Adamastor Muniz, em artigo enviado ao Blog de Jamildo “Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?”, consta na obra do grego Sófocles sobre o enigma da esfinge, o quebra-cabeça mais famoso da história.

As caravanas de Pernambuco até São Paulo, para reuniões com o líder maior da esquerda brasileira, também estão se deparando com um enigma de uma “esfinge” nascida em Caetés (PE).

Seja a caravana do PSB, liderada pelo governador Paulo Câmara (PSB) e pela viúva Renata Campos, seja a do PT de Pernambuco, ambas foram muito bem recebidas por Lula.

Há tempo para longas conversas, cafezinho, fotos e redes sociais.

As tão buscadas palavras de definição, contudo, não são ditas pelo ex-presidente petista para ninguém.

A verdade é que o Lula de 2018 não é o mesmo Lula de 2017.

O ex-presidente passa por um momento de redefinição pessoal, premido pela “força” da Lava Jato.

O ano de 2018 começou com seguidos “desastres” para a liberdade de ir e vir do petista.

Todos oriundos do Judiciário.

Primeiro, a confirmação da condenação de Moro pelo TRF4, acompanhada de um surpreendente aumento da pena para 12 anos pelos desembargadores.

O STJ, em seguida, negou um habeas corpus preventivo para evitar a prisão de Lula, com uma unanimidade coesa dos cinco ministros que decidem sobre o assunto no tribunal.

No STF, há o silêncio da ministra Cármen Lúcia, que se recusa a pautar quaisquer ações que possam livrar Lula da prisão.

A pauta de abril do STF, inclusive, já foi divulgada pela ministra Cármen, sem nenhuma ação que favoreça o petista.

A contratação do ex-presidente do STF e ex-procurador geral da República, Sepúlveda Pertence, como advogado em Brasília para livrar o petista da prisão, também não surtiu qualquer efeito aparente.

A perspectiva atual, apontam juristas ligados ao próprio PT, é que Lula possa ser recolhido à cadeia até o fim de março ou início de abril, assim que o TRF4 negar os embargos de declaração de Lula, último recurso que cabe naquele tribunal.

Paulo Câmara, Humberto, Marília e Renata Campos, ao menos aparentemente, não estão percebendo que a esfinge de Caetés tem uma prioridade única em 2018: não ir para a cadeia.

Um estado de espírito muito diferente daquele das visitas de Lula a Pernambuco, ainda em 2017, quando chegou até a fazer uma visita “de amizade” à casa de Renata Campos.

Em 2017, o ex-presidente estava em seu estado natural de “animal político”.

Articulações partidárias e conversas sobre alianças eram sua “adrenalina”, a sua “cachaça” sem trocadilho.

Hoje, em 2018, Lula é um senhor de mais de 72 anos que está literalmente contando os dias de ir para a cadeia.

Qualquer ser humano, nesta situação, não tem tempo de se preocupar com a situação “paroquial” do longínquo Estado de Pernambuco.

Quanto mais tempo de fechar uma aliança que mexe com tantos “pontos delicados”, como seria uma aliança com Paulo Câmara.

O PSB, como prova matematicamente o deputado Sílvio Costa (Avante), foi o partido que realmente definiu o impeachment contra Dilma (PT), para citar apenas um dos “pontos delicados” desta aliança.

Paulo Maluf, ex-governador do maior Estado da federação, ex-prefeito da maior cidade e atual deputado federal presidiário, não teve escapatória mesmo com os melhores advogados e acesso até ao STF.

Maluf, apesar de ser um legítimo membro da “fina flor” da elite empresarial e familiar brasileira, está cumprindo fielmente sua pena em regime fechado.

Aos 86 anos de idade!

As imagens de Paulo Salim Maluf, aos 86 anos e na cadeia, certamente causam impacto, seja ele culpado ou inocente, na visão do espectador. É por este tipo de preocupação, que acompanharia qualquer ser humano do momento de acordar até a hora de dormir, que Lula não tem tempo para resolver alianças políticas locais.

Estas visitas “chatas” de Pernambuco são toleradas apenas para manter as “pontes”, preservar as aparências e “cultivar” as amizades (no caso do PSB), para um eventual momento de necessidade futura.

Vontade de decidir algo ou fechar algum acordo inexiste. É zero. É uma situação bem diferente da escolha do Plano B do PT para o Planalto, caso Lula seja impedido de ser candidato a presidente.

A escolha de um candidato é fundamental na vida futura de Lula.

Até porque, se for preso e mantido assim, precisará de alguém de confiança como candidato, para defendê-lo no guia eleitoral e nos debates.

Um Haddad, para incitar o povo a clamar por sua libertação.

Sintomática, neste sentido, foi a benção em vídeo de Lula ao candidato do PSOL, Guilherme Boulos, que se dispõe a defender Lula e a proclamar que a eventual prisão do petista seria “política”.

Deste modo, Lula empurrará “com a barriga” estas definições menores locais, como a situação de Pernambuco, que ficam completamente submetidas à conveniência do ex-presidente ser ou não preso.

A legislação eleitoral de 2018 prevê que as convenções partidárias serão entre 20 de julho e 5 de agosto. É o prazo final para Lula, se até lá ainda puder “bater este martelo”, decidir se o PT de Pernambuco vai de Marília ou de Paulo Câmara.

Muito antes desta data, contudo, Lula já vai ter a definição sobre a prioridade única de seus pensamentos, a sua prisão.