Por Pedro Henrique, em artigo enviado ao blog O ano de 2018 poderá ser um daqueles que duram décadas.

As forças conservadoras que golpearam a soberania popular tirando ilegitimamente o mandato da presidenta Dilma irão, nesse ano que se aproxima, dobrar a aposta, radicalizar a disputa política para tentar viabilizar, no voto ou na força, a agenda de longo prazo que sustentam; uma agenda cujo principal objetivo é reorganizar, de forma estrutural, o padrão de acumulação do capitalismo no Brasil, mantendo e aprofundando a já brutal concentração de renda e, consequentemente, elevando o já descomunal nível de desigualdade do país.

A agenda golpista, da reforma trabalhista que precariza o trabalho, da PEC da morte que inviabiliza o investimento público consistente e sustentado em educação e saúde, do desmonte dos bancos públicos e de estatais estratégicas para o desenvolvimento do país, de ataque à ciência e a tecnologia, de entrega criminosa do pré-sal às petroleiras estrangeiras, é, sem dúvida, uma agenda que nos transforma, no limite, numa neocolonia, num Estado sem soberania efetiva, com uma população vivendo em condições precárias, o que atrasará todo o esforço civilizatório que marcou a ascensão do país nas últimas décadas.

O projeto elitista buscará já no início do ano emplacar a reforma da previdência, haja visto que a previdência, pelo espaço que ocupa no orçamento em meio a um período prolongado de queda de receita, é hoje o principal entrave à apropriação do orçamento público pela elite rentista através da dívida pública.

O propalado zelo pela “saúde fiscal” no discurso dos golpistas não passa de uma tentativa de resolver uma crise muito mais financeira que fiscal em favor dos que querem se apoderar das riquezas do Estado em detrimento da maioria da população, especialmente dos mais pobres.

Se de 2016 até aqui foi possível à elite tocar esse processo desconstituinte quase sem nenhuma prestação de contas, em 2018, pelo simples fato de esse ser um ano eleitoral, será preciso apresentar claramente essa agenda ao país.

As eleições, por limitadas que sejam para gerar grandes mudanças igualitárias no curto prazo, certamente são um instrumento para desorganizar, bagunçar o jogo das elites, porque as obriga a articular uma pauta que tenha um mínimo de relação com o anseio popular.

Do golpe até aqui a direita buscou essa liga fomentando, a partir da utilização de instrumentos de estado de exceção, diga-se de passagem, uma cruzada contra a corrupção que já não tem mais tanto apelo e se tornou insuficiente para garantir consentimento popular.

O ano que bate à porta traz esse problema para os golpistas e para a plutocracia que os alimenta, um problema que poderá ser resolvido por eles de duas formas: ou alteram o jogo das eleições tirando indevidamente Lula, o representante da agenda popular, da disputa, ou cancelam a disputa eleitoral e abrem um período de eclipse total da democracia no país.

Nenhum desses dois cenários cancelará a resistência popular ou a luta de classes, que não se resolve em eleições.

Mas podem garantir muitos anos de avanço da agenda conservadora no país, o que inclui embrutecimento contra as organizações da luta popular.

Da mesma forma, uma reação popular combinada com um programa de reformas fortes pode tornar possível o início da efetivação de uma agenda igualitária sustentada pelas ruas. 2018, sendo assim, será um ano decisivo.

A figura de Lula se torna nessa conjuntura cada vez mais central.

Ele personifica, no imaginário popular, um projeto de desenvolvimento com inclusão sintonizando com o espírito da constituição de 88 e esboçado com sucesso nos 13 anos de governos petistas.

Esse projeto, e não o da desconstituição de direitos, possui aprovação de parcela majoritária da população brasileira, que ao se dar conta da agenda anti-povo golpista sinaliza fortemente para um apoio à candidatura de Lula.

Não é difícil saber que a direita tentará remover Lula da disputa para transformar as eleições na legitimação de um jogo entre a direita e a centro direita, ambas comprometidas com o programa econômico e social obscurantista da elite tupiniquim.

O golpe, que foi operado não só por políticos corruptos, mas também por setores do Estado brasileiro e, claro, pela cruzada ideológica promovida pelos barões da mídia empresarial, não se completa se permitir a volta ao poder de uma figura que promete desarticula-lo, e que pode ter força para isso.

Sendo assim, defender o direito de Lula ser candidato, ele que foi condenado de forma arbitraria, sem provas, num processo absurdo que tinha um juiz como parte e não como árbitro, é defender o direito de o povo brasileiro escolher que projeto de sociedade deseja; se aquele inscrito na constituição de 1988, que completará 30 anos em 2018 e aponta para a construção de um país soberano, capaz de desenvolver um estado de bem estar social com uma democracia pujante, ou um país entregue aos piratas do neoliberalismo, que saqueiam nossas riquezas, destroem nossa soberania, precarizam a vida da imensa maioria do povo brasileiro e nos roubam o futuro.

Em 2018, portanto, poderemos presenciar o inicio do desmonte do golpe e seu projeto reacionário ou sua consolidação e a consequente condenação do país a viver sob uma noite capaz de durar décadas.

Só a mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras, de amplos setores da classe popular para além daqueles já organizados em partidos, movimentos e sindicatos em torno de uma agenda verdadeiramente popular de reformas, com mínimo espaço para a conciliação imporá a derrota necessária ao projeto reacionário que sequestrou o poder no país.

Somente o campo popular brasileiro, sob a liderança de Lula, terá condições de defender a democracia e as conquistas sociais obtidas pelo povo brasileiro em décadas de luta. 2018 será um ano que marcará a história do Brasil.

Que a história possa registrar, então, a vitória do povo brasileiro.

Vamos à luta!

Pedro Henrique é cientista social e Secretário Estadual da Juventude do PT-PE