Aline Corrêa viveu em Campinas (SP) por mais de 20 anos, quase o mesmo período em que o pai dela, Pedro Corrêa, ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados e foi cassado em 2006 com o escândalo do Mensalão.
Já atuando nas bases do PP, partido fundado por ele, foi eleita no mesmo ano deputada federal por São Paulo, longe do pernambucano. “Quando nasci, meu pai não queria filha”, já afirmava na época e repetiu ao Blog de Jamildo nesta sexta-feira (23).
A entrevista foi no mesmo dia em que anuncia pré-candidatura a uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado de onde saiu aos 21 anos.
Para a Casa, quer levar a bandeira do municipalismo, que atribui ao ex-governador Eduardo Campos (PSB) e ao pai, que acompanha a articulação da filha do apartamento à beira-mar no Recife onde cumpre prisão domiciliar pela Operação Lava Jato.
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Há três anos, voltou a receber sentença por corrupção.
Em sua delação premiada, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado, acusou o ex-presidente Lula (PT). “Não sou nenhum santo, sou um político da minha geração”, afirmou em entrevista ao jornal O Globo há dois meses. “Eu faço política numa geração diferente da dele”, diz Aline Corrêa. “As comparações sempre vão existir, mas em São Paulo eu consegui ser Aline.
Aos poucos, as pessoas vão me dar oportunidade”, afirma ainda. » Tribunal Federal aumenta pena de Pedro Corrêa em nove anos » Pedro Corrêa relata ligação de Lula a diretor da Petrobras por propinas ao PP » Fachin homologa delação do ex-deputado Pedro Corrêa » Genro de Pedro Corrêa é preso em nova fase da Lava Jato A ex-deputada federal afirma que deve diferenciar os papéis como filha e como cidadã. “Existe a Aline filha, que é apaixonada pelo pai.
Ele era muito autoritário sempre, mas sempre foi muito família e, com tudo isso (condenações e prisões), nunca perdeu a unidade”, explica.
Por outro lado, afirma que vai defender “aquilo que a sociedade quer”, citando a reforma eleitoral e mudanças no financiamento de campanhas. “Posso te garantir que a gente não enriqueceu na política.
A gente viu pessoas que tinham milhões de dólares.
Se a gente for na ponta do lápis, meu pai empobreceu na política”, defende. “A gente sempre diz a ele: ‘pai, se isso tudo servir para melhorar o Brasil, ótimo’.
Ele sempre está muito sereno”.
Foto: Gilberto Nascimento/Agência Câmara Sobre a candidatura, ela diz que Pedro Corrêa “não pode estar presente, mas é uma pessoa que vibra”.
Na entrevista ao Globo, o ex-deputado admitiu que tem vontade de voltar à Câmara, para onde a filha não tem interesse de ir por querer concluir o curso de direito, retomado em 2016.
Quando se candidatou pela primeira vez, em 2006, ela recebeu apenas 11.132 votos, mas foi eleita pelas beneficiada pelos resultados de Paulo Maluf (739.827 votos) e Celso Russomano (573.524 votos).
Em 2010, teve 78.317 votos.
Já em 2014, pouco antes de o pai afirma ter desistido por uma renovação no partido, para retirar Maluf e Russomano do comando.
Aline Corrêa diz ainda ter “crescido como humana” com as prisões do pai e critica os presídios de Pernambuco, onde ele ficou até que a Lava Jato o levasse para Curitiba. “Independente das questões, temos um pai que passou por seis presídios.
Tinha que levar comida, remédios”, afirma. “São indústrias do mal”, denuncia.
Para ela, o caso serviu de exemplo para refletir sobre a questão carcerária.
Em Pernambuco, há cerca de 30 mil presos para 11 mil vagas.
Propostas para voltar a Pernambuco Uma das propostas de Aline Corrêa para tentar se eleger, além de inovação tecnológica e educação, é o que considera um legado do pai, o municipalismo. “Ele sempre defendeu os prefeitos, a divisão para que o recurso chegasse a todos os cantinhos de Pernambuco, todos os rincões do Estado, que o recurso federal chegasse. É muito lembrado no Sertão do Araripe e do Moxotó, fez amigos de foi um deputado eficiente. É um legado que admiro, de compromisso com o parceiro local, de recursos”, disse. » Pedro Corrêa rebate Lula e exibe fotos com o ex-presidente a Moro » Pedro Corrêa diz que bancada de deputados escolheu operadores de propinas » Propina de R$ 1 milhão para Gleisi foi no ‘fio do bigode’, diz Pedro Corrêa » Turbulência: Pedro Corrêa mentiu para tentar proteger políticos do PP de Alagoas e encobrir esquema de desvios da Petrobras, diz MPF “Os prefeitos estão quebrados”, reclamou, cobrando uma discussão nacional sobre o pacto federativo.
A irmã dela, Clarice Corrêa, é ex-vice-prefeita de Brejo da Madre de Deus pelo PP.
A primeira comemoração do aniversário de Aline, que coincide com o lançamento da pré-candidatura, é no município. “Fui criada lá, meu avô e minha avó se conheceram lá, tem toda uma história”, explica.
Haverá também uma festa no domingo (25), dia em que ela completa 45 anos, em Campo Grande, bairro da Zona Norte do Recife.
Foto: Saulo Cruz/Agência Câmara - Foto: Saulo Cruz/Agência Câmara Foto: Gustavo Lima/Agência Câmara - Foto: Gustavo Lima/Agência Câmara Aline Corrêa | Foto: Brizza Cavalcante/Agência Câmara - Aline Corrêa | Foto: Brizza Cavalcante/Agência Câmara A ex-deputada federal afirma que voltou para Pernambuco sem interesse de continuar no cenário político, mas defende que a solução para as crises no Brasil seria pela política. “Depois de tudo isso que a nossa família passou, que o País está passando, tem que ser para quem é vocacionado.
Eu sou uma um ser político”, diz. “Eu já sou uma pessoa testada nas urnas.
Não é fácil, o eleitor não está querendo ouvir falar de política.
Mesmo com todo esse sofrimento que a gente passou, eu acredito que é pela política, pela democracia”.
Recepção de legado de Pedro Corrêa no PP Se for eleita, Aline Corrêa quer fazer alianças com deputados federais para captar verba para Pernambuco. “Meu proposito cuidar das pessoas.
Tem que pensar que o Estado, no papel, está bem, mas, na realidade, o Estado está doente”, afirmou.
Entre os deputados federais do PP, Eduardo da Fonte é o presidente estadual do partido.
Com ele, Aline Corrêa diz não ter proximidade política, mas ter construído uma relação de colega quando estava na Câmara.
Hoje, segundo ela, é de filiada para presidente da legenda. “A relação dele com meu pai não era boa, era de opostos, de adversários”, lembrou. » Dodge rebate defesas e volta a acusar PP de organização criminosa » Prioridade do PP é o Senado, com Cleiton Collins ou Eduardo da Fonte » Chapa de Paulo Câmara terá Cleiton Collins, João Paulo e Jarbas » Fernando Monteiro já escreve carta de despedida do PP, de Eduardo da Fonte O parlamentar tem articulado a ampliação dos quadros do PP, para aumentar o número de cadeiras na Assembleia Legislativa.
Hoje, a sigla já tem a terceira maior bancada, com seis deputados estaduais.
Além disso, cresceu no governo Paulo Câmara (PSB), que entregou duas secretarias em busca de apoio do partido que tem o quarto maior tempo de televisão na campanha.
Em meio às negociações, Eduardo da Fonte tem divulgado fotos com os pré-candidatos, mas não falou publicamente ainda sobre Aline Corrêa.
Questionada, a ex-deputada não comentou a recepção à sua pré-candidatura e disse que caberá ao diretório estadual definir a lista de quem estará na disputa. “Não acredito que vá ter resistência ao meu nome”, prevê.
O Blog de Jamildo tentou entrar em contato com Eduardo da Fonte, que respondeu que estava no elevador e retornaria, mas não atendeu às ligações seguintes.
Não está na agenda dele a ida ao evento em Brejo da Madre de Deus.