Estadão Conteúdo - Consolidado em segundo lugar nas pesquisas de intenções de votos a presidente da República, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) perderá espaço para um candidato moderado de centro-direita tão logo tenha início a corrida eleitoral de 2018.

Esse candidato seria o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ou o prefeito de São Paulo, João Doria - ambos do PSDB.

A análise é do cientista político e sócio-diretor do Instituto Análise, Alberto Carlos Almeida, autor do livro A Cabeça do Eleitor.

Neste momento parece que há uma busca pelo novo em parte do eleitorado.

Por quê?

Primeiro temos de pensar exatamente o que significa novo.

Se for o candidato que não seja do PT e do PSDB, então o Bolsonaro é novo.

Se for quem não disputou nenhuma eleição presencial, o Bolsonaro é novo.

Se o novo for isso, foi encontrado.

O eleitorado, no entanto, é reticente a isso.

Talvez isso seja mais uma demanda de segmentos da elite do que propriamente do eleitorado.

Em situações concretas, o eleitorado demanda políticos que tenham currículo, algo para mostrar e um partido com estrutura capaz de governar.

Alguns analistas afirmam que o próximo presidente será do campo da centro-direita.

O senhor concorda?

Por quê?

Acho que temos essa configuração: a região Nordeste é a cidadela eleitoral do PT na eleição presidencial.

E a cidadela do PSDB é São Paulo.

Vejo que essa cidadela já apareceu no caso do Lula e vai aparecer para o candidato do PSDB, que eu entendo que será o Alckmin.

Como ficaria a disputa entre Alckmin e o prefeito João Doria, que também é do PSDB e é apontado como presidenciável?

A questão do PSDB é se o Doria será candidato por outro partido ou não.

Trabalho com o cenário de que Alckmin consegue a indicação do partido.

Doria vai ter de escolher se fica no partido, se continua na Prefeitura ou se faz um acordo e vira candidato ao governo.

Por outro lado, o Doria teria como opção ir para outra sigla.

O DEM, talvez.

Isso divide os eleitores do PSDB?

No início da corrida, sim.

Mas o PSDB tem uma megaestrutura que o Alckmin teria a seu favor, e que o Doria não teria.

Como o senhor analisa o desempenho de Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenções de voto?

Há discurso de oposição ao governo vindo da direita e da centro-direita.

Acredito que ele (Bolsonaro) irá perder votos para um candidato de centro-direita.

Quanto ele vai perder, não sei.

Mas quando a campanha começar ele perderá uma fatia importante dos seus votos para um candidato que terá uma agenda similar a dele em vários aspectos. É difícil ele que chegue no segundo turno.

Ele está esquentando o lugar de um candidato de centro-direita que se comporte de uma maneira mais equilibrada.

O sr. vê similaridade entre eleitores de João Doria e Jair Bolsonaro?

O perfil socioeconômico é o mesmo: eleitor de renda média alta.

Por isso digo que eu um candidato que tenha a cabeça no lugar vai tirar voto do Bolsonaro no campo da centro-direita.

Hoje o Bolsonaro está tirando voto do Alckmin.

Daqui a pouco, será o contrário, o candidato do PSDB tirando voto do Bolsonaro.

Para Bolsonaro seria melhor que Doria e Alckmin disputassem em partidos diferentes?

Sim, isso interessa para ele.

O ex-presidente Lula lidera as pesquisas mas, ao mesmo tempo, 54% querem vê-lo preso.

Como explica? É importante cruzar os dados dentro da pesquisa.

Quantos que votam nele querem vê-lo preso?

Qual é a contradição? É alguém que vota nele e quer vê-lo preso.

A contradição seria neste segmento do eleitorado, um segmento pequeno do eleitorado.

Qual será o papel de Lula nas próximas eleições?

Poderá haver uma eleição sem candidatura Lula, mas não haverá eleição sem o “eleitor Lula”, mesmo que ele seja preso.

O candidato do PT vai usar imagens de Lula e o candidato com o apoio dele tende a crescer com votos no Nordeste.

Em seu livro, o sr. diz que a avaliação de governo é importante na decisão do eleitor.

O governo Temer tem reprovação recorde.

Um candidato governista tem chance?

Para efeito de análise, você pode dividir eleições em dois tipos: governista ou oposicionista.

Você pode fazer uma retrospectiva de todas as eleições pós democratização e fazer esse tipo de análise.

Hoje o que está se configurando é uma eleição de oposição.

O candidato que encaixar melhor um discurso de oposição poderá ser considerado favorito.