Por Charbel Maroun, em artigo enviado ao Blog de Jamildo A situação política na Venezuela, agora transformando-se claramente num estado totalitário, com repressão e violência por parte do Estado, tem chamado bastante a atenção dos brasileiros, devido à proximidade ideológica que sempre se verificou entre os governos Chavez/Maduro com os 14 anos de petismo do Brasil.

As demonstrações de apoio mútuo foram muitas: Lula chegou a gravar um vídeo em apoio à eleição de Nicolas Maduro durante sua campanha presidencial em 2013, os investimentos do BNDES no país foram vultuosos, e a internet está repleta de imagens e notícias de Lula e Dilma em homenagens a Hugo Chavez, demonstrações de alinhamento ideológico, como projetos similares de parceria política.

A falência do modelo venezuelano seria uma prévia do que aconteceria no Brasil, caso tivéssemos seguido o mesmo caminho, e esse risco ainda não está de todo afastado.

Frente à impossibilidade de disfarçar essa associação, nem as provas das estreitas relações entre os dois regimes, as lideranças e movimentos de esquerda tem usado o argumento de que a crise venezuelana foi causada pela queda nos preços do petróleo, principal fonte de renda do país.

Porém, o que se verifica é que a inflação e escassez de produtos já começara muitos anos antes da queda nos preços do barril, ainda na era Chavez.

Quando Nicolas Maduro assumiu, em maio de 2013, já herdou de seu antecessor uma grave crise de abastecimento, onde a taxa de carestia de produtos chegava a 21%.

Nesse mesmo mês, o preço do barril de petróleo ainda rondava a casa dos incríveis 95 dólares!

Outro argumento dos bolivarianos é de que o país vem sofrendo boicote da classe empresarial, que não aceitaria reduzir os seus lucros e estaria sabotando o regime para derrubar o presidente Maduro.

Ora, custa-me acreditar que alguém possa acreditar de verdade numa infantilidade dessas!

Qual empresário vendo a população com escassez de alimentos, medicamentos e produtos básicos, não se interessaria em ganhar dinheiro fornecendo esses produtos?

Seria um caso único onde existe demanda, mas ninguém interessado em fornecer!

A verdade é que os produtores pararam de produzir por que o governo interviu tão desastradamente na economia que foi mais interessante fecharem seus estabelecimentos do que continuarem a produzir.

A verdade é que tudo o que acontece na Venezuela hoje é culpa exclusivamente do governo centralizado e interventor.

Maduro já pegou o estrago feito, e sua decisão de dobrar a aposta nas mesmas políticas, só aceleraram o processo terminando de destruir o que Chavez já havia iniciado.

Na ânsia de fazer populismo com subsídios e programas sociais, o governo: 1) Aumentou os gastos públicos, consequentemente, aumentou também os impostos para custeá-los, desestimulando a produtividade. 2) Com o enfraquecimento do PIB, e a crise nas contas públicas, veio a necessidade de se imprimir dinheiro pra poder pagar as contas; 3) A impressão de moeda, sem a criação de riqueza econômica equivalente, provocou alta na inflação. 4) Pra segurar a escalada da inflação, o governo passou a realizar o controle artificial do câmbio, o que implodiu as importações, dando início ao desabastecimento de vários produtos no mercado interno; 5) Com a inflação cada vez mais fora de controle, o governo tentou uma solução drástica: controle de preços.

A Lei de Preços Justos de 2011, que inicialmente abrangia apenas alguns itens, e depois foi ampliada pra um número cada vez maior de produtos com preços tabelados pelo governo.

A essa medida, juntou-se mais tarde uma outra lei, chamada de Lei de Preço Máximo de Venda ao Público.

A ideia do socialismo é o planejamento econômico centralizado pra distribuição igualitária de recursos.

Ora, o economista austríaco Ludwig von Mises, há mais de 70 anos, já demonstrou com uma clareza extraordinária que ao enfraquecer a propriedade privada, acaba-se com o mercado, sem mercado não há sistema de preços, sem sistema de preços é impossível realizar cálculo econômico, e sem cálculo econômico é impossível planejamento da economia!

O preço tem uma função a cumprir. É o preço que dá o sinal pro mercado se há escassez ou abundância daquele produto ou de qualquer outro dentro da cadeia produtiva até o consumidor final.

Aquele numerozinho condensa uma quantidade enorme de informações, que ajudam o consumidor a fazer sua escolha, e orientam o produtor a produzir o que precisa ser produzido, a forma como deve ser produzido, e a quantidade que deve ser produzida.

Quando o governo pratica controle artificial desses preços ele está maquiando a realidade, e emitindo os sinais errados ao consumidor e ao produtor.

O resultado é que a economia colapsa, pois ela reage aos estímulos errados emitidos por preços e câmbios controlados artificialmente. É tão difícil entender isso?

Aqui no Brasil nós já não experimentamos o congelamento de preços na década de 80/90 pra combater a inflação, e tivemos as mesmas prateleiras vazias nos supermercados?

Não foi baixando artificialmente os preços da energia elétrica que quase passamos por racionamento de energia novamente no governo Dilma?

Quando a economia colapsa completamente, e é impossível reverter a insatisfação popular pelas vias democráticas e manter-se no poder.

A única saída então é o uso da força, repressão, controle da mídia, cooptar as instituições, etc.

Em seu clássico “O Caminho da Servidão”, Friedrich Hayek já fazia essa analogia entre o socialismo e o totalitarismo.

A concentração de poder num governo central, e a intervenção econômica exagerada, conduziria automaticamente ao totalitarismo.

Não é Nicolas Maduro que está deturpando a ideologia.

A repressão política que os venezuelanos estão vivendo agora é a consequência natural da crise econômica em estágio avançado de socialismo. É por isso que o resultado foi o mesmo totalitarismo na União Soviética, China, Cambodja, Cuba, Vietnam, Leste Europeu, etc…

A lista é longa.

Aliás, as semelhanças não param por aí: na URSS, muitos produtores rurais, engenheiros, e diversas categorias de profissionais foram mortos ou enviados para campos de concentração pelo crime de atividade contra-revolucionária, acusados também de boicote econômico contra a revolução.

Lá era a revolução marxista-leninista, agora é a revolução bolivariana.

O Brasil precisa parar de flertar com esse risco, travestido de justiça social, de defesa dos pobres.

Esse é o argumento que todo ditador usou pra provocar os maiores genocídios que o século XX testemunhou.

Aprendamos portanto a lição que mais esse capítulo do socialismo nos dá.

Charbel Maroun é advogado, Procurador do Município do Recife e fundador do Partido NOVO em Pernambuco