Em pronunciamento no Senado nesta quarta-feira (27), o líder da oposição, Humberto Costa (PT-PE) voltou a criticar a negociação que pode levar para o Paraná, reduto eleitoral do ministro da Saúde, Ricardo Barros, o produto com maior valor agregado da Hemobrás, que tem planta em Goiana (PE).

A negociação era encabeçada pelo próprio Barros, mas foi suspensa quando o presidente Michel Temer (PMDB) se reuniu com os quatro ministros do Estado e interveio, mandando suspender a articulação.

No discurso, o petista questionou aos auxiliares do peemedebista: “Foram feitos de palhaços por um colega ou sabiam dos planos dele e se prestaram a mentir aos pernambucanos?”.

O acordo de transferência de tecnologia para a obtenção do fator VIII recombinante, medicamento usado no tratamento de hemofílicos, foi assinado há uma semana pela Octapharma e o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), vinculado ao governo estadual de lá.

O contrato é semelhante ao que era negociado por Barros e ao que a Hemobrás tem hoje com a Shire, prevendo a compra do recombinante e depois a entrega da tecnologia para que seja produzido em Pernambuco.

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Bancada vê novo ataque à Hemobrás » Juiz manda Hemobrás contratar empresa fracionadora de plasma » Após polêmica com Hemobrás, Senado quer auditoria em contratos da Saúde No seu discurso, Humberto Costa acusou o ministro de mentir para a bancada de Pernambuco, que tem uma reunião nesta quarta-feira (27) com Temer sobre o assunto.

Para o petista, Barros também mentiu para o Ministério Público Federal e o Tribunal de Contas da União, que investigam os contratos. “Mentiu com a parceria de quatro Ministros de Pernambuco, que se colocaram como fiadores de suas palavras, tão verdadeiras quanto uma nota de R$3, e que hoje se veem desmascarados por um novo e sério ataque à fábrica da Hemobrás”, afirmou. “Apesar de assustador, pela falta de vergonha na cara do Ministro, não se pode deixar de dizer que esse novo ataque é coerente com o Governo de onde parte: é falso como ele, é descarado como ele, é mentiroso como ele.” » Multinacional desmente ministro e diz que pode investir até mais do que anunciado na Hemobrás » Ministro tem prazo de validade, diz Mendonça sobre Barros por causa da Hemobrás » Temer ‘atende’ ministros, contraria Ricardo Barros e mantém Hemobrás em Pernambuco Humberto Costa defendeu a demissão de Barros, apontado por ele como despreparado, acusando-o de agir com interesse político-eleitoral. “Estou protocolando também um requerimento de informações para que Ricardo Barros explique a sua fixação freudiana – ou seria outra coisa, não sei – por essa ideia, que tem por trás uma empresa privada”, anunciou ainda. “Ele precisa esclarecer a natureza da sua relação com essa empresa Octapharma e por que insiste tanto nesse projeto, que só vai trazer dano para o nosso País.

E guarda o risco da própria privatização do setor de sangue no Brasil, algo tão abjeto quanto a venda de órgãos humanos.” » MPF faz recomendações ao Ministério da Saúde contra mudanças na Hemobrás » Presidente da Hemobrás contraria ministro e mostra interesse em manter contrato » Funcionários da Hemobrás denunciam ‘revés’ da União e rebatem ministro, que quer levar fábrica para reduto eleitoral Em reunião no Senado em agosto, Barros afirmou que Humberto trouxe a fábrica da Hemobrás quando era ministro da Saúde, no governo Lula (PT), e que o petista não poderia fazer as críticas por isso. “Provamos que não era uma questão de bairrismo, mas uma questão estratégica e absolutamente em respeito aos princípios que regem a Administração Pública.

Pernambuco já tem um hemocentro de referência nacional, que é o Hemope”, respondeu o senador, que frisou que o investimento na planta até agora foi de R$ 1 bilhão.