Ilona Szabó, uma das especialistas em segurança pública do Brasil, classificou o Compaz como um dos maiores exemplos de prevenção à violência no País, em artigo publicado hoje na Folha de São Paulo.
Um olhar para o começo da vida Combater alta dos homicídios passa por medidas voltadas a infância e juventude Por Ilona Szabó de Carvalho A intolerável colocação do Brasil no primeiro lugar em números absolutos de homicídios no mundo faz com que especialistas em segurança pública reivindiquem há décadas um olhar prioritário do governo e da sociedade para as mortes violentas.
Hoje, neste espaço, chamo atenção para um tema muitas vezes preterido pelo debate público: para reduzir mortes, é preciso que olhemos prioritariamente para o começo da vida, ou seja, para as crianças e os jovens.
Isso significa, em termos práticos, apostar em estratégias que incidam sobre a violência letal bem antes que ela ocorra.
Chega a 61 mil o número de pessoas assassinadas em nosso país todos os anos.
Ou seja, sete brasileiros e brasileiras são mortos violentamente a cada hora.
Os homicídios se concentram de forma desproporcional em determinados lugares e grupos populacionais.
Do total de vítimas, quase 70% têm entre 15 e 19 anos.
Desses jovens, a maioria são do sexo masculino e negros.
Por si só, os números indicariam a necessidade de atenção à nossa juventude.
Tal urgência fica ainda mais evidente ao revisarmos estudos sobre o que funciona e o que não funciona para diminuir níveis de homicídios.
Eles demonstram uma maior eficiência de políticas e programas que vão além do foco em policiamento, concentrando-se também na prevenção.
O impacto é especialmente alto quando se tratam de intervenções voltadas para crianças e adolescentes.
Entre as estratégias cuja eficácia está amparada por evidências estão as voltadas para o desenvolvimento na primeira infância e de habilidades parentais, com objetivo de fortalecer a relação entre crianças e seus responsáveis, criando famílias mais estáveis.
Estão incluídos também políticas e programas voltados para o emprego juvenil.
A criação de espaços públicos que possam contribuir para a convivência saudável entre adolescentes e o estabelecimento de relações pacíficas, com o apoio de metodologias já testadas, também é fundamental.
Nesse sentido, uma experiência com forte potencial vem sendo implementada no Nordeste do Brasil, em Recife.
O Centro Comunitário da Paz (Compaz), cujas duas primeiras unidades foram inauguradas pelo município em 2016 e 2017 em áreas de alta vulnerabilidade social, colocam à disposição de jovens atividades esportivas, biblioteca, aulas de idiomas, reforço escolar e capacitação para geração de renda.
Os centros oferecem também serviços judiciários, como a mediação de conflitos.
O foco dos espaços não é somente promover inclusão social, mas também fortalecer relações comunitárias.
Para isso, a interlocução com moradores das duas regiões onde o Compaz foi instalado vem sendo crucial.
Mais iniciativas que olhem para o começo da vida de brasileiros e brasileiras são urgentes não apenas pelo fato de a nossa juventude estar sendo brutalmente vitimada, mas também porque isso apresenta uma relação de custo-benefício alta.
Para avançar nessa abordagem, precisamos de lideranças fortes, em especial prefeitos e governadores, dispostos a desenvolver e implementar planos integrais de prevenção e redução de violência que levem em consideração quais populações estão em situação de maior vulnerabilidade.
Parte indispensável desse processo é que autoridades e cidadãos deixem de olhar jovens apenas como parte do problema.
Enxerguemos que eles também são parte elementar da solução.
Ilona Szabó de Carvalho, cientista política fluminense, é mestre em Estudos de Conflito e Paz por Uppsala.