Uma semana após a depredação do canteiro de obras da transposição do Rio São Francisco em Salgueiro, no Sertão pernambucano, o secretário de Infraestrutura Hídrica do Ministério da Integração Nacional, Antônio de Pádua, vai se reunir nesta segunda-feira (16) com representantes da construtora Mendes Júnior.

Envolvida na Operação Lava Jato, a empreiteira deixou a obra há mais de um ano, mas, segundo a pasta, deixou uma dívida de cerca de R$ 24 milhões com comerciantes locais, suspeitos do vandalismo.

A Integração Nacional não deve pagar o débito.

Ainda na semana passada, a pasta afirmou que não cabe a ela negociar a parte da Mendes Júnior e que não tem dívidas com a construtora, e sim o contrário.

O cálculo é de que o débito da empreiteira com o governo chegue a R$ 200 milhões, referentes a multas por readequação de preços e a penalidades contratuais.

O encontro será em Juazeiro do Norte, no Ceará, às 15h.

LEIA TAMBÉM » Bomba da transposição é roubada e ministério suspeita de comerciantes em depredação » Ministro religa bombas da transposição inauguradas por Dilma em Pernambuco » Governo estuda privatizar transposição do São Francisco “Os débitos da Mendes Jr. com os comerciantes da região referem-se a uma relação contratual entre empresas privadas.

Pela legislação em vigor, o Ministério da Integração Nacional está impedido de saldar dívidas da construtora com seus fornecedores.

Os pagamentos aos fornecedores e comerciantes da região devem, assim, ser quitados pela empresa Mendes Júnior, que foi a responsável pela contratação dos serviços e aquisição dos materiais”, informava o ministério em nota.

Após a depredação do canteiro, a construtora Emsa, nova responsável pelas obras, registrou um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Cabrobó denunciando a depredação no canteiro e ameaças contra funcionários. » Técnicos da Chesf agora querem operar transposição do São Francisco » Um ano depois, obras são retomadas no eixo norte da transposição » População espera transposição, mas cobrança por consumo aflige Segundo o ministério, na última quinta-feira (5), antes da ação, foram comunicadas à pasta as ameaças de fechar o prédio onde funciona a Coordenação do Eixo Norte e a Gerenciadora, instalados em Salgueiro; invadir e paralisar o canteiro da empreiteira Emsa, assim como das suas subcontratadas; fechar a BR 116 no trecho em frente aos escritórios da coordenação; e depredar o canal e as obras em funcionamento.

Por causa das investigações da Lava Jato, a construtora foi considerada inidônea pela extinta Controladoria-Geral da União (CGU) e passou não poder contratar com o poder público e a ter dificuldades de obter crédito. » Paulo Câmara aceita divisão de custos da transposição e promete isentar mais pobres » Maia assina ordem de serviço de trecho da transposição parado há um ano » Após canal romper, barragens da transposição serão analisadas por consultoria As obras entre Cabrobó e Jati (CE) foram paralisadas em junho do ano passado, após o presidente Michel Temer (PMDB) assumir o governo com o processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT).

Houve atrasos na licitação para escolher a substituta, a Emsa, que só começou a operar em julho deste ano.

O edital só foi lançado em dezembro e o contrato assinado em abril, mas uma das construtoras que perdeu foi à Justiça para que a contratação fosse revista, fazendo o caso se arrastar por mais três meses.

O eixo norte é o maior da transposição e vai de Pernambuco ao Ceará, atendendo também à Paraíba e ao Rio Grande do Norte, onde um total de 7,1 milhões de moradores de 223 municípios serão beneficiados.

A promessa é de que, após mais de cinco anos de atraso, ele seja entregue no primeiro semestre do ano que vem, para tentar evitar o colapso hídrico na região de Fortaleza, onde aproximadamente 4 milhões de pessoas serão atendidas.

A conclusão do projeto vai custar ao todo R$ 516,8 milhões.

Briga pela paternidade da transposição Este ano, o presidente Michel Temer (PMDB) foi à cidade de Monteiro, na Paraíba, para inaugurar o outro trecho da transposição, o eixo leste.

Nele, a água do ‘Velho Chico’ é captada em Floresta, também no Sertão pernambucano, e passa por cerca de 200 quilômetros até chegar ao estado vizinho, onde atende principalmente a região de Campina Grande.

Apesar de ser o estado com maior trecho de canais, apenas cerca de 35 mil pernambucanos são atendidos até agora, na região de Sertânia, no Sertão.

A transposição tem sido alvo de uma disputa política por paternidade.

Temer tenta vincular a sua imagem à conclusão do projeto - das cinco vezes em que esteve no Nordeste, em três visitou os canteiros - para tentar aumentar a popularidade na região onde tem a maior taxa de rejeição.

Enquanto isso, o ex-presidente Lula (PT) cobra a paternidade da obra iniciada no seu governo e, em março, visitou a Paraíba para ‘reinaugurar’ o eixo leste.

Até o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), de olho nas eleições de 2018, usa a transposição - ele visitou a obra por ter cedido através da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) conjunto de motobombas para fazer o projeto funcionar.

Marcando presença no empreendimento que deve ser inaugurado por ele, o ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, esteve em Tucutu há um mês, religando as bombas que foram inauguradas por Dilma dois anos antes.