Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele diz que o candidato único da base à Presidência terá que ter trânsito nos partidos, capilaridade e força de mobilização. “Ninguém vai tirar do bolso do colete um candidato.” Sobre uma candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, Moreira avisa: “Se quiser ser candidato, Meirelles terá que trabalhar.” “Candidato tem que ter charme.” A receita é do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Moreira Franco, 73 anos – 45 deles na política.

O ministro rechaça a ideia de que candidaturas de extremos como as do ex-presidente Lula e de Jair Bolsonaro estão ganhando espaço e diz que “eleição não é a explosão de paetês e lantejoulas”.

Moreira é cético em relação às regras eleitorais no Brasil que, segundo ele, têm fortalecido a minoria e não vão mudar nas próximas eleições.

A negociação do próximo presidente com os novos congressistas, prevê, serão “quase que individual”.

Moreira evita falar sobre a candidatura do tucano Geraldo Alckmin e diz que não foi o governo que exclui o PSDB da base. “Estamos de portas abertas ao PSDB ou a quem quiser, mas tem que ter compromisso.” Confira a seguir os principais trechos da entrevista: Broadcast – Ainda é possível aprovar a Reforma da Previdência?

O jogo eleitoral não vai atrapalhar a votação?

Moreira Franco – É mais do que possível, é necessário, porque as consequências da não aprovação serão terríveis.

Estamos entrando numa faixa de alta periculosidade.

Nós aqui não estamos com a pauta eleitoral; não é o item número um.

Broadcast – Mas uma candidatura de Meirelles atrapalha as negociações?

Moreira – Eu vou chegar lá; a questão do contraditório é fundamental, como no processo político a eleição é vital.

E o processo eleitoral é maioria e não é minoria.

Uma das deformações que estamos vivendo hoje no Congresso e na legislação política eleitoral é que a regra é para fortalecer as minorias e não a maioria.

Se há 30 e tantos partidos, uma pulverização enorme, as regras que sustentam o sistema elas não conseguem ser votadas.

Não votamos uma regra que fosse consensual de financiamento de campanha.

Estamos no ano eleitoral e reabrimos a possibilidade de mudança eleitoral no ano de eleição.

Isso fragiliza o sistema partidário e corrói a possibilidade de construir a maioria.

Broadcast – Essa minoria está unida?

Moreira – Isso significa que o próximo presidente terá que fazer um esforço muito maior do que está fazendo o presidente Temer para conseguir encaminhar as suas políticas no Congresso porque a negociação vai ter que ser quase que individual.

Broadcast – Na negociação da Previdência já não foi assim?

Moreira Não vamos radicalizar.

Ainda não se chegou a isso, mas foi muito mais pulverizado e difícil do que, por exemplo, as mudanças que o FHC conseguiu aprovar no primeiro mandato, porque naquela época você tinha uma base.

Três partidos com densidade e que traziam o resto e isso foi se pulverizando.

Broadcast – Mas Meirelles vai ganhar o apoio do governo?

Moreira – A eleição não está em primeiro plano.

O primeiro plano é a Previdência.

Temos a convicção que, se aprovada (a reforma), o debate eleitoral vai se dar em torno do que ocorrer com o futuro da economia brasileira.

Se vamos continuar com esse movimento iniciado pelo presidente Temer ou se vão voltar as práticas anteriores, de achar que é importante você usar o povo brasileiro como cobaia de experiências que permitam a formulação de teorias econômicas novas.

Se a previdência passar, o que nós vamos ter é discutir o futuro da economia brasileira.

Broadcast – Mas o governo quer um candidato que defenda o seu legado… Moreira Franco – A atividade política tem na eleição a sua referência.

O fato de se ter candidato não é um fato estranho, não é um fato espetacular.

A decisão de ser candidato é uma decisão individual.

Broadcast – O senhor está falando do Meirelles?

Moreira Franco – Do Meirelles, do Alckmin, do Bolsonaro, do Joaquim, Manuel, Benedito, até dos inimigos, mas o fato é que até dos inimigos é uma decisão pessoal. “Eu quero ser candidato.” Isso vai gerar alguma coisa?

Não gera nada, só gera um fato, que é um brasileiro ou uma brasileira, Marina, que é candidata… O problema no processo político democrático não é o candidato, o candidato é fácil, o problema é a candidatura.

A candidatura significa adesão social, significa incorporação de interesses programáticos, significa estrutura de mobilização, de militância, ferramentas de debate com a sociedade para que gere no dia da eleição um voto.

Se você não tem essa estrutura você não adianta ser candidato.

Broadcast – Os partidos da base já iniciaram as conversas em busca de candidato único em um encontro em Brasília.

Moreira Franco – Conversa é uma coisa que demora.

Acreditamos que é absolutamente possível termos um candidato da base, apoiado pelos partidos da base.

Nesta reunião estavam PMDB, PR, PSD, PP, PRB, PTB e mais um… O DEM, sabia que faltava um.

Broadcast – O senhor exclui o PSDB?

Moreira – Eu não exclui ninguém.

Eu estou dizendo quem estava na reunião.

O PSDB não estava na reunião.

Esse conjunto de partidos tem condições na soma total de eleger; o cálculo feito lá, algo em torno de 300, um pouco mais, um pouco menos, de deputados.

Com isso você fica bem robusto para fazer maioria e chegar até a mudanças de quórum constitucional.

Há duas ferramentas que serão fundamentais ao processo eleitoral deste ano: uma é a mobilização, e todos esses partidos têm estrutura, têm militância, uns mais, outros menos, uns com mais tradição outros com menos, mas eles têm todos muita militância, vão estar mobilizados.

Segundo: o tempo de TV é um pouco mais ou um pouco menos da metade do tempo de televisão à disposição do sistema eleitoral.

E essa eleição tem particularidades. É curta, eles não conseguiram resolver a questão do financiamento, isso vai ser uma fonte de problemas para o TSE inimaginável.

Broadcast: A candidatura desse grupo exclui o PSDB?

Moreira Franco – Não é que exclui.

O PSDB resolveu não estar nisso.

Não fomos nós que excluímos.

Nós não excluímos ninguém.

Eu aprendi que em política não se exclui ninguém, pelo contrário, a função da política é incluir, é juntar, é formar maioria.

Eles se excluíram.

Broadcast – Esses partidos hoje têm hoje três nomes: Meirelles, Rodrigo Maia e o presidente Temer.

Moreira – Não estamos cuidando de nome, porque temos que primeiro fortalecer essa relação, definir os objetivos programáticos.

Esse candidato, ele não pode ser imposto.

Se você está querendo ter candidatura que tenha capilaridade, que consiga mobilizar essas pessoas.

Terá que ser um candidato que negocie, que converse, que busque entendimento com essas forças partidárias.

Agora, o candidato tem que ter liderança.

Ninguém vai tirar do bolso do colete um candidato.

O Meirelles quer ser candidato, ele tem que trabalhar.

Broadcast: O Meirelles não tem essa liderança?

Moreira – Eu não sei.

Eu não estou aqui julgando A, B ou C.

Estamos aqui discutindo critérios.

Esse candidato não vai ser tirado do bolso do colete, terá que exercitar a capacidade de liderança política, de aglutinação, de envolvimento, tem que ter charme, tem que ter capacidade de falar com os partidos e consequentemente falar com a sociedade.

Broadcast – Se o senhor tiver que aconselhar o presidente entre Maia e Meirelles, qual o senhor escolheria?

Moreira – Não existe voto de Minerva.

Broadcast – Mas são feitos cenários… Moreira – Eu não faço.

Se eu fosse fazer cenário eu não estava sentado aqui.

Eu estava fazendo palestra e ganhando uma fortuna.

O fato impõe o caminho.

A boa solução é aquela que você trata com muita frieza, respeita o fato.

O que ocorre é que não há escolhas pessoais.

Vamos criar as condições para que esses partidos se sintam confortáveis participando do processo decisório, todos eles, e o nome que sair terá obrigatoriamente que ser um nome que tenha trânsito, que tenha capacidade de aglutinação, de unificação, tenha confiança dessas forças partidárias para você trabalhar um governo com mais capacidade de compor maiorias do que nós estamos vivendo desde o FHC.

Broadcast: Como é que o senhor vê a candidatura Alckmin?

Moreira Eu não sou do PSDB.

Eu sou do PMDB (MDB).

Broadcast: Por que o senhor evita falar de Alckmin?

Moreira Franco – Mas aí vão fazer futrica, intriga… Broadcast – Mas o senhor falou que o PSDB pode vir a ser um aliado?

Moreira – Nós estamos de portas abertas ao PSDB ou a quem quiser, mas as regras são essas.

Tem que ter toda uma visão de Brasil, um compromisso.

Broadcast – Há duas forças antagônicas simbolizadas pelas candidaturas do Lula e do Bolsonaro.

Elas estão ganhando espaço?

Moreira Franco – Nós não acreditamos nisso que você está falando; a eleição não é a explosão de paetês e lantejoulas.

A eleição é um processo que tem que ter estrutura partidária, de mobilização, debate, proposta.

As pessoas não votam no passado.

Elas votam no futuro.

Broadcast – A nova ministra do Trabalho, Cristiane Brasil, além de ser filha de Roberto Jefferson, que foi condenado no Mensalão, tem problemas na Justiça por processos trabalhistas.

Isso não desgasta a imagem do governo?

Moreira – Eu não sou analista de imagem.

Não pode levar responsabilidade de pai para filho, de filho para neto.

O Roberto já cumpriu com suas obrigações legais.

Ela tem esse problema e está cuidando dele junto do Poder Judiciário.

Acredito que uma solução será dada e ela terá mais responsabilidade de qualquer outro de evitar que coisas dessa natureza ocorram. É uma oportunidade que ela está tendo.

Broadcast – E em relação à troca no MDIC?

Também está certo que continua com o PRB?

Moreira – Esse assunto não foi definido.

Quando o ministro do Trabalho saiu foi conversado com o presidente Temer a sucessão e assunto partidário.

No caso do PRB, não foi.

Broadcast – O governo teve uma série de problemas com o antigo procurador-Geral, Rodrigo Janot, e agora a sucessora Raquel Dodge também tem tomado algumas decisões que desagradaram o governo.

Qual a sua avaliação do trabalho da nova PGR?

Moreira – Não vou contribuir para politizar ainda mais assuntos que são distintos.

Uma coisa é a questão judicial, outra coisa é o campo político.

O mal que está se fazendo ao Brasil decorre desse esforço que a imprensa faz de buscar politizar tudo, sobretudo as questões de natureza judicial.

No caso anterior o pecado foi a politização exacerbada.

Não vou eu agora contribuir para que a nova procuradora também se veja envolvida num clima de politização exacerbada.

A experiência que se viveu recente pelo presidente da República com o ex-procurador foi uma experiência ruim para o País.

Não queremos que volte o mesmo ambiente. (Carla Araújo e Adriana Fernandes)