Por Roberto Numeriano, em artigo enviado ao blog Quando da prisão do ex-presidente Lula, lembrei de algo que é muito comum nesses casos em que o detido, por ser quem é e encarnar simbolicamente sonhos libertários e de emancipação, jamais está confinado.
Não é gratuita ou forçada a comparação do aprisionamento criminoso de Lula com o de Nelson Mandela, ambos avatares da luta por direitos e dignidade dos seus povos humilhados e ofendidos.
Mas não recordei de Mandela ou Martin Luther King, outro gigante imortal.
Lembrei foi de uma foto do revolucionário Leon Davidovich Bronstein, o Leon Trotski.
Na foto, atrás das grades, Trotski, olhava para fora com um profundo olhar azul, quase inquisitorial, irônico mesmo.
Dir-se-ia que aquele olhar demonstrava ao seu carcereiro (e ao autor da fotografia) que eles é quem estavam encarcerados em suas almas.
O veredito do olhar de Trotski era, no entanto, sereno.
Parecia até que o jovem revolucionário russo sabia que julgava seu carcereiro ou, antes, todo o sistema judicial podre de uma sociedade reacionária e em decomposição, a qual prendeu-o na vã ilusão de que a sua voz de líder não ressoaria para além das grades.
Assim também eu vejo e sinto o significado simbólico da prisão de Lula, prisão arbitrária por um juízo parcial e justiceiro, infame e motivado pela ideologia da Casa-Grande.
Acho até que nenhuma foto de Lula preso, isolado na solitária, foi “vazada” pelos capitães do mato porque, certamente, galvanizaria ainda mais a resistência dos que lutam pela sua liberdade.
E porque, enfim, uma foto de Lula preso seria mais um símbolo do ex-presidente como o carcereiro das almas tristes que, ilusoriamente, imaginam tê-lo em suas mãos.
Roberto Numeriano é jornalista, professor, pós-doutor em Ciência Política e pré-candidato a deputado estadual pelo Avante