Antes da Copa do Mundo, entre 2013 e 2014, o então governador Eduardo Campos (PSB) licitou e contratou a empresa espanhola Etra para implantar o Sistema de Monitoramento da Operação (Simop), que começaria a operar dois anos depois, facilitando a vida do usuário ao informar localização e horários dos ônibus e ajudando a fiscalizar o transporte coletivo na Região Metropolitana do Recife.
Através do serviço, seria possível, por exemplo, consultar os horários através de painéis nos terminais e de aplicativos para celulares.
Quase quatro anos depois, o sistema foi instalado em boa parte da frota, mas não está vigorando.
Além da resistência das permissionárias do sistema, o governo - agora de Paulo Câmara (PSB) - acumula dívidas com a Etra há um ano.
Nas contas da multinacional, se tivesse seguido o cronograma financeiro aprovado inicialmente, a gestão deveria ter pago R$ 30 milhões dos R$ 40,2 milhões contratados - incluindo R$ 6 milhões para a construção de um centro de monitoramento.
Houve atrasos, no entanto, e o Grande Recife Consórcio calcula em R$ 10 milhões referentes a 2017, prometendo pagar R$ 3 milhões acordados ainda este ano.
LEIA TAMBÉM » Assembleia pode abrir CPI para investigar transporte público » MPPE diz apoiar botão de pânico nos ônibus do Recife » Vereador propõe flexibilizar uso da porta do meio dos ônibus Os R$ 3 milhões são de um crédito suplementar aberto por Paulo Câmara em agosto.
O valor está em tramitação desde então na Secretaria da Fazenda e não foi depositado para a Etra.
O último pagamento foi em novembro de 2016, há um ano.
Até agora, foram recebidos cerca de 25% do valor total, o que equivale a R$ 11,5 milhões.
A empresa explica que o pagamento estaria dividido em duas etapas, uma com a aprovação do projeto piloto, que corresponderia a 20%, e o restante mensalmente de acordo com a instalação dos equipamentos nos ônibus, em até 60 meses. » No Recife, vereadora quer transporte gratuito para mulheres vítimas de violência » “Ninguém assalta ônibus com fuzil”, diz ministro em recado a Paulo Câmara » Estado não diz o que vai fazer com destino de licitação milionária de ônibus cancelada pela Justiça O Grande Recife afirmou que, “devido ao contingenciamento de recursos decorrente da crise econômica do país que tem reflexo no Estado, foi necessário repactuar” os aportes financeiros. “Contratualmente, a Etra deveria receber R$ 10 milhões, mas foi acordado o pagamento de R$ 3 milhões, que se encontra em tramitação, ficando o saldo remanescente a ser pago ano que vem.” “Desde o início da execução, o cronograma financeiro não é executado conforme o contrato”, diz a empresa. “O atraso na execução financeira alterou o cronograma físico, pois nessa fase o Simop deveria estar com todos os ônibus embarcados.
A embarcação dos equipamentos depende da permissão do CTM (Consórcio de Transportes Metropolitano) junto com as operadoras.” Hoje, dos aproximadamente 3 mil veículos, 2,8 mil estão com o sistema instalado, faltando apenas os da Borborema, por causa do atraso no pagamento.
Tanto a Etra quanto o Grande Recife reconhecem, porém, que há uma resistência das empresas em relação ao sistema.
A única empresa que operaria o sistema de forma correta seria a Globo.
O Consórcio afirma que, como órgão gestor, tem a prerrogativa de exigir das operadoras a utilização do Simop.
A Urbana-PE ainda não se manifestou sobre o assunto.
Contrato chegou a ser rompido Antes da abertura do crédito, em 23 de maio, o presidente do Consórcio, Ruy Rocha, havia enviado um ofício ao presidente da Etra, Francisco Javier López Buciega, afirmando que suspenderia o contrato por 180 dias a partir de 1º de junho.
A empresa é contra a suspensão, considerada “inconcebível com a urgência do uso do sistema, com tecnologia integrada para botão de pânico, inclusive”. “O Simop é uma ferramenta fundamental para a operação, fiscalização e planejamento do transporte público de passageiros da Região Metropolitana do Recife e o Consórcio manterá o contrato com a Etra”, defende o Grande Recife Consórcio. » Assembleia cancela gasto de quase 1 milhão para divulgação dos deputados em ônibus » Marília Arraes quer que presença de cobrador seja obrigatória em ônibus » Temer anuncia R$ 3 bilhões para modernizar frota de transporte público no País Para Pedro Josephi, da Frente de Luta pelo Transporte Público, questões políticas motivam o rompimento do contrato. “A crise econômica é de dois anos atrás.
Aqui, na verdade falta vontade política do Estado de cumprir o que foi pactuado”, afirma. “É muito grave que a gente não tenha fiscalização e monitoramento das empresas de ônibus, seja as que estão atuando sob concessão (as duas que venceram os lotes referentes ao BRT, Conorte e Mobibrasil) ou permissão (os cinco outros lotes, que não tiveram contratos de concessão assinados)”, diz. “A não implementação do Simop e a suspensão são a verdadeira máxima da raposa tomando conta do galinheiro.
Elas executam o serviço e fiscalizam?
Isso fulmina a existência do Grande Recife Consórcio.” Como funcionaria Com os atrasos na implantação do sistema, a fiscalização vem sendo feita por profissionais em campo com auxílio do Simop, embora o sistema ainda não esteja completo. “Os números do STPP/RMR são expressivos e desafiadores: atualmente, cerca de 3 mil ônibus realizam mais de 25 mil viagens diárias.
Por outro lado, o CTM conta com apenas 25 fiscais de linha e frota, atuando no campo, distribuídos em três turnos”, reclamava uma carta dos funcionários do CTM ao presidente do Grande Recife, apresentada na última quarta-feira (8), quando foi realizada uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) sobre o assunto.
A criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o transporte pública é articulada pela deputada Teresa Leitão (PT) no Legislativo estadual. » Projeto prevê que lucro com publicidade em transporte pode servir na redução de tarifa » Em nota oficial, PSOL ataca governador e reclama de ‘tubarões do transporte’ » Saiba onde achar seus pertences quando perder algo dentro dos ônibus Embora quase quatro anos depois da contratação ainda funcione dessa forma, o sistema permitiria um monitoramento mais tecnológico dos ônibus.
A licitação internacional para a contratação o Simop foi a primeira do tipo no País, um ano depois de a primeira tentativa de instalar um serviço semelhante com empresas locais falhou.
O diferencial seria a implantação de computadores de bordo em toda a frota, permitindo o registro de informações como o número de ordem do ônibus, o número da linha, a matrícula do operador e o início da viagem.
Seria possível, então, através do Centro de Monitoramento da Operação, saber se o ônibus estivesse operando dentro do programado ou não, considerando questões como trânsito.
Se as viagens não fossem cumpridas, os operadores poderiam ter a remuneração reduzida.