Nada sobre nós sem nós Por Simone Santana, em artigo enviado ao blog O mundo público, com destaque para o ambiente político, historicamente é um espaço predominantemente masculino.
No Brasil, só em 1932 as mulheres conquistaram o direito de votar.
E somente 14 anos depois, o de ser votada.
Apesar de compormos 52% do eleitorado, possuirmos maior formação escolar, somarmos mais de 40% das filiações partidárias, ainda somos sub-representadas nos poderes do Estado. É fato que a participação feminina nos espaços eletivos de poder vem avançando, mas ainda de forma muito lenta e aquém de nossa presença na sociedade.
Diante desta distorção cultural e histórica, é pertinente e necessária a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que pelo menos 30% do fundo eleitoral seja destinado à campanha de candidatas.
A medida representa um passo adiante no sentido de promover um pleito mais democrático, com condições práticas de igualdade.
Ir de encontro a este movimento rumo à equidade de oportunidades entre candidatas e candidatos representaria uma sinalização por parte de nossos agentes políticos de que estes, ao contrário do que clama a população, se opõem à representatividade e renovação política, favorecendo a manutenção de um status quo claudicante.
Por isso, os membros da Comissão de Defesa de Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Pernambuco, da qual sou presidente, manifestaram sua posição favorável à decisão do TSE por meio de carta aberta à população, divulgada neste mês de junho que antecede mais uma eleição.
As causas da falta de representatividade feminina nos espaços de decisão instigam um debate de interesse da sociedade, e que deve ser aprofundado, sobre a cultura machista predominante que reprime as iniciativas de mulheres que desejam seguir este caminho.
Existem mecanismos no sistema político brasileiro que dificultam o posicionamento das mulheres como candidatas viáveis.
A maioria dos partidos políticos é presidida por homens; a legislação que prevê número mínimo de candidatas por partido/coligação é comumente burlada; raros partidos empoderam e apoiam suas candidatas para uma eleição igualitária entre os candidatos de ambos os sexos.
A falta de recursos (dinheiro, apoio político e tempo na TV) é um dos principais motivos para a baixa participação feminina entre os candidatos e entre os eleitos.
Levantamento realizado pela Folha de São Paulo, nas eleições de 2016, aponta que os partidos destinaram proporcionalmente 30% mais recursos aos homens em relação ao que é repassado às mulheres.
Não obstante a legislação definir cota de gênero para as candidaturas, a participação feminina na política ainda é ínfima se comparada aos homens.
Nas eleições de 2016, por exemplo, o país elegeu 4.898 prefeitos (88,43%) e apenas 641 prefeitas (11,57%).
O número apresentou queda em relação ao pleito de 2012, quando apenas 659 candidatas a prefeita foram eleitas (11.84% do total).
Está claro que medidas mais ousadas e efetivas precisam ser tomadas a respeito.
E as cidadãs pernambucanas demandam protagonismo neste importante marco histórico.
Nada sobre nós sem nós.
Simone Santana é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Alepe