Lala Deheinzelin, futurista e especialista em novas economias, fez uma das palestras mais instigantes do evento Conexão Sustentável, realizado pelo RioMar, nesta terça-feira (28), no teatro do centro comercial no Recife.
Em síntese, com sua palestra, a pensadora tentou passar a mensagem de que a sustentabilidade exige um novo olhar sobre o modo como as coisas são produzidas ou consumidas e que quem não atentar para este fenômeno ficará no limbo.
Ela começou a palestra propondo “colocar uma pulga atrás da orelha” em cada um, mas depois entregou o jogo. “Não estamos em crise.
Estamos vivendo uma fase de transição”, declarou.
Em sua reflexão, a pesquisadora defende ser possível se preparar para o amanhã a partir da compreensão do agora.
Em linhas gerais, o mundo conectado em rede não possui tempo e nem espaço e desafia a humanidade a sair do plano linear e limitado para uma realidade tecnológica e colaborativa. “Precisamos fazer convergir recursos e inteligência.
Temos uma visão comum, integrada.
O desafio de chamar mais uma pessoa para este novo jeito de estar no mundo colaborativo.
Não seria necessário muito tempo.
A gente é que não acha possível.
Não tem nada nos segurando a não ser a nossa crença na impossibilidade”, declarou, mostrando na tela a imagem de um asno preso a uma cadeira por uma corda.
Em outro momento de provocação, para chamar a atenção das pessoas para a necessidade de colaboração e de como a mudança de pensamento representa inovação e novos usos, ela perguntou aos presentes se elas imaginavam quantas furadeiras existiriam nos prédios onde moravam. 100, 200, 300, não importa o número exato. “Nós não precisamos das furadeiras.
Nós precisamos fazer um furo (eventualmente, em uma das paredes)”, citou, como símbolo. “Ai vem um app que aluga coisas como furadeiras para pequenos consertos no lar”. “Fluxologia é isto: conhecer os meios e convergir no que for possível”, disse.
Nesta nova economia, a pesquisadora frisa que o comportamento das pessoas deve mudar de lógica, passando do possuir para o usar ou compartilhar. “Não precisamos de mais infraestrutura e sim de compartilhar.
Conectar quem tem a quem precisa”.
Lala Deheinzelin também observou que estas mudanças exigem das empresas uma nova orientação, em que se deve abandonar o processo centralizado.
Ela defende que o novo modelo deve ser agir em rede, com a distribuição de responsabilidades em vários gerentes. “Um estudo da federal do RS mostrou que temos um país de desperdícios.
Nós precisamos desburocratizar e distribuir a gestão.
Vejam o caso da Estônia, que saiu do bloco soviético.
Eles lá não têm representantes.
Com o uso de computadores, eles votam no orçamento”, citou.
A análise dos resultados também deverá mudar, em um mundo 4d. “Precisamos ver os recursos e os resultados além do aspecto monetário” “O PIB só mede consumo, e por isto é burro.
Não temos hoje métrica hoje para o intangível.
O problema de olharmos apenas o valor da moeda é que vamos acabar, como acontece todo tempo, com a falsa ideia de que não tem dinheiro para todo mundo.
Precisamos de fluxos interdependentes, pois somos interdependentes”, afirmou.
As pessoas precisam acreditar que é possível Na palestra, a pesquisadora perde algum tempo, reconhecendo que o mundo atual leva a algum desencorajamento, mas que é preciso ir além.
Ela cita que os processos hoje em dia se dão graças à tecnologia, de modo exponencial, impedindo que você leia até mesmo todas as mensagens de sua caixa de mails. “Como não somos exponenciais, dá uma angustia.
Os nossos corpo têm limites, o tempo, o planeta.
Não dá e agora, o que vou fazer?.
Não tem como dar conta, é um pensamento recorrente.
Como ser exponencial também?
Ai é que entra o fator colaboração.
Vamos fazer juntos?
O problema é que não fomos preparados para isto.
Fomos preparados para desconfiar (um dos outros).
Ocorre que a tecnologia nos permite convergir e colaborar.
Vejam o caso do site Duolingo.
A tecnologia é meio e não fim em si mesma.
Devemos sair do high tech para o high touch”, comenta. “Neste contexto, ser sustentável é deixar de guiar o carro, olhando pelo retrovisor. É criar futuro, espalhando sementes de desejo que floresçam.
Pensar em um ‘futuro desejável’ é algo criativo e motivador.
Falar em um ‘futuro possível’ é algo reativo e empobrecedor.
A gente não sabe que é possível.
A gente deve sempre se perguntar e se?
Porque não?”, defendeu.
Como sair do provável para o possível?
Efeitos na representação política A palestra de Lala Deheinzelin pode ter dado um ânimo até mesmo às pessoas que estão desmotivadas com a política, nos dias atuais.
Ela defende que, exatamente como aconteceu com as mudanças da época da escravidão para a República, trazendo novas formas de representação, o mesmo vai acontecer agora na esteira da nova democracia digital direta, das novas economias. “O mundo em rede é outro mundo.
Uma dimensão acima, fora do tempo e do espaço…
Assim, o jeito de funcionar da política também vai mudar”, citou, falando em um desejável mundo novo. “Não é crise, estamos passando pela maior transição da humanidade.
Na planolândia, vivemos em um mundo 2d (duas dimensões, frente ou costa, esquerda ou direita).
As pessoas que já adotaram a terceira dimensão (3d) já foram chamadas de loucas ou messias.
Hoje, com as novas economias, vivemos a revolução 4d (quatro dimensões), onde impera a tecnologia e a colaboração, os fluxos interdependentes constantes”, exemplificou.
TCCs na gaveta O momento mais desconcertante ocorreu quando a pesquisadora pareceu provocar o acadêmico Clementino Coelho Júnior, que havia falado na abertura dos trabalhos.
Ela falava dos TCCs das faculdades da vida. “Ao invés de abstrações que vão parar na gaveta (os TCCs), poderíamos focar dois anos de trabalhos (dos alunos, dos estudantes) em algo que não vai ser em vão”.
Ela falava de convergência e do paradoxo dos tempos modernos. “Quanto mais se avança, mais se diverge”, afirmou. “As mudanças, os novos processos precisam estar não apenas disponíveis, mas acessíveis.
O nosso drama é que não somos bons em comunicação.
Conhecimento, computadores em rede, tempo, precisamos colocar tudo isto em um mecanismo de convergência (de modo que funcione para todos)”, observou, citando como exemplo o sistema de colaboração do Wikipedia e Duolingo.
Manifesto Na esteira das palestras, o RioMar lançou um manifesto pela sustentabilidade, questionando a todos sobre o que poderiam fazer hoje pelo amanhã mais sustentável.
Também defende trabalhos conjuntos, racionalização e reuso, para a fundação de um novo tempo. “Os exemplos devem começar com a nossa atitude hoje.
Somos protagonistas do coletivo”, conclama.
Lala Deheinzelin elogiou a iniciativa, observando que o centro comercial, na verdade, era um grande ’espaço de convivência'.
Manifesto Pensar no amanhã sustentável, hoje: A oportunidade de mudar o futuro começa agora, afinal cada passo que damos define o caminho com o futuro sustentável da humanidade.
Estamos fazendo hoje, pelo futuro de todos nós: Somos sustentáveis quando trabalhamos juntos e agimos dia a dia com o pensamento que nos leva a envolver pessoas, meio ambiente, criatividade e hospitalidade.
O que podemos fazer pela sustentabilidade ambiental juntos?: Racionalizarmos recursos naturais e materiais, reduzirmos nosso consumo de energia e nos preocuparmos com o processo de produção, operação e descarte de resíduos gerados diariamente pelos nossos empreendimentos.
O exemplo começa com a nossa atitude, hoje: Compreendemos que somos todos protagonistas do coletivo, capazes de construir uma sociedade que se completa e respeita o outro e a natureza.
Construir juntos um amanhã sustentável ainda melhor: Dialogar constantemente com nossos fornecedores, colaboradores e empresas parceiras buscando soluções inovadoras, poderemos alcançar a melhoria continua de nossas atividades.