Por Bruno Baptista, em artigo enviado ao blog A greve dos caminhoneiros é fruto de um movimento reivindicatório justo e legítimo.

Parece não ser somente contra o preço do diesel, mas também contra o baixo valor do frete e as condições degradantes de trabalho a que os motoristas são submetidos, como o péssimo estado de conservação das estradas.

Ninguém aguenta uma carga tributária escorchante sem o recebimento de uma contraprestação.

Os serviços públicos são ineficientes e às vezes inexistentes.

O governo gasta muito e gasta mal.

O movimento também é importante para notarmos uma categoria “invisível”, mas tão essencial para o país: os caminhoneiros.

O Brasil, anos atrás, investiu quase que exclusivamente no transporte rodoviário.

As ferrovias estão completamente sucateadas e o transporte hidroviário não tem tanta capilaridade, tornando o País excessivamente dependente do modal rodoviário.

Do ponto de vista social e político, essa é uma greve diferente.

Apoiada pela extrema direita, agora criminalizada por muitos, e pelo governo, por supostamente não se tratar de uma greve, mas de lockout (paralisação de empregadores, proibida no Brasil).

Provavelmente trata-se de ambos, lockout e greve.

O fato é que poderá se agravar nos próximos dias com a suspensão do trabalho de categorias como a dos petroleiros e com o fato de o Governo Federal estar moribundo, sem força e mesmo sem legitimidade (sequer eleitoral) para conduzir a solução desse processo.

Porém, iniciamos outra semana com sinais de abuso de direito e um ambiente de instabilidade política, econômica e social poucas vezes visto na história recente do país.

A população mais vulnerável sofre com a precarização dos serviços essenciais, que não poderiam ser paralisados.

O pior não é faltar combustível no tanque do carro da classe média ou alta, mas a falta de insumos nos hospitais, alimentos, gás de cozinha, crianças sem aulas e as instituições públicas e diversas empresas privadas suspendendo os seus serviços.

O jornalista norte americano H.

L.

Mencken disse, certa vez, que “para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada”.

Para a situação atual do país não existe solução simples.

Estamos nos aproximando de mais um período eleitoral, momento mais do que oportuno para estimular o debate, sem maniqueísmo, sobre o modelo de país que desejamos. É estimular o fortalecimento das instituições de controle e fiscalização, promover padrões éticos e de honestidade na política. É preciso estar atento aos movimentos de quem deseja aproveitar a oportunidade para propor saídas incompatíveis com a construção do Estado Democrático de Direito, pelo qual tanto se lutou e com o qual devemos seguir fortemente comprometidos.

Não nos cabe outra postura a não ser repelir de maneira firme as posições de muitos que a aproveitam o momento para pedir intervenção militar, um eufemismo para ditadura.

E encaram isso como a panaceia para todos os males, o que é extremamente preocupante.

Se é um jovem, é preciso explicar o que é arbítrio, suspensão de habeas corpus, fim da liberdade de imprensa, tortura, dentre outros símbolos da barbárie que representa a ditadura, em qualquer lugar e com qualquer ideologia.

Momentos de crise como este, exigem de todos nós desprendimento, coragem e fé para combater atitudes egoístas, a maldade, as teorias conspiratórias, as fakenews, a desesperança dos que inocentemente acabam contribuindo para uma situação de caos, com pessoas brigando nas filas de combustível ou empresários praticando crimes contra a economia popular, aproveitando a escassez para elevar margens de lucro.

São fatos que não podem nos desanimar jamais.

Precisamos estar a postos para defender a jovem democracia brasileira Bruno Baptista é advogado previdenciarista, trabalhista e presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de Pernambuco - CAAPE/OAB-PE