A Octapharma, empresa envolvida na polêmica sobre o ministro da Saúde, Ricardo Barros, e a Hemobrás, será fornecedora da estatal de hemoderivados.

Ao contrário do que previa a articulação anterior de Barros, o contrato envolvido desta vez não é o do medicamento que tem alto valor agregado, mas o fracionamento do plasma.

Após fechar uma parceria para a transferência da tecnologia com o laboratório, assinada pelo presidente Michel Temer (MDB) nesta sexta-feira (23), em Goiana (PE), foram anunciados R$ 642,9 milhões para concluir a fábrica.

O imbróglio envolvendo a Hemobrás começou no ano passado, quando Barros anunciou que estava negociando com a Octapharma a transferência da tecnologia de produção do fator VIII recombinante, medicamento usado no tratamento de hemofílicos, para o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), seu reduto eleitoral.

Hoje, a Hemobrás tem uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) com a Shire, que prevê a compra do recombinante e a transferência para que passe a ser produzido na planta de Goiana em 2023.

Em Goiana, nesta sexta-feira, o ministro assegurou que a parceria com a Shire está mantida.

Através da negociação, a Octapharma substitui a empresa francesa LFB, que tinha o contrato para o fracionamento do plasma.

LEIA TAMBÉM » Hemobrás: Justiça suspende cobrança de multa do Ministério da Saúde » Ministério da Saúde quer ressarcimento por compra pela Hemobrás » Hemobrás: MPF aponta má-fé de ministro e pede compra de medicamento » MPF pede novamente o afastamento do ministro da Saúde por descumprir decisões sobre a Hemobrás » Paulo Câmara e Temer entram em entendimento e União assegura R$ 200 milhões para a Hemobrás no OGU Com o novo acordo, o Tecpar terá a função de gerir o plasma colhido na região Centro-Sul e Sudeste do País, além do processamento inicial, logística e o controle de qualidade e envase do produto.

A Hemobrás ficará com o processamento efetivo, a gestão do plasma do Norte e do Nordeste, o fracionamento e o envase de seis hemoderivados: albumina, imunoglobulina, fatores de coagulação VIII e IX plasmáticos, fator de von Willebrand e complexo protrombínico.

Do total de investimentos, R$ 195,5 milhões foram do Ministério da Saúde; R$ 101,1 milhões da Hemobrás e R$ 346,2 milhões da Octapharma.

Recombinante A articulação de Barros para levar para o Tecpar a produção do recombinante, prevista no contrato da Hemobrás com a Shire, foi suspensa por intervenção do presidente Michel Temer (MDB), a pedido dos ministros pernambucanos e da bancada do Estado no Congresso.

Apesar disso, o ministério chegou a romper o acordo com a Shire unilateralmente, alegando ausência de investimentos.

A empresa conseguiu, porém, uma decisão da 4ª Vara Cível do Distrito Federal mantendo o contrato.

Acusando a pasta de não cumprir a decisão judicial, o Ministério Público Federal (MPF) chegou a pedir duas vezes o afastamento de Barros.

A compra foi anunciada este mês, sob protestos do governo, que alegou estar pagando mais caro pelo medicamento da Hemobrás.

A fábrica em Goiana custou até agora cerca de R$ 1 bilhão e precisa de mais R$ 600 milhões para concluir os 30% restantes.