Especial para o Blog de Jamildo A decisão do STF de encaminhar à Câmara dos Deputados a segunda denúncia da Procuradoria Geral da República contra Temer e as declarações duras do deputado Rodrigo Maia, presidente em exercício, contra interferências do Planalto na disputa por parlamentares de direita ora alojados no PSB se mantêm com destaque no noticiário da crise.

Quase que apenas “detalhes”, entretanto, num oceano de contradições que afetam todas as esferas da sociedade brasileira.

Concomitantemente, a mini reforma política confirma remendos num sistema caduco.

Menos mal, pois com a atual composição do Congresso Nacional, reformas estruturais progressistas são impensáveis.

O fato é que a conjuntura pós-impeachment segue marcada pala imprevisibilidade e pela dispersão no terreno das ideias, enquanto avança a agenda regressiva de cunho neoliberal encetada por Temer e seu bando.

Nesse cenário, permanece a discrepância entre o grau de insatisfação reinante na sociedade e o aparente imobilismo.

A reação popular, aqui é mundo afora, em geral não se faz de imediato a uma grande derrota.

O primeiro momento configura perplexidade e resistência “primária”, onde cada segmento social e cada corrente política reage como pensa que pode e conforme suas circunstâncias, sem que as energias convirjam para um mesmo leito.

Esse é o desenho natural da evolução da consciência social mais avançada em tempo bicudo.

O PCdoB — que detém a primazia na análise multilateral do que se passa no país desde 2002, incluindo o legado dos governos Lula-Dilma — tem assinalado a absoluta necessidade da construção de ampla frente social e política em torno de uma plataforma destinada à superação da crise e a retomada do ciclo transformador, em novo patamar.

Uma empreitada hercúlea.

Nada fácil, como nunca foi.

Nem há fórmula definida nem roteiro rígido.

O diálogo entre os diversos segmentos da atual resistência, incluindo personalidades e grupos que se desgarram das hostes governistas, ao mesmo tempo e em sintonia com as manifestações concretas de luta nos salões e nas ruas, há que prosseguir — livre de estreitezas e sectarismos, tendo a defesa da nação como vértice.

A existência de pré-candidaturas à presidência da República, nesse cenário, além de um direito natural dos partidos, pode contribuir para uma ulterior conjugação de forças.

Lula, pelo PT e Ciro Gomes, pelo PDT pode cumprir esse papel.

Em seu documento-tese em debate relativo ao 14° partidário, o PCdoB reafirma que seus esforços “pela constituição da Frente Ampla, pela coesão do campo democrático patriótico e popular, em torno de um programa e de uma candidatura; podendo, nesse processo, apresentar ao povo e às forças políticas progressistas uma pré-candidatura presidencial que contribua para a concretização destes objetivos.” Uma pré-candidatura do PCdoB, nesses termos, em muito poderá contribuir no debate de novos rumos para o país.

Luciano Siqueira