O secretário­-geral da Presidência, o ministro Moreira Franco distribuiu pelo Brasil sua entrevista em que afirma que a Polícia Federal errou ao concluir o inquérito que aponta o presidente Michel Temer como líder de uma organização criminosa no PMDB “ouvindo só delator”.

Ele classifica a acusação como uma “afronta” e ironiza o gráfico criado para ilustrar a peça. “Conseguiram uma coisa fantástica: unir o PMDB.

Dr.

Ulysses [GUIMARA~ES] não conseguiu, Michel Temer não conseguiu, mas esse infográfico consegue”, diz.

Moreira falou com a Folha na última quarta (13), em Brasileia, antes da formalização da nova denuncia contra o presidente.

Diz que o revés na delação da J&F mostra que “a verdade dos fatos é mais forte que a verdade da versão”.

Sobre a foto dos R$ 51 milhões atribuídos ao ex­ministro Geddel Vieira Lima, é econômico. “Deve ter uma explicação.

Espero que tenha.” Folha ­ A Policia Federal concluiu inquérito sobre o chamado quadrilha do PMDB e implicou o presidente e o núcleo duro do governo, inclusive o sr., num esquema de corrupção.

Moreira Franco ­ Recebi a informação com muita surpresa, porque não fui ouvido.

A coisa mais elementar num inquérito dessa natureza é ouvir as partes, não só o delator.

Isso me causa um sentimento de injustiça e até de impotência do ponto de vista do exercício da minha cidadania.

E vejo nesse infográfico [o esquema montado pela PF para ilustrar a suposta organização criminosa] vários furos, furos que quem acompanhou as delacões publicadas pode constatar.

Por exemplo?

Aparece lá o meu nome vinculado à OAS.

Eu conheci o presidente da OAS quando era ministro da Aviação Civil, no governo Dilma.

E conheci com ele trazendo uma demanda que não foi atendida.

Qual era a demanda?

Ele queria que fosse suspenso um critério adotado para os leiloes dos aeroportos.

E se mobilizou, me atacaram na imprensa…

Fui convocado à Comissão de Transportes da Câmara, entraram com medida junto ao TCU.

Dizem agora que eu teria recebido R$ 5 milhões.

Na realidade, eles [OAS]deram ao PMDB uma contribuição de R$ 5 milhões, o que irritou profundamente o Eduardo Cunha, que nunca nutriu por mim nenhuma simpatia.

E vice­versa.

O PMDB tem como característica uma divisão interna muito grande.

Eu tenho uma relacão com o presidente Michel Temer. É uma pessoa com quem eu tenho identidade acadêmica e intelectual.

Agora, a partir dai querer montar um conjunto, uma teia de compadrio para a prática do ilícito, é uma afronta.

Esse gráfico consegue uma coisa fantástica: ele une o PMDB.

Doutor Ulysses [GUIMARA~ES] não conseguiu, Michel Temer não conseguiu, mas esse infográfico consegue.

Lúcio Funaro, apontado como operador do Cunha, também faz acusacões ao PMDB da Câmara, ao presidente e ao senhor.

Nunca estive com esse senhor, nunca vi na minha vida.

Ele era ligado ao Cunha.

E minhas relacões com o Cunha não eram de intimidade.

Ele cita negócios na Caixa, banco do qual o sr. foi vice­presidente.

O FI­FGTS [linha de financiamentos que seria liberada à base de propina] foi criado pelo presidente Lula.

Quando eu entrei ele já existia.

O FI era administrado por outra vice­presidência, a de Ativos de Terceiros.

A área que eu comandava se pronunciava apenas sobre a conformidade da proposta.

E era uma avaliação feita embaixo, nem chegava a mim.

Não tive nenhuma ingerência.

Não agia no processo de decisão, não do ponto de vista financeiro.

Funaro diz ter provas.

Quero ver as provas.

Prova existe ou não existe.

E deveria estar nos autos.

Uma delacão é só´ um indicativo à apuracão.

Só que no Brasil de hoje a delacão está substituindo a investigacão.

Como você vai receber recursos se você não tem poder de decisão?

A impressão que eu tenho é que há´ um esforço grande para comprometer a honra do presidente.

E como eu tenho uma relacã com ele há anos, o esforço de me introduzir nisso é para atingi­lo.

Como viu o revés na delacão de Joesley Batista?

Temos que ter espírito público para combater os excessos.

Pegam­se delatores e abre processo.

Bate, depois arquiva, mas o dano já está feito.

Não tenho dúvida de que a verdade dos fatos é muito mais forte do que a verdade da versã. É isso o que as pessoas estão vendo.

O senhor fala como se excessos fizessem parte da depuracão.

Veja, se for olhar a história, a Revolucão Francesa teve um período de terror.

Robespierre fala por si so´. [Maximilien de Robespierre, um dos personagens mais importantes da Revolucão Francesa.

Era tão radical que mandava matar até aliados moderados.

Acabou morto na guilhotina.] Estamos há mais de dez anos em um processo que começou no mensalão e vem até hoje.

Esses episódios mostram que o sistema político já não atende mais, está podre.

E não digo podre por ter havido o mensalão, mas porque não é mais funcional.

Está bichado no que é essencial: na capacidade de fortalecer e de ser fortalecido pela maioria.