Estadão Conteúdo - O Ministério Público Federal do Rio deflagrou nesta terça-feira (14) operação que investiga os deputados estaduais Jorge Picciani (PMDB), Paulo Melo (PMDB) e Edson Albertassi (PMDB) e outras dez pessoas por corrupção e outros crimes envolvendo a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
O pedido foi negado e os três são alvos de mandado de condução coercitiva, a pedido do Núcleo Criminal de Combate à Corrupção do MPF na 2ª Região e decisão do desembargador federal Abel Gomes, relator dos processos da Força-tarefa Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 2ª região (TRF2).
Entre as prisões temporárias está Felipe Picciani, o único filho adulto de Picciani que não é parlamentar e portanto não tem foro privilegiado.
Além disso, há seis prisões preventivas, outras três temporárias e buscas e apreensões nos endereços de 14 pessoas físicas e sete pessoas jurídicas.
A condução coercitiva dos deputados foi ordenada como alternativa inicial à prisão deles.
Também estão na mira da operação o empresário Jacob Barata Filho, o “Rei do Ônibus”, e o ex-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor) Lélis Teixeira.
O “Rei do Ônibus” e Lélis Teixeira foram presos pela Operação Ponto Final em julho passado.
Por ordem do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em agosto, os dois foram colocados em liberdade.
A família Picciani foi um dos alvos do acordo de leniência da Carioca Engenharia em abril do ano passado.
A matemática Tania Maria Silva Fontenelle, ligada à empreiteira, afirmou que comprou vacas superfaturadas da empresa Agrobilara Comércio e Participações Ltda. para “gerar dinheiro em espécie” para a empreiteira.
A Agrobilara pertence à família Picciani.
A executiva ligada à Carioca afirmou que “simplesmente atendia as solicitações de obter dinheiro em espécie e entregava a quem fazia a solicitação ou a pessoas da empresa por eles indicadas” “Obviamente sabia que a destinação dessas quantias era ilícita, para corrupção ou para doação eleitoral não-declarada; que, entretanto, não manteve contabilidade ou controle disso, pois estava há muitos anos na empresa, tinha a confiança dos acionistas e eram recursos não oficiais que normalmente entregava aos solicitantes”, declarou Tania Maria.
Investigação na Assembleia Legislativa do Rio Segundo o MPF, na Operação Cadeia Velha, é apurado o uso da presidência e outros postos da Alerj para a prática de corrupção, associação criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
A petição do MPF, com 232 páginas, resulta de investigações feitas há mais de seis meses, que incluíram quebras de sigilo bancário, telefônico e telemático, acordos de leniência e de colaboração premiada, além de provas obtidas a partir das Operações Calicute, Eficiência, Descontrole, Quinto do Ouro e Ponto Final.
O MPF sustentou ao TRF2 que são inafiançáveis os crimes dos deputados, que seguem em flagrante delito, sobretudo de associação criminosa e lavagem de ativos, e que não é preciso a Alerj avaliar suas prisões.
Os investigados com prisão preventiva decretada são os empresários Lélis Teixeira, Jacob Barata Filho e José Carlos Lavouras, investigados na Operação Ponto Final, além de Jorge Luiz Ribeiro, Carlos Cesar da Costa Pereira e Andreia Cardoso do Nascimento.
Os presos temporários são Felipe Picciani, Ana Claudia Jaccoub, Marcia Rocha Schalcher de Almeida e Fabio Cardoso do Nascimento “Havendo demonstração cabal de ilícitos gravíssimos e até mesmo alguns em estado de flagrância, à vista de sua natureza permanente, e que a liberdade dos referidos alvos implicaria perigo concreto à ordem pública, além da aplicação da lei penal, requer o MPF sejam deferidas prisões preventivas em desfavor dos deputados estaduais ora investigados”, afirmam os procuradores regionais da República Andréa Bayão, Carlos Aguiar, Mônica de Ré, Neide Cardoso de Oliveira e Silvana Batini, do MPF na 2ª Região, que ainda pediram o afastamento dos deputados das funções públicas.
Segundo o MPF, As investigações apontaram que o presidente da Alerj, Jorge Picciani, seu antecessor, Paulo Melo, e o segundo vice-presidente, Edson Albertassi, formam uma organização integrada ainda pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e que vem se estruturando de forma ininterrupta desde a década de 1990 A organização, como apurou o MPF, vem adotando práticas financeiras clandestinas e sofisticadas para ocultar o produto da corrupção, que incluiu recursos federais e estaduais, além de repasses da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor). “Três frentes de apuração embasaram a petição do MPF: os repasses da Fetranspor para deputados; os recursos da Federação para uma conta de Cabral e sua partilha com Picciani e Melo; e as doações da construtora Odebrecht a políticos, depois declaradas em acordos de colaboração já homologados”, informou o MPF.
A Promotoria também identificou que a indicação de Albertassi para uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas do Estado (TCE) “pode ter sido uma manobra para que a organização criminosa retome espaços perdidos com os afastamentos de conselheiros determinados pelo STJ, e também uma forma de atrapalhar as investigações, ao deslocar a competência para a apuração dos fatos e tirar o caso do TRF2”.
Essa é a primeira vez em que uma investigação ligada à Lava Jato é conduzida por um TRF.
O MPF ressaltou ao TRF2 que, com seis mandatos de presidente da Alerj, Picciani é imprescindível na organização criminosa, pelo expressivo poder político e influência sobre outros órgãos estaduais.
As condutas de Picciani na Alerj incluíram a edição de atos normativos em troca de vantagem indevida e restrições ao funcionamento de CPIs. “Tanto Picciani quanto Melo tiveram aumentos exponenciais de seu patrimônio desde o ingresso na política.
Em certos períodos, seu patrimônio cresceu mais 100%, patamar superior a qualquer investimento.
As investigações identificaram diversas relações societárias suspeitas mantidas pelos deputados, além do repasse clandestino de verbas de empresas para viabilizar a ocultação da origem do dinheiro e o financiamento de campanhas eleitorais”, informou o MPF.
O nome da nova fase da operação, Cadeia Velha, foi escolhido devido ao presídio erguido no século XVII no local onde fica a sede da Alerj, que era chamado oficialmente de Cadeia da Relação ou Casa da Relação em 1636.
No Brasil Colonial, recebia presos políticos e quem mais infringisse as leis da Coroa Portuguesa.
O prédio foi usado ainda como o antigo Tribunal da Relação, alojamento para a criadagem da Casa Real e foi cenário da prisão de Tiradentes e outros inconfidentes.