Por Roberto Numeriano, em artigo enviado ao blog A sofreguidão dos pré-candidatos ao governo de Pernambuco, observada no último trimestre de 2017, foi refreada imediatamente após o anúncio do julgamento do ex-presidente Lula para o próximo dia 24, no TRF de Porto Alegre.

Escrevo “julgamento” pró-forma, pois os tipos que se reúnem em torno daquele processo serão provavelmente os executores arbitrários de uma sentença político-ideológica, jamais magistrados. (Somente mesmo o medo, e nunca o senso de justiça, poderá evitar o placar de 2 x 1, desfavorável ao petista).

Os principais pré-candidatos se concentram agora nas brigas internas de suas legendas, pelo fato de seus projetos de articulação dependerem do destino de Lula, aquele que, como no belo filme de Stanley Kramer protagonizado pelo grande Sidney Poitier, deverá “vir para o jantar” das eleições de 2018.

O lugar comum vale: preso ou livre, condenado ou declarado inocente, Lula será um ou o candidato que vai aparecer como a carta do coringa, sendo a referência e o ator político decisivo de alianças e consensos no quadro nacional e nos estados.

A questão, para Armando Monteiro (PTB), Fernando Bezerra Coelho (PMDB?), Marília Arraes (PT) e Paulo Câmara (PSB), será discutir e definir os arranjos táticos de campanha em função daquele rol de possíveis condições do ex-presidente na cena que se delinear a partir do dia 24 de janeiro.

Qualquer que seja a sentença, o quadro político atual sugere que a chance de um desses nomes ser eleito ao governo estadual é alta, se apoiado por Lula e nos termos de uma coligação que nem precisaria ou precisará ser muito robusta do ponto de vista de cauda eleitoral e tempo de TV.

Desses quatro nomes, considero que o senador Armando Monteiro enfrenta o dilema maior.

Dilema antes ideológico, e menos político.

O flerte arriscado com o “frentão” oposicionista pode até resultar (se ele sair como o nome de consenso para a disputa) numa composição política forte para capilarizar sua candidatura pelo estado afora.

Mas, aqui, seria improvável Lula declarar apoio a uma chapa que somaria o PSDB e outros partidos cuja agenda é francamente reacionária em termos ideológicos e socialmente regressiva.

Se na Matemática as operações de Multiplicação ou Divisão obedecem às regras de sinais (+) e (-), poderíamos considerar que o pré-candidato Monteiro ganharia (+) no campo das alianças políticas, mas perderia (-) ideologicamente, pois seria remota ou muito improvável Lula e/ou o PT subir no mesmo palanque: mais com menos dá menos…

Ainda que a política real não seja a velha Matemática, os cálculos são feitos.

E a racionalidade do ator político requer prever suas possibilidades no jogo real, tanto quanto intui os movimentos dos adversários.

Armando Monteiro parece descrer das suas possibilidades inatas.

Somente isso poderia explicar o seu açodamento em aparecer de braços dados com parte da fina flor de partidos e lideranças que emparedaram a presidenta Dilma Rousseff, arruinaram a economia e jogaram o país nessa anarquia constitucional onde o Judiciário legisla, o Executivo julga e o Legislativo governa.

De todos os que reúnem alguma potencialidade para articular uma candidatura (dentro dessa articulação ou fora dela), é o senador Armando Monteiro, sem dúvida, quem tende a perder potencial de voto, vingue ou não uma aliança desse “frentão” de perfil ideológico conservador, embora robustecido nos limites de uma pragmática eleitoral / eleitoreira.

A frase parece contraditória?

Explico.

De fato, um candidato sagrado por essa aliança seria ou será forte apenas para “dentro” da mesma, ou seja, trafegará engessado numa faixa larga como espectro político, mas de alcance restrito como potencial ideológico.

Fernando Bezerra Coelho ou algum eventual nome do PSDB que surja para postular o cargo nada tem a perder quando posam para as fotos de um agrupamento estranho e heterodoxo: nenhum reúne potencial eleitoral para a disputa contra o PSB de Câmara.

Ora, o pré-candidato Monteiro parece querer tecer um xale com um novelo de muitas pontas quando imagina ser possível sair forte eleitoralmente sem o ser ideologicamente.

E, aqui, impõe-se aquele que, forçosamente, virá para o jantar da política, convidado que é como mito carismático e imprescindível ao cálculo político dos demais atores, sejam governo ou oposição.

Porque Lula será candidato direto ou indireto nestas eleições, queira ou não a sanha persecutória da velha Casa-Grande racista e atrasada.

E, no limite, para quem Lula apontar penderão dezenas de milhares de votos decisivos numa campanha que provavelmente será polarizada.

Com tudo o que Lula representa, o ex-presidente encarna essa perspectiva de voto, sob certos aspectos, ideológico (no sentido de pessoal, carismático, popular, fraternal etc). É curioso, sabendo dessa realidade irrecorrível, imaginar que o senador petebista parece ter medo eleitoral do candidato do PSB (até o momento, sem apoio definido do PT), embora pareça não se importar para onde vai pender Lula e o petismo.

A não ser pelo fato de que ele eventualmente saiba algo dos bastidores dessa guerra (algo que, por exemplo, já definiu na surdina uma coligação PSB – PT, rifando no nascedouro a pré-candidatura de Marília Arraes), não se explica, em termos racionais, seu afã em ter apressado o passo tão cedo na corrida pelo poder.

Poderá ficar sem fôlego, lá na frente…

Roberto Numeriano é pós-doutor em Ciência Política e pré-candidato a deputado estadual.