Por Gaudêncio Torquato, em maiol enviado ao blog Não poderia haver evento mais útil aos propósitos do PT do que o julgamento do recurso de defesa de Lula pelo TRF-4, que manteve a condenação por 3 a 0 e elevou a pena para doze anos e um mês na última quarta-feira.
O partido carecia de um grande motivo para reanimar a militância, nos últimos dois anos afogada na borrasca provocada pela Operação Lava Jato.
Lula se compara a Tiradentes ou Mandela, sem rubor na face, para assim embalar o partido, temeroso da própria existência por ocasião do mensalão.
Lula era e continua a ser o elo que une as alas do partido, pelo carisma e por ser o principal puxador de votos do país.
Apesar da punição severa, ele seguirá na trilha da candidatura, vestindo o manto de vítima das elites, agora engrossadas pela elite de toga do Judiciário.
Só assim o PT ganha um Cristo caminhando ao Calvário.
A campanha se desenvolverá sob um clima de alta tensão, fomentada por contingentes barulhentos, entre os quais os exércitos da CUT e do MST, este último com disposição de fechar rodovias e invadir propriedades, na esteira de recomendações de quadros petistas, com destaque para a presidente do partido, Gleisi Hofmann, e o senador Lindberg Farias, incitando a militância a pegar em armas contra os inimigos e a tomada do poder pela violência.
Consiga ou não virar candidato até 17 de setembro, data limite para a garantia de presença nas urnas, Lula preencherá a planilha de necessidades que o PT planejou: reacender as fogueiras do petismo, puxar um cordão de candidatos proporcionais nos Estados e, quem sabe, até voltar a eleger governadores.
Se Lula for impedido de ser candidato, seu eventual substituto acabará entrando na tuba de ressonância construída pelo julgamento dos juízes de Porto Alegre e poderá puxar razoável baciada de votos, principalmente nos rincões do Nordeste, região que detém 27% dos votos do território.
Sem Lula como candidato, a tão esperada polarização entre ele e Bolsonaro, pela extrema-direita, perde força, sendo provável o impulso a ser dado ao candidato do centro, principalmente se o governador de São Paulo Geraldo Alckmin canalizar as forças encasteladas nas áreas de centro-direita e centro-esquerda.
Alckmin teria de ganhar uma boa avaliação em São Paulo, que detém mais de 33 milhões de eleitores, o maior eleitorado do país.
E ainda sentar praça no Nordeste, onde é pouco conhecido.
Esse cenário não abrigaria, portanto, outras candidaturas centrais, como a de Henrique Meirelles ou a de Rodrigo Maia, situação que produziria dispersão de votos.
Maia é um bom articulador político e Meirelles poderia canalizar os feitos na economia, mas sua figura não empolga. Álvaro Dias, que habita também o centro, não teria votos suficientes para se tornar o principal protagonista do terreno.
Nessa condição, poderia estar Luciano Huck, caso induzido a entrar na arena.
Sabe-se que esconde uma carta nas mangas, a soltar lá pelos meados do semestre.
De qualquer maneira, voltando ao PT, é possível concluir que não será desta vez que o partido PT será batido fragorosamente.
Lula, mesmo não sendo candidato, será o responsável pela sobrevida do petismo.
Se vier a ganhar os recursos jurídicos, o clima de polarização reacenderá a fogueira entre “nós” e “eles”.
Ainda assim, a vitória do PT seria a alternativa menos provável.
Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP é consultor político e de comunicação.