O Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas promove a quarta edição do “Seminários IPESPE” no dia 10 de abril, das 14h30 às 16h, no auditório do Empresarial Cervantes.
O tema do bate-papo, que será aberto ao público, é “Impacto Eleitoral do Julgamento de Lula”.
Na mesa de debate, o doutor em Ciência Política pela University of Essex, Inglaterra, com pós-doutorado na University of Westminster, Inglaterra, Joanildo Burity.
Além dele, haverá ainda a participação do doutor em Economia pela University College London e professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco, Tarcisio Patrício de Araújo.
Antes do evento, ele comentou o tema para o instituto.
Veja abaixo, com exclusividade.
Como o senhor enxerga o futuro político do pré-candidato Lula, condenado, em segunda instância, a 12 anos e 1 mês de prisão pelo TRF-4, no Caso do Triplex do Guarujá?
O futuro político do ex-presidente Lula pode ser descrito por uma expressão matemática em que o benefício, em termos de biografia pessoal (B) – se ele houvesse se portado como estadista e aproveitado chances, contribuindo para mudar o país – se tornou “B” multiplicado por -1, portanto –B: reverso do primeiro.
Além da atual condenação, terá pelo menos mais uma (Sítio Atibaia), e segue como figura caricatural em busca de uma biografia salvadora, o que inclui expedientes patéticos como o da pretendia proposição do nome dele para Nobel da Paz, por Adolfo Perez Esquivel, 87 (argentino, arquiteto e militante da causa dos direitos humanos, Nobel da Paz 1980).
Mas imaginar que Lula poderia ter se tornado um estadista é mero exercício para se qualificar a questão.
De fato, há evidências claras de que Lula e alguns dos principais próceres do PT sabiam o que faziam, pois praticavam esquemas nada republicanos já no início dos anos 1990, em prefeituras petistas do ABC paulista.
E quando assumiu a presidência, Lula já tinha pleno conhecimento do esquema Odebrecht, atuante há pelo menos 40 anos e magnificado na era PT, com prestigiosa participação do PMDB.
Os objetivos, supostamente “revolucionários” no discurso de José Dirceu e outros, já estavam bem definidos.
Sob a capa do “desenvolvimentismo”.
Qual a sua expectativa para 2018?
Quem pode despontar no cenário presidencial?
O Brasil tem seu Berlusconi, que na Itália continua reinando na política – embora inelegível.
Portanto, Lula – nosso Berlusconi – ainda mexe com expectativas e pesquisas eleitorais.
Quando ficar claro que ele é carta fora do baralho, o intragável Jair Bolsonaro perderá parte dos votos que carreia.
E se Luciano Huck eventualmente voltar ao palco, parte dos votos lulistas irá pare ele.
Abundam os “se”.
Alckmin tem rejeição tão grande no Nordeste que necessitaria de grande predomínio no Sudeste e no Sul.
O campo para apostas é arriscado, com grande margem de erro.
Marina, que em princípio poderia herdar votos desse grande vácuo que toma o Brasil, não parece ter fibra nem antena para aproveitar momentos.
O errático Ciro Gomes é, na minha opinião, um perigo, porque muito esperto.
Vamos ter que esperar mais meses para ter quadro menos indefinido.
E meses em cenário eleitoral podem significar muito tempo.
Quais motivos que levam o pré-candidato Jair Bolsonaro, recém-ingresso no PSL, a ser um dos favoritos na disputa?
Primeiro, o vácuo.
Falta uma liderança convincente, alguém com jeito de grande personagem para o momento.
Ademais, estamos ainda saindo, lentamente, de uma crise econômica grave e profunda – de produção doméstica, não podemos culpar o “estrangeiro”; a crise foi um presente do PT e do lulismo, na fase final encarnados na medíocre figura de Dilma.
Crise econômica e corrosão social aumentam a insegurança.
Violência, insegurança, e a vitrine Rio de Janeiro constituem fatores para fazer parte da população crer em solução militar.
Bolsonaro seria tal solução, sem golpe.
Mas a solidez eleitoral de Bolsonaro está diretamente vinculada à ausência, por enquanto, de alternativa que leve o Brasil a melhor rumo; além disso, esse cidadão saudoso da ditadura em que tomou parte ativa também é personagem da crônica policial: se for mais adiante o processo por incitação ao estupro de mulheres, ele pode murchar em termos de intenções de votos.
Como já disse, abundam os “se’.
Caso Lula não consiga ser candidato, para quem, na sua opinião, os votos dele podem migrar?
E por quê?
Marina e Ciro Gomes seriam, a meu ver, os principais herdeiros de parte de votos de Lula – associados a pessoas simpáticas à via da esquerda.
Mas se um novo candidato presidencial surgir, que ajude a preencher o vácuo, esse será o maior herdeiro.
Um bom candidato que representasse o centro da política – com a devida distância da esquerda sindicalista, estatista, e da direita mais ideológica, duas alternativas que tendem mais para o conservadorismo.
Um bom candidato de centro pode ser um vetor de transformação, de mudanças.
Mas o país precisará de muita sorte para isso.
A saída da crise vai estar no resultado das Eleições 2018?
Deveria.
Na verdade, estamos lentamente saindo da crise.
Teremos sorte se o novo governo for capaz de articular interesses em torno de mudanças nos campos fiscal, patrimonial (privatizações), previdenciário, tributário, de renovação do sistema de agências reguladoras e de instituições de defesa do cidadão.
Já passou da hora de o país partir para finalmente fazer uma revolução capitalista no Brasil.
Parece que poucos se lembram de que, de 1981 até hoje a economia brasileira ainda não reencontrou o caminho do crescimento sustentado.
Ou seja, depois de meio século de crescimento de quase 7% ao ano (1930-1980), estamos completando quarenta anos com crescimento médio anual que pouco passa de 2%.
E o país precisa fazer a esperada revolução educacional, o que obviamente requer sucessão de vários governos sem desperdício de oportunidades e a sociedade com participação ainda mais ativa nesse processo.