Em uma entrevista ao Estadão, nesta quinta-feira, um dos líderes dos chamados cabeças-pretas do PSDB, o deputado federal Daniel Coelho (PSDB-PE) atribui a falta de unidade do partido em relação à reforma da Previdência às denúncias que envolvem o presidente Michel Temer.

Segundo ele, o governo tenta jogar a culpa nos tucanos já prevendo que não terá condições de aprovar a proposta na Câmara.

Mesmo com as sugestões de alterações no texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) enviadas pela bancada, Coelho disse que não há acordo. “Essa discussão da questão de texto é inócua e falsa.” Quais pontos ainda impedem o PSDB de fechar questão sobre a reforma?

O governo não tem votos, a questão não é o PSDB.

O PSDB deu mais votos para as reformas do que qualquer outro partido.

O problema é moral do presidente.

Temos um presidente desmoralizado, corrupto, que comprou voto para não ser investigado, e quer dizer que não se aprova a reforma por causa do PSDB?

Isso é uma mentira.

O problema está em todas as bancadas.

Ele não consegue fechar questão em nenhuma bancada, nem na do PMDB.

Primeiro que ele cuide da base dele e depois venha falar sobre o PSDB.

Eles só sabem cobrar o PSDB, o governo é muito equivocado na maneira com que se relaciona conosco.

Ele tem que cobrar também o PMDB, o PR, PSD, o PP, porque em todos esses partidos há mais deputados contra a reforma do que o PSDB.

Mas caso as sugestões enviadas ao relator sejam atendidas a bancada poderia dar mais votos?

As posições sobre alteração no texto não são de bancada, são individuais.

Não sei nem quem defende alteração de texto na bancada.

A questão é que essa discussão acontece pelo jornal.

No plenário não se considera nem a possibilidade dessa matéria ir à pauta.

O que o governo está fazendo é um processo de esticar com o PSDB, como se estivesse no PSDB o fator de discussão.

O que impede não é o PSDB, não é isso.

O que impede é o cenário em que nenhum partido tem posição a favor da bancada.

Porque o PMDB não fecha questão e a partir daí começa a se discutir com os aliados?

Talvez se o Temer renunciar a reforma ande.

Ele faz com que a reforma não tenha credibilidade e a gente tenha que explicar isso ao eleitor.

Ele não assume a responsabilidade que é dele.

O sr. concorda com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), de que deputados não votam a reforma por serem contra o governo, e não pelo mérito da proposta?

Acho que o senador Tasso não está errado em sua avaliação.

Acho inclusive que essa discussão da questão de texto é inócua e falsa.

A discussão é sobre um governo que tem um presidente que mandou entregar mala de dinheiro para um deputado, que apresenta desonerações a diversos setores econômicos, que faz aberta distribuição de cargos e dinheiro público e quer convencer a população de que há um déficit na Previdência.

Não adianta olhar só para o Parlamento, precisa ter credibilidade com a sociedade.

Esse é o problema da reforma.

Antes mesmo de assumir a presidência do partido, o governador Geraldo Alckmin, diz que o partido vai votar pela reforma.

Ele já falou com a bancada?

Não é questão de diálogo.

Ele será presidente do partido, ele tem liderança, tem a opinião dele.

O PSDB é o partido que deu mais votos a favor de outras reformas. É possível que o PSDB seja o que dará mais apoio?

Sim, é possível, mas o problema é que ele não tem nenhum apoio nas outras bancadas.