Por Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife pelo PCdoB Analistas mais argutos têm indicado que a cena brasileira, hoje, se assenta na tríade imprevisibilidade, instabilidade e incerteza.

Há que se acrescentar a dispersão.

Sim, porque tanto no lado governista (ou beneficiário da agenda Temer), quanto na oposição não se vê nenhum movimento consistente de aglutinação.

Prevalece a dispersão.

A se manter atual situação, ou seja, a continuidade do governo Temer — a despeito de sua recorde impopularidade e frágil sustentabilidade — em menos de doze meses teremos um novo pleito presidencial e sequer as forças que assaltaram o poder se vêem intimamente coesas.

Anteontem, numa solenidade no Rio de Janeiro, Temer assinalou em discurso a “estabilidade” do seu ministério.

Poucas horas depois, o ministro das Cidades lhe apresentou o pedido de exoneração (arguindo falta de apoio do seu partido, o PSDB) e, à noite, o próprio presidente anunciou ampla reforma ministerial a ser feita em curtíssimo prazo!

Prova maior de instabilidade não há.

Leia outros artigos de Luciano Siqueira » Lula, Ciro, Manuela: legítimos » Muitos caminhos podem dar na frente ampla Demais, mesmo com a ajuda da grande mídia (de há muito uma espécie de partido político informal), partidos governistas encontram enorme dificuldade em formular um projeto eleitoral comum.

Os dois maiores, PSDB e PMDB, se esgarçam na esteira de divergências internas.

No campo oposto, correntes políticas, movimentos sociais e segmentos influentes da sociedade ainda vivem a sua fase preliminar da resistência.

Nos próximos meses certamente o debate caminhará na direção de plataformas de luta e, quiçá, se venha a construir um rol de proposições convergentes capaz de unir amplas forças.

As pré-candidaturas presidenciais de Lula (PT), Ciro (PDT) e Manuela (PCdoB) podem contribuir nessa direção, pois ostentam a um só tempo discrepâncias, no que tange à saída para a crise — tendo a real dimensão do papel do Estado como um dos pontos essenciais — e possibilidades unificadoras.

O fato é que a dispersão total em nada contribui para a solução dos problemas do país.

Nem para clarear a compreensão dos eleitores.

Teremos eleições gerais melhor equacionadas se as ideias assumirem o centro da disputa, para além das arengas e do denunciamos mútuo.