A campanha Instinto de Vida, uma coalizão de mais de 40 organizações dos sete países latino-americanos para reduzir os homicídios, divulgou nesta semana que passou, uma pesquisa sobre a percepção da violência em seis países da região: Brasil, El Salvador, Guatemala, México, Honduras e Venezuela.
Os resultados serão apresentados durante o seminário “Como reduzir a violência letal na América Latina e Caribe”, na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington.
Brasil e Venezuela são os países que mais temem a violência, com, respectivamente, 42% e 47% das respostas positivas para a sensação de “muito medo”.
Entre os entrevistados brasileiros, outros 43% afirmam sentir “algum medo” ou “pouco medo”.
Apenas 15% dizem sentir medo nenhum.
Curiosamente, a pesquisa revelou que nem sempre há relação direta entre altas taxas de homicídio e sensação de medo.
El Salvador e Honduras, por exemplo, registram as mais altas taxas de homicídio da região – 91,2 e 59,2 por 100 mil pessoas respectivamente –, mas o número de entrevistados dos dois países que declararam que homicídios haviam ocorrido em seus bairros nos 12 meses anteriores e disseram sentir medo é comparativamente menor que em outros países. “A explicação mais provável é a de que pessoas expostas cronicamente à violência tendem a normalizá-la com o passar do tempo”, explica a entidade.
O Brasil, que tem 25 das 50 cidades em que há mais assassinatos no mundo e taxa de homicídio de 27,5 para cada 100 mil habitantes, apresentou o maior número de respondentes que confirmaram a ocorrência de homicídios.
Brasil e Venezuela também apresentaram os índices mais altos de respostas positivas para ocorrências mensais ou até mesmo semanais do crime.
Enquanto isso, no México, a proporção ficou em torno de 50%; em El Salvador e Honduras, a média ficou entre 30% e 40%.
Entre 50% e 75% dos entrevistados disseram ter medo de ser vítima de homicídio.
Apesar desse cenário, a população da América Latina acredita que é possível reverter a situação.
A maioria dos entrevistados declarou que os governos nacionais e os cidadãos deveriam tomar a frente da redução dos homicídios.
Os declarantes também acreditam que estratégias de prevenção – especialmente educação e emprego – são fundamentais.
Nos países com abordagens repressivas (como, por exemplo, em El Salvador e Honduras), há um interesse proporcionalmente maior por intervenções preventivas. “Há evidências que sustentam essa esperança.
A campanha Instinto de Vida identificou uma série de medidas baseadas em dados capazes de prevenir homicídios.
Entre elas, estão estratégias de dissuasão que priorizam os crimes mais violentos, intervenções em áreas de manchas criminais, regulação responsável de armas e munições e prevenção de reincidência”. “Em termos de custo-benefício, as estratégias mais eficientes de redução da violência letal incluem mais investimento para melhorar a situação de famílias instáveis e a promoção da parentalidade positiva.
Intervenções que desestimulem a evasão escolar, promovam a formação vocacional, criem empregos significativos e ofereçam habilidades vitais para jovens em situação de risco também são eficientes”.
A pesquisa foi realizada pelo Latin American Public Opinion Project (LAPOP), da Universidade de Vanderbilt, entre outubro de 2016 e março de 2017.