Por Bernardo Mello Franco, no Globo Joaquim Barbosa usou 173 caracteres, incluindo pontos e espaços, para informar que não será candidato a presidente da República.
O tuíte pôs fim a meses de conversas com políticos, empresários, marqueteiros, jornalistas e eleitores que o abordavam nas ruas.
O assédio cresceu nas últimas semanas.
Com a desistência do apresentador Luciano Huck, o ex-ministro do Supremo se tornou o último outsider com chance de vencer a eleição em outubro.
A pesquisa mais recente do Datafolha indicou que essa possibilidade era real.
Sem dar uma única declaração pública, Barbosa apareceu com até 10% das intenções de voto.
A expectativa geral era de que ele decolaria ao se apresentar como candidato.
O ex-ministro chegou a dar o primeiro passo em abril, ao aceitar o convite para se filiar ao PSB.
E por que Barbosa pulou fora?
Porque nunca havia se convencido a entrar na disputa, como repetiu em dezenas de conversas informais.
Ele media os custos pessoais de uma aventura eleitoral.
Temia perder dinheiro e tranquilidade, não necessariamente nesta ordem.
Fora do Supremo há quase quatro anos, o ex-ministro montou escritórios de advocacia no Rio, em São Paulo e em Brasília.
Além disso, passou a fazer palestras remuneradas para empresários e investidores.
Como pré-candidato, teria que abrir mão dessas fontes de renda.
Poderia viver com a aposentadoria do Supremo, mas teria dificuldade para manter a ajuda financeira à família.
Barbosa também temia o jogo pesado de uma campanha.
Acostumado a elogios, ele sabia que seria bombardeado pelos adversários ao se lançar na disputa.
Lembrava o exemplo de Marina Silva, alvo de marketing agressivo do PT em 2014.
O ex-ministro dizia que o custo não seria apenas pessoal.
No julgamento do mensalão, ele se queixou de perseguição a parentes em seus locais de trabalho.
Agora temia que o filme se repetisse durante a campanha presidencial.