Por Roberto Numeriano, em artigo enviado ao blog São variadas as formas de odiar, mas o ódio em si é a expressão de um medo.

Este medo pode ser originário de variadas coisas: inveja, ressentimento, egoísmo, preconceito, arrogância, desilusão…

O fato é que o ódio é um mobilizador social e individual, tanto quanto seus antípodas essenciais, como o amor, a solidariedade, o perdão e a misericórdia.

Desde que o PT assomou na cena política brasileira como o principal herdeiro político e ideológico dos comunistas do antigo PCB (e toda a sua agenda de combate às elites de feição escravocrata, por meio do lendário Luís Carlos Prestes), o ódio ancestral da Casa-Grande contra a Senzala e a Oca focou-se neste partido.

O ódio precisa odiar.

E para odiar é necessário um objeto, um símbolo, um valor.

Os golpes de Estado de 1964 e de 2016 são produtos objetivos desse ódio, aqui com feição de classe.

Se traçarmos uma linha de tempo entre os dois eventos, perceberemos que as causas dos golpistas são as mesmas.

Por um lado, o país como propriedade de uma elite financeiro-industrial em geral corrupta, inepta e predadora do Estado.

Por outro, os inimigos da nação de “verde e amarelo”: o MST, o MTST, o PT, a esquerda em geral, além das bichas, das putas, dos maconheiros, dos negros, dos miseráveis, humilhados e ofendidos.

Esse ódio, desde 2013, promovido racionalmente pela mídia mais reacionária (Rede Globo à frente), encorajou seus portadores a saírem do armário, do silêncio de suas misérias ideológicas e pessoais.

Extremista, irracional, assassino, fascista, o ódio da velha direita da Casa-Grande ganhou as ruas e hoje é vocalizado pela mentira diuturna dos jornais de rádio e TV, pelos editoriais hipócritas da imprensa venal, por tuíter de general, pelo parlamento de maiorias infames e corruptas, por cortes de justiça indignas e vis, nas quais agentes do Estado decidem sentenças ideologicamente e ao sabor de quem manda (MPF, STF e quejandos).

Não é por acaso que a expressão maior desse ódio é um tipo como Bolsonaro, esbirro fascista que elogiou, em pleno parlamento, bandidos torturadores, como o execrável coronel de infame memória, Brilhante Ustra.

Apologista da violência, cão hidrófobo da direita covarde, Bolsonaro é o tipo de político hipócrita que, num país cuja elite vive de odiar, sente-se com força para disseminar suas agendas malignas. É um tosco e ridículo, imprestável e beócio, mas Mussolini também o era.

E antes de terminar dependurado pelo pescoço numa praça pública, engolfou a Itália numa guerra interna e externa fraticidas.

O Brasil nunca foi numa nação.

Somos apenas um ajuntamento de povos.

Nossa única unidade real é a língua com seus variados sotaques (estes, não por acaso, também objeto de ódio de quem imagina haver um sotaque “bonito” ou “feio”).

O ódio que saiu do armário é apenas a prova disso.

Ele demonstra como a ideologia de classe está por trás dessa realidade: se você nasce numa camada social miserável ou de baixa renda, os reacionários querem que você fique por lá mesmo.

O ódio sempre deseja uma causa para alimentar sua malignidade: o comunista de ontem é o petista de hoje, e a tática perfeita foi a velha cantilena do “combate à corrupção”.

O ódio é tão irracional que por si mesmo se esgota.

A prisão imoral e ilegal do ex-presidente Lula, creio, é a “razão insana” desse epílogo.

Ainda que esse ódio consiga impedir a candidatura de Lula à presidência (esta é a Parte II do golpe de Estado de 2016) por meio de novas manobras infames de tribunais de exceção (o STJ e o TSE já estão à espera com suas sentenças prontas para despacho, tenham certeza), sua virulência vai amainar pelo cansaço próprio de quem odeia.

Não sabemos o que advirá daí.

Já nos basta saber que vivemos numa terra arrasada.

Roberto Numeriano é jornalista, professor, pós-doutor em Ciência Política, autor do livro “O Que é Golpe de Estado” (em coautoria com Mário Ferreira) e pré-candidato a deputado estadual pelo Avante.