Por José Paulo Cavalcanti Filho, em sua coluna no Diário de Pernambuco Orlando Tejo era um gênio.
Todo mundo sabe disso.
A cabeça foi antes, o corpo velho só agora.
Uma tristeza.
Perda enorme.
Entre suas grandes histórias, lembro uma que se deu com o premiado escritor Luiz Berto, editor do Jornal Besta Fubana.
Quando Tejo, liso como um mocó, pediu ao amigo Berto que lhe arranjasse um agiota.
E ao tal cidadão, (João) Canindé, pediu 30 mil cruzeiros.
Só que o dinheiro não chegava.
E ele na lona.
E angústia muita.
E notícia nenhuma.
Foi quando o juízo ferveu e Tejo, na hora, escreveu esses versos: LOUVAÇÃO A CANINDÉ Estando sem um tostão E me encontrando bem perto, Fui procurar Luiz Berto Para alguma solução.
Berto disse: “Meu irmão, Eu também queria até Fazer um querrequequé Daquele que o diabo pinta Para ver se arranco trinta Do bolso de Canindé”.
E toca a telefonar E Canindé a correr, Mas não pôde se esconder E teve que tapear: “Pela manhã não vai dar, Porque de tarde é que é Bom para a coisa dar pé.
Aguarde, portanto, amigo”.
Berto ficou de castigo Esperando Canindé.
E eu que necessitava Também da mesma quantia Me fiei nessa franquia Que Canindé propalava Quando eu menos esperava O safado, de má fé, Filho de puta, ralé, Disse que hoje não tem nada…
Ah! uma foice amolada No chifre de Canindé.
Eu já podia notar E mudar de interesse Que cabra com um nome desse Não poderia prestar.
No entanto vou esperar Até amanhã com fé.
Se ele me deixar a pé, Juro por Nossa Senhora: Corto de pau uma tora E vou matar Canindé.
O cabra fuma e não traga Faz do crime o seu idílio!
Onde está Flávio Marcílio Que não demite esta praga?
Ao menos dava-se a vaga Pra um sujeito de fé, Já que esse indivíduo é Tratante e delinquente Haja chumbo grosso e quente No rabo de Canindé.
Por capricho do destino De Satanás ou Deus Brama, O bicho também se chama Coisa e tal e Tolentino, Doido, avarento e mofino, Não conhece a Santa Sé, Faz da cola o seu rapé, Vive da desgraça alheia, Devia estar na cadeia Esse tal de Canindé.
Não sei como Luiz Berto Este escritor inspirado, Toma dinheiro emprestado A um ladrão tão esperto, Que representa um deserto De trabalho, amor e fé, Que anda de marcha ré Pela estrada da virtude E além de covarde e rude Se assina por Canindé.
Antes quero outro “pacote” Desemprego, moratória, Ver Delfim contar história, Comer carne de caçote, Levar chumbo no cangote, Me abraçar com jacaré, Beber caldo de chulé, Dar o rabo a marinheiro, Do que tomar um cruzeiro Emprestado a Canindé.
Mas o destino é cobra traiçoeira.
Prega suas peças.
E isso aconteceu, então, mais uma vez.
Dando-se que o amigo Luiz Berto avisou, logo em seguida, ter chegado seu dinheiro.
Foi quando nosso Tejo, com remorsos por ter falado tão mal do pobre Canindé, resolveu a questão escrevendo outros versos.
A favor dele, agora.
NOSSO AMIGO CANINDÉ Um sujeito despeitado, Desses de baixa maré, Inventou que Canindé É um canalha safado.
Eu fiquei preocupado Com a informação ralé, Porém não perdi a fé Em quem merece louvores…
E haja palmas e haja flores Na fronte de Canindé.
Tenho dito e sustentado (Todo mundo sabe disso) Que na Câmara, esse cortiço, Há um cidadão honrado, Pai de família extremado, Homem de bem e de fé!
O Papa já disse até Que há no torrão brasileiro Padre Cícero em Juazeiro E em Brasília, Canindé.
Sei que o Papa tem razão, Mas ninguém quer saber disto.
Se já falaram de Cristo, Que se dirá de um cristão Porém a fofoca não Atinge um homem de fé.
E se eu descobrir quem é, Meto a mão no pé do ouvido Do sem-vergonha enxerido Que falar de Canindé.
Canindé – nome decente!
Tolentino – ô nome macho!
Ribeiro – lindo riacho Que mata a sede da gente!
Honrado, amigo e valente, Subiu da glória o sopé…
A Virgem de Nazaré Já lhe envolveu com seu manto, Por isso um caminho santo Vai trilhando Canindé.
Canindé pra ser beato Só falta mesmo a batina, Pois tem vocação divina Pureza, fé e recato!
Por isso ele é o retrato Mais fiel de São José E já se comenta até Que Frei Damião Bozano Sugeriu ao Vaticano Canonizar Canindé.
Mas sabem por que razão Já querem canonizá-lo? É por causa de um estalo Que recebeu nosso irmão Lá nas margens do Jordão, Ao lado de São Tomé, Quando dava cafuné Numa velhinha doente E morreu a penitente Nos braços de Canindé.
Nesse chão onde ele pisa, Por ser grande patriota, Se faz até de agiota Pra ajudar quem precisa.
Mas não comercializa A sua alma de fé!
Jamais ganhou um café Pelo dinheiro que empresta…
Caridade é uma festa Pra alma de Canindé.
Santo Agostinho, dos santos Foi o mais puro entre os ermos Que consolava os enfermos E lhes enxugava os prantos.
Obrava milagres tantos, Pela pureza e a fé Pois acreditava até Em fala de passarinho.
Mas sabem?
Santo Agostinho É pinto pra Canindé.
No fim, o infeliz agiota sofreu para receber sua grana.
Mas ganhou versos, em troca.
Ficou no lucro.
Perdemos um gênio.
Abraços para Luiz Berto.
E homenagens ao grande Orlando Tejo.