Estadão Conteúdo - O PSDB conseguiu fazer o que se propôs em 1988?

Fugiu do fisiologismo partidário?

José Serra - Conseguiu, numa primeira fase, e eu diria que até hoje é diferenciado, sem menosprezo ao MDB, e apesar dos problemas havidos.

Estadão Conteúdo - Mas, assim como o PMDB da época, o PSDB se tornou um partido de caciques.

Não houve uma renovação de lá pra cá.

Por quê?

José Serra - Você não muda as lideranças por decreto.

Há gente jovem boa, mas lideranças políticas têm de aparecer.

Renovar não é uma decisão.

E as pessoas precisam estar preparadas.

Veja só, o Persio Arida é o coordenador (econômico) da campanha do Geraldo Alckmin.

Veja, não estou menosprezando o Persio, que é ótimo, mas cadê a renovação?

Não aparece ou não se arrisca.

Estadão Conteúdo - Depois dos escândalos envolvendo lideranças como Aécio Neves e Eduardo Azeredo, o PSDB falhou em não fazer uma autocrítica?

José Serra - A autocrítica deve fazer parte permanente da vida de qualquer partido.

O PSDB, neste sentido, não deve ser diferente.

Nós fazemos pouco isso.

Deveríamos fazer mais.

Estadão Conteúdo - Na sua avaliação, o PSDB vive uma crise?

Uma crise ética?

José Serra - Nós vivemos uma crise permanente (no PSDB).

Mas é crise para todo mundo.

A política toda está em crise, todos os partidos estão.

No País, não há dois lados mais na política.

Basta ver as discussões no Senado, não há um contra ou a favor. É a sociedade contra a política.

Não se tem mais um conflito de partidos ou de pensamentos.

Estadão Conteúdo - Qual o maior feito do PSDB?

José Serra - O Plano Real, sem dúvida, e depois o padrão de governo que criamos no Brasil.

Não estou dizendo que o PSDB tornou tudo uma maravilha, mas elevou o padrão de governo.

Estadão Conteúdo - Que rumo o partido deve tomar a partir de agora?

José Serra - Abrir caminhos, como fez no passado.

Mobilizar-se, de fato, para fazer uma reforma política, especialmente a reforma do sistema eleitoral, implementar o voto distrital misto, que é exequível.

Essa questão é urgente e a movimentação do PSDB em torno disso é fraca.

E tem a questão do parlamentarismo, que, ao meu ver, tem de ser recolocada.