um olhar sobretudo para os setores mais excluídos”.

A aposta do partido este ano é João Campos, 24 anos, filho dele.

Formado em engenharia civil, ele foi chefe de gabinete de Paulo Câmara por dois anos, para se preparar para disputar o espólio eleitoral do bisavô Miguel Arraes.

Nas redes sociais, o candidato a deputado federal tem publicado vídeos de viagens ao interior em que repete discursos do pai.

Sem Eduardo Campos, PSB rachou Eduardo Campos já era tido como um herdeiro político de Arraes, principalmente na articulação política.

Para Ricardo Ismael, a capacidade de negociar foi o que o PSB perdeu com a morte dele.

Nacionalmente, o PSB se dividiu já em 2014, após a morte de Eduardo Campos, quando decidiu apoiar Aécio Neves (PSDB) no segundo turno do pleito, e, quando Michel Temer (MDB) assumiu, sobre permanecer ou não na base de apoio.

O partido chegou a 2018 também dividido.

Este ano, parte do partido era a favor da candidatura do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa à presidência e outra era contrária.

Depois, com a desistência de Barbosa, alguns estados se posicionaram pela aliança com o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, e outros com o PT.

Por fim, foi feito um acordo com os petistas que minou o pedetista e gerou reação no partido. “No plano nacional, a morte de Eduardo Campos terminou trazendo um problema para o PSB.

O PSB rachou nacionalmente, a decisão que foi tomada (de não apoiar oficialmente nem o PT nem o PDT de Ciro Gomes) é extremamente controversa.

A maneira que foi conduzida é muito diferente de Eduardo Campos.

Em 2014, o PSB estava no jogo político e tinha uma presença muito maior.

O PSB praticamente aceitou o jogo do PT”, afirma Ricardo Ismael. “Eduardo Campos colocou o PSB a nível nacional, talvez tivesse disputando a presidência com chances reais de vitória.

A impressão que ficou é que atendeu mais uma estrategia do PT. É colocar o PSB num plano muito menor do que estava nacionalmente.

Passou a ser um ator fundamental, se ele estivesse vivo, provavelmente seria um dos atores fundamentais na eleição deste ano”.

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem Para Hely Ferreira, a decisão nacional do PSB reflete a redução da influência de Eduardo Campos. “Não tem a mesma comoção.

Se funcionasse, o PSB teria candidato próprio à presidência”, afirma. “Arraes era tido como um mito na política brasileira.

Eduardo não era o sucessor de Arraes na questão mitológica, era o sucessor político.

A morte de Arraes deixou o povo pernambucano órfão de um líder político da envergadura dele.

Eduardo, quando estava vivendo o apogeu na política, morre no mesmo dia da morte do avô”.

Danilo Cabral negou que o partido ainda esteja dividido, embora admita o racha logo após a morte de Eduardo Campos. “O partido tinha esse perfil de centro-esquerda e, com a morte de Eduardo, nos dispersamos.

Voltamos, com a liderança de Paulo (Câmara), a nos aglutinar em torno desse campo de forças”.