Estadão Conteúdo - O Ministério de Minas e Energia (MME) admitiu que os cortes federais atingiram os valores que seriam destinados para o programa Luz Para Todos neste ano.

Questionado sobre a baixa execução verificada no primeiro semestre, a pasta declarou, por meio de nota, que “a execução orçamentária do Luz para Todos em 2017 será reduzida em 16,8%”.

Segundo o MME, no entanto, o ritmo da execução orçamentária ocorre conforme o avanço físico das obras e, em sua avaliação, “está de acordo com o cronograma de 2017”.

LEIA TAMBÉM » Frente vai pedir a ministério para recuar em privatização da Chesf » Fernando Filho diz que comprador da Eletrobras será obrigado por lei a preservar São Francisco por 30 anos O ministério declarou que contratações de empresas responsáveis pelas ligações não serão suspensas, mas que, “em função da revisão orçamentária, alguns contratos serão firmados este ano e a primeira liberação ocorrerá no início de 2018”.

Sobre a meta de ligações em todo o País, o MME afirmou que a previsão é atender 41.391 famílias no meio rural em 2017.

A empresa Energisa, responsável pelas ligações do Luz Para Todos desde 2014 em Tocantins, declarou que o programa está em sua sexta e última fase de execução e que o contrato dessa etapa assinado em julho, prevê o atendimento de 6.416 ligações até setembro de 2018.

Desse total, segundo a empresa, 1.916 novas ligações serão feitas neste ano, nos 34 municípios contemplados pelo programa.

As demais 4,5 mil ligações serão realizadas no ano que vem, atendendo cerca de 25 mil habitantes em todo o Tocantins. » Resenha Política debate privatização da Eletrobras e visita de Lula a Pernambuco » Fernando Filho pretende privatizar Eletrobras até o primeiro semestre de 2018 Sobre as queixas dos moradores em relação aos atrasos nas ligações, a Energisa afirmou que assumiu a distribuidora do Tocantins somente em 2014 e que, desde então, tem cumprido o cronograma estabelecido pela Aneel. “Em 2016, por exemplo, a empresa finalizou, no prazo, o cronograma da quinta etapa.

Entre 2014 e 2016, atendeu a cerca de 8 mil clientes dentro do Luz Para Todos”, informou.

Sobre as queixas concentradas em Crixás, a empresa declarou que uma resolução de 2015 definiu que o atendimento da região deve ser feito até dezembro de 2018, mas que será concluído em setembro. “A Energisa está empenhando todos os esforços no cumprimento do cronograma do Luz Para Todos no Estado e manterá os trabalhos nesse ritmo até o fim do programa.” Tocantins A energia ainda não circula entre os interruptores das casas da zona rural de municípios tocantinenses como Abreulândia, Crixás, Dueré, Figueirópolis e Santa Rita do Tocantins.

Cada uma dessas cidades, porém, já teve a paisagem do cerrado invadida por torres imensas de linhas de transmissão.

Os cabos reluzentes, ainda sem uso, foram instalados meses atrás, quando um grupo chinês se embrenhou na região para erguer parte da linha de 2,1 mil km de Belo Monte, rede que vai ligar Vitória do Xingu, no Pará, a Ibiraci, em Minas Gerais.

Como o plano de construção da rede é passar direto pelos Estados do traçado, levando energia ao Sudeste, nenhum watt das turbinas de Belo Monte vai descer até as casas da região quando a linha for acionada, no início de 2018. “A gente fica olhando isso, sem conseguir entender. É muito descaso do poder público”, diz Regina da Silva Pereira, moradora de Crixás que, quando anoitece, tem recorrido à bateria do carro para levar alguma luz para dentro de casa. » Chineses, fundos e europeias na lista de candidatos à compra da Eletrobras » Privatização da Eletrobras divide governistas e oposição na Câmara Pelo interior da escura Crixás e de outros 21 municípios de Tocantins, passa a linha de transmissão mais moderna do Brasil, com uma tecnologia inédita que será usada pelo setor elétrico.

Os especialistas dizem que o maior benefício da rede de “ultra-alta tensão”, de 800 kilovolts (kv), é fazer o transporte de energia com o menor volume de perda possível.

O entusiasmo que marcou o início do projeto em 2015 trouxe o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, ao País para lançar “a pedra fundamental de uma das maiores obras do Brasil para ampliar o sistema elétrico”, com investimentos de cerca de R$ 5 bilhões.

Para que essa energia de Belo Monte chegue um dia às casas do interior de Tocantins, será preciso que, antes, passe por cima delas e siga direto para o Sudeste.

Só lá será despejada no sistema nacional de transmissão, retornando para o interior do Estado por meio de redes de menor porte. “Uma hora ela chega para nós.

Tem de chegar”, diz o agricultor Manoel Ferreira da Cruz, de 56 anos, ao lado da mulher, Maria de Fátima, indignada com a demora da eletricidade. “O pessoal vai lá e fala que este ano vem a energia.

E nada.

A gente está precisando mesmo, moço, porque o trem tá feio.”