Luciano Siqueira, para o Blog de Jamildo A dúvida não é sobre o resultado da votação na Câmara dos Deputados, é sobre o dia seguinte.

Quanto à interrupção da denúncia da Procuradoria Geral da República contra Michel Temer, de fato não há dúvida: por margem estritamente suficiente, a maioria governista fará valer a sua vontade.

O que se questiona (segundo se noticia, na expressão do próprio Temer) é se o presidente impostor ganhará algum fôlego ou seguirá simplesmente feito “pato manco”. “Manco” porque frágil, desmoralizado e, no exercício do governo, a mercê das pressões do “centrão” fisiológico.

Do ponto de vista dos grupos que o sustentam, o Mercado sobretudo, pouco importa — desde que siga cumprindo a agenda de desmonte do Estado nacional e de regressão de direitos.

Temer teria dito ontem, em convescote com parte de sua base de apoio, que deseja passar à História como um governante corajoso, que promoveu mudanças.

O caráter das mudanças é que pesa.

Por isso, inevitavelmente, terá o pior lugar na História republicana, rejeitado agora e definitivamente execrado no futuro.

Há que se perguntar também que expectativa nutrem os parlamentares que se eximem de qualquer consideração moral e ética e se deixam capturar no balcão das negociatas.

Diz-se que a maioria pouco está se lixando para as consequências dos seus atos, seja pelos seus compromissos de classe, seja mesmo porque não se importa com o julgamento da opinião pública esclarecida e convertem em parte as benesses aferidas em fomento de suas bases eleitorais, de natureza clientelista.

Assim, Temer e seus apoiadores certamente entrarão pela madrugada comemorando a vitória urdida na lama; e o povo brasileiro, insatisfeito mas ainda atônito, amargando mais uma derrota.

Mas outras batalhas virão e os vencedores de agora terão que enfrentar a vontade da maioria, sob circunstâncias bem distintas e mais amplas do que os gabinetes palacianos, hoje convertidos em galpões de venda e troca.

A resposta virá nas ruas e nas urnas, quem sabe, a depender da dimensão em que a resistência, hoje fragmentada, venha a confluir para um leito comum de ideias e de ação.

E assim segue o purgatório da nação brasileira.