Estadão Conteúdo - Joesley Batista já descansava em sua casa, em São Paulo, quando Rodrigo Janot postou-se frente às câmeras, em Brasília, para anunciar que poderia cancelar a delação do empresário.

Durante os quase 20 minutos em que o procurador-geral da República falou na noite da última segunda-feira, dia 4, o mundo político parou.

Na Rua França, no bairro paulistano do Jardim Europa, a tevê de Joesley permaneceu desligada.

O empresário preferiu não ver o pronunciamento.

O insistente tilintar do aparelho celular, no entanto, foi mais difícil de ignorar.

Aos mais chegados, Joesley respondeu não entender o que se passava.

O delator mais famoso do País repetia não saber por que Janot estava tão irritado.

A aparente serenidade contrastava com a percepção geral de que Janot impunha profundo revés ao empresário.

Joesley, que comprara briga com o presidente da República e com boa parte da classe política, perdia naquele momento seu mais importante aliado.

Por meses, o procurador-geral defendera os termos do acordo, que previa imunidade total ao bilionário.

Com sua fala, Janot escancarava a possibilidade de que ele fosse parar na cadeia.

Joesley, que até então parecia conseguir se antecipar aos fatos e controlar seu destino na investigação criminal, não percebeu.

Cinco dias antes, o empresário entregara ao Ministério Público Federal nova leva de áudios, incluindo a gravação que enfureceu Janot.

Havia sido o próprio Joesley, com ajuda de um advogado interno da J&F, o encarregado de analisar e preparar o anexo que incluía o áudio comprometedor - seu principal advogado na delação, o criminalista Pierpaolo Bottini, estava impedido de auxiliá-lo por defender citados na gravação.

Com o conteúdo enviado à PGR, Joesley voltou-se a problemas de ordem empresarial.

Preocupava a tentativa do BNDES de sacar seu irmão Wesley da presidência da JBS, companhia criada por seu pai e principal fonte de riqueza do grupo.

O conglomerado lutava ainda para fechar a venda da Eldorado Celulose, que garantiria à J&F dinheiro para quitar suas dívidas.

As boas notícias vieram.

Com ajuda da Justiça, a disputa com o banco estatal foi adiada.

A Eldorado foi passada à frente, num acordo que previa o pagamento de espantosos R$ 15 bilhões.

Tudo parecia caminhar bem no mundo de Joesley.

No domingo, o clima era de comemoração na casa do bilionário.

Lentidão Joesley não admitia que o movimento de Janot representasse o fim da boa fase.

Insistia com seus auxiliares que a situação era contornável.

Na manhã seguinte à fala de Janot, na terça-feira, 5, fez questão de manter a rotina.

Aprumou-se e seguiu para Brasília em seu jatinho para um depoimento previamente agendado.

Foi quando o áudio começou a vazar.

Na conversa com o lobista e também delator, Ricardo Saud, um embriagado Joesley falava de planos para manipular procuradores, enredar o STF na delação, conquistar mulheres.

Abundavam palavras chulas e impropérios.

Num só lance, Joesley se indispunha com a PGR, com o Supremo, com sua mulher e até com sua defesa – citada de forma grosseira por Joesley no áudio, uma de suas advogadas deixou o caso.

Seus assessores ficaram atordoados.

Reclamavam de não terem sido avisados do áudio.

Diziam não entender como o bilionário, até então tão astuto, cometera erro de avaliação tão crasso.

Com estilo centralizador, Joesley escolhera os passos que pavimentaram sua exitosa delação.

Era também ele o responsável por levá-lo à crise que ameaçava sua liberdade.

Somente na quarta, dois dias após Janot avisar que poderia revogar os benefícios de sua delação, Joesley chamou assessores para analisar o que fazer.

Rumou para o escritório de Bottini, na região da Avenida Paulista, de onde só saiu após a noite cair Reunido com Saud e o advogado Francisco de Assis (também delator), e em meio a um vaivém de advogados, ouviu a gravação.

Afirmou aos auxiliares não ter mudado de opinião.

Para ele, não havia crime e, por isso, não havia o que temer, segundo pessoas próximas.

Joesley fiava-se em sua capacidade de se safar de problemas.

Avaliava que seu depoimento, marcado para o dia seguinte em Brasília, esclareceria os fatos, preservando sua delação premiada.

Baque Tal tranquilidade não era partilhada por Saud e Assis, que já demonstravam forte apreensão.

Familiares também indicavam nervosismo com a situação.

Um executivo que esteve com Wesley Batista na semana passada diz que o empresário não escondia o abatimento com a ameaça de prisão do irmão.

Já Joesley seguiu em estado de aparente negação até o pedido de prisão se concretizar Já de volta a São Paulo, na sexta, argumentava que não havia motivo jurídico que o levasse à cadeia.

Reclamava de cansaço e disse que emendaria o feriado.

No sábado, com o pedido de prisão consumado, restou a Joesley pensar em como seguir para a cadeia.

Cogitou pegar seu jatinho e se entregar em Brasília.

Foi desaconselhado por advogados, temerosos de que o movimento até o aeroporto fosse visto como tentativa de fuga.

No domingo, 10, de manhã, ainda tentou tranquilizar o pai e a mãe.

Partiu da casa dos dois rumo à carceragem da PF em SP.

As informações são do jornal O Estado de S.

Paulo.