“Lamentavelmente Lula se corrompeu”.
Afirmou nesta quarta-feira (24), durante o julgamento do ex-presidente Lula (PT) pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), o procurador da República Maurício Gerum.
O representante do Ministério Público Federal (MPF) criticou a defesa do petista e afirmou que ele não pode ter tratamento diferenciado pela figura pública que representa. “É um relatório feito com base na técnica, não com uma visão que se faz míope pela veneração a figura pública do ex-presidente Lula”, defendeu.
Gerum vê uma tentativa de “contaminar o processo judicial com falta de maturidade democrática” em nome de um projeto pessoal de Lula e iniciou sua fala citando uma “tropa de choque”. “Às favas com o que há no processo, mais fácil dizer que não há provas”, contestou em relação à defesa de Lula. “O processo judicial não é um processo parlamentar.
A técnica é incompatível com a pressão popular”, rebateu.
Para o procurador, o argumento da defesa está “muito próximo da coação”, é desrespeitoso com magistrados e “verdadeiros” presos políticos e tem “gravidade e irresponsabilidade” de desacreditar no judiciário.
Maurício Gerum ainda citou os encontros entre Lula e Leo Pinheiro, ex-presidente da OAS que admitiu que o tríplex no Guarujá, em São Paulo, era destinado à família do petista, e falou em “promiscuidade” das relações entre o meio político e o empresarial.
Lula nega que o apartamento seja dele e alega que está oficialmente em propriedade da construtora. “Não é porque se trata de um ex-presidente da república que só vamos aceitar a escritura assinada”, afirmou.
O procurador ainda disse que é papel da defesa apresentar provas que invalidem as do Ministério Público, não se basear em ilações.
O representante do MPF argumentou que Lula era responsável pela palavra final nas indicações das diretorias da Petrobras, citando o depoimento do ex-deputado federal Pedro Corrêa (PP-PE), de que Paulo Roberto Costa, também condenado na Lava Jato, só teria ficado com a área de Abastecimento por causa do petista. “O que parecia ser um meio de governabilidade através da indicação de cargos passou a ser um mecanismo de dilapidar os recursos públicos, inicialmente para garantir recursos para a base aliada e depois para cada um se enriquecer individualmente”, afirmou Gerum.
Sem mitos Ao encerrar a manifestação da acusação, Gerum citou um trecho do livro “Crime e Castigo”, do escritor russo Fiódor Dostoiévski, que fala do “verdadeiro Soberano a quem tudo é permitido”. “O verdadeiro Soberano toma Toulon de assalto, faz uma carnificina em Paris, esquece um Exército no Egito, sacrifica meio milhão de homens na campanha de Moscou e se safa de Vilna com uma piada.
E depois de morto constroem-se altares para ele, e assim tudo é permitido.
Não, pelo visto essas pessoas não são feitas de carne, mas de bronze!”.
Para trazer a citação para a atualidade, o procurador foi incisivo. “Em uma república, não existem homens de bronze (mitos, que tudo podem).
Só existem homens de carne e osso”, afirmou, sugerindo que não havia políticos acima da lei.
O procurador Maurício Gerum disse que a defesa de Lula não apresentou um único indício que desmentisse os fatos revelados pela Lava Jato.