Estadão Conteúdo - Com a possível saída do jogo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado a 12 anos e 1 mês de prisão e inelegível segundo a Lei da Ficha Limpa, o pré-candidato ao Palácio do Planalto Jair Bolsonaro (PSC-RJ) definiu novos alvos para continuar vivo no debate eleitoral.

O deputado e sua rede de apoiadores já miram suas críticas no ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE), no senador Álvaro Dias (Podemos-PR), além do governo Michel Temer.

A mudança de postura de Bolsonaro é perceptível nas redes sociais.

Isso ocorreu a partir de 24 de janeiro, quando Lula foi condenado em segunda instância no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre.

A estratégia dos movimentos “intervencionista” e de “direita”, que formam a rede de Bolsonaro na internet, é barrar o avanço de Ciro e Álvaro Dias no eleitorado conservador.

Nas últimas semanas, os grupos divulgaram mensagens como “Ciro Gomes defende (Nicolás) Maduro”, numa referência ao presidente venezuelano, e “Álvaro Dias é comunista”.

LEIA TAMBÉM » Bolsonaro processa Ciro Gomes por calúnia e injúria » Bolsonaro deixa Alckmin e Lula para trás em São Paulo, diz pesquisa » Para Lula, Temer quer disputar reeleição e ‘pegar’ eleitores de Bolsonaro » Temer investe em nova agenda e Bolsonaro reage Da bancada do PR, o deputado Capitão Augusto (SP), que trabalha para que Bolsonaro se filie ao partido, avaliou que uma possível saída de Lula da disputa levará a uma reavaliação de posicionamento de Bolsonaro. “É mais fácil bater no Lula, que é o chefe da quadrilha, claro.” Ao mesmo tempo, os adversários de Bolsonaro tentam desconstruir alguns discursos do parlamentar.

Em entrevista à Rádio Jovem Pan, Ciro afirmou que o concorrente é um “moralista de goela” e fez “lavagem de dinheiro” ao receber pelo PSC um depósito de R$ 200 mil da JBS para sua campanha de 2014.

Bolsonaro, que havia devolvido os recursos, entrou com processo por calúnia e injúria.

Alvo de ataques indiretos nas redes, a pré-candidata ao Planalto Manuela D’Ávila (PCdoB) disse não se preocupar. “Os boatos sempre existiram nas eleições”, afirmou. “O Bolsonaro é um ególatra clássico.

Ele não quer me atacar não por ser benevolente, mas porque tenta reverter a imagem consagrada de machista”, disse Manuela. “Bater na Manuela não é a mesma coisa que bater na deputada Maria do Rosário (PT-RS)”, afirmou o deputado Alberto Fraga (DEM-DF). » Bolsonaro articula apoio na Câmara contra isolamento » Bolsonaro faz queixa por injúria e calúnia contra Jean Wyllys no STF » Eunício questiona ‘emocional’ de Bolsonaro para cargo de presidente A dificuldade de manter a polarização com Lula, até agora líder nas pesquisas de intenção de voto, é mais um obstáculo que Bolsonaro terá de enfrentar.

Aliados avaliam que ele também precisa superar a fragilidade nos discursos econômico, social e até da segurança pública, agora encampado pelo governo e repercutido nos discursos de adversários eleitorais.

Para os aliados, o parlamentar teve posicionamento dúbio sobre a intervenção na segurança pública do Rio, ora atacando, ora defendendo, o que teria permitido o fortalecimento do discurso na boca de adversários.

O posicionamento dele na área econômica também voltou a ser colocado em xeque. » Bolsonaro une líderes da PM que eram adversários em Pernambuco » Datafolha: Nos cenários sem Lula, Bolsonaro lidera com 18% a 20% » ‘Tiro de .50 na corrupção’, diz Bolsonaro por condenação de Lula » Dizem que somos violentos, mas não falam de Bolsonaro, afirma Gleisi No Fórum Estadão - A Reconstrução do Brasil, promovido nesta semana pelo jornal O Estado de S.

Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso questionou se Bolsonaro tem, como acha, pensamento liberal.

No Twitter, o pré-candidato respondeu que o ex-presidente deslocou o cérebro para o intestino. “Bolsonaro é o único candidato contra o establishment”, afirmou o presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), ao comentar o uso do termo em inglês que designa grupos que têm o controle da economia e da política.

Bivar prepara a filiação de Bolsonaro ao PSL.

Procurada, a assessoria do deputado afirmou que ele só falará sobre o assunto quando retornar do Japão, onde passou os últimos dias.

Segundo assessores, Bolsonaro deverá voltar a discutir as estratégias de campanha a partir da semana que vem com o seu grupo.