O advogado e ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo criticou nesta sexta-feira (15), em entrevista ao programa Resenha Política, fatos que aponta como exageros da Operação Lava Jato.

Para ele, o combate à corrupção é uma virtude, mas os crimes não podem ser combatidos com abusos de poder. “Quando começa a exagerar, une quem tem que ser punido com inocente e ele acaba usando o inocente como escudo”, afirmou.

Cardozo questionou, por exemplo, as denúncias por organização criminosa contra as cúpulas dos maiores partidos do País: PMDB, PT e PP.

O advogado afirmou não ter constatado o crime nos documentos.

Apesar de considerar que há indícios graves contra os peemedebistas Rodrigo Rocha Loures e Geddel Vieira Lima, ex-assessor e ex-ministro flagrados com malas de dinheiro, afirmou que não se pode interpretar como ilícita a nomeação de alguém que se torna investigado depois. “Assim, todos os prefeitos e governadores do País são organizações criminosas.

Ninguém consegue governar se não tem maioria e tem que provar que a pessoa foi nomeada para roubar.

Essa prova eu não vi em lugar nenhum”, afirmou. “Isso é gravíssimo, é a presunção de inocência às avessas.” As investigações começaram há dois anos, contra o chamado núcleo político da Operação Lava Jato, depois foram desmembradas de acordo com as siglas e as acusações foram apresentadas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF) nos últimos dias à frente do Ministério Público Federal (MPF).

A última foi contra o presidente Michel Temer e os caciques do PMDB, nessa quinta-feira (14). “O governo Temer exagera e há um exagero contra ele.” Questionado sobre a saída de Janot e a entrada de Raquel Dodge no cargo, Cardozo previu uma mudança de estilo no órgão, mas que a institucionalidade será respeitada. “O Ministério Público é composto por homens e mulheres que acertam e erram, que cumprem a lei e abusam, como qualquer outro órgão.

Não podem ser santificados nem demonizados.” Cardozo defendeu o ex-presidente Lula (PT), já condenado na Lava Jato e alvo de mais cinco processos.

Ele avalia as provas nos processos como frágeis. “É o in dubio pau no réu”, ironizou, sobre a expressão in dubio pro reu, expressão que indica o princípio jurídico da presunção da inocência. “Tenho certeza de que ele demonstrará sua inocência.” Assista à entrevista com Cardozo Delação da JBS Citado na delação de Joesley Batista, Cardozo afirmou que foi chamado pelo empresário para uma consulta processual, o que faz parte do sigilo profissional dos advogados, e que não esperava que fosse gravado naquela situação. “Fico muito triste, claro que me atinge profissionalmente”, disse.

O objetivo do empresário seria usar o ex-ministro contra o Supremo Tribunal Federal (STF). “Se eu tivesse ministro na mão, Dilma não teria sido derrotada.

Até hoje o caso não foi julgado e perdi outros mandados de segurança”, voltou a afirmar.

Questionado sobre a validade das provas da delação da JBS, sob análise da Corte, respondeu que “neste momento não dá para se saber o que vai acontecer”.

Ex-ministro e amigo pessoal da ex-presidente, com quem revelou falar diariamente por telefone, Cardozo defendeu que a petista é honesta. “Ela pode ter muitos outros defeitos, mas é intrinsecamente honesta.

Ela pagou um preço muito alto por isso justamente por ser uma pessoa muito rigorosa por não aceitar coisas que no cotidiano da política brasileira muitas vezes são atingidas”, afirmou sobre o impeachment. “Agora os bastiões da moralidade estão aí ruindo.

Muitos só não foram presos em flagrante porque são parlamentares.”