Advogado critica derrubada de palmeiras imperiais para comício de Lula, no Carmo Por Fernando Holanda, especial para o Blog de Jamildo É óbvio que uma árvore não teria sido erradicada para abrir espaço para um comício de Lula no Recife.
Mas a informação viralizou nas redes sociais através de um vídeo.
Causou surpresa em muita gente, que acreditou que o ato teria sido o responsável pela morte de uma Palmeira Imperial de 20 metros de altura no Pátio do Carmo.
E fez a Prefeitura ter que se explicar em nota.
Mas, afinal de contas, por que um absurdo desse viralizou?
Seria culpa da evidente rejeição à política que assola todo o Brasil?
Ou será que as pessoas estão cansadas de ver tanta poda e erradicação de árvores no Recife?
Talvez a explicação esteja nos dois.
Ou que outras perguntas ainda precisem ser feitas.
Mas uma coisa é certa: a Prefeitura do Recife está perdendo uma batalha simples com a opinião pública sobre o cuidado com as árvores da cidade.
E os motivos são muitos.
Ao anunciar a audaciosa meta de plantar 100 mil árvores, a atual gestão gerou uma expectativa de que a arborização urbana finalmente seria uma prioridade no Recife.
Que a caminhabilidade e o meio ambiente seriam promovidos, que as mudanças climáticas seriam combatidas com cobertura vegetal.
Mas ao final dos primeiros quatro anos, o que restou na cidade em relação ao tema foi uma frustração coletiva.
Pouco mais de 40 mil mudas foram plantadas, menos de 40% do prometido.
Onde foram plantadas?
Não se sabe.
Ou ao menos não é fácil saber.
E o pior: a Prefeitura não faz a mínima ideia de quantas destas mudas sobreviveram.
Isso por que não há um monitoramento preventivo das árvores da cidade, sejam elas de grande ou pequeno porte, velhas ou novas.
E, convenhamos, quem já plantou um grão de feijão no algodão sabe o que pode acontecer com uma muda.
Enquanto isso, o Conselho Municipal do Meio Ambiente constatava que somente nos primeiros dois anos, quase 5 mil árvores foram erradicadas pela própria Prefeitura.
Se o ritmo tiver sido mantido em 2015 e 2016, o Recife plantou 40 mil e perdeu 10 mil árvores.
Um saldo de 30 mil novas árvores.
Bom para a cidade, mas bem distante do prometido.
E com aquele gosto amargo da frustração.
Enquanto isso, parece que o mais se vê na cidade são podas e erradicações.
A CELPE continua com sua autorização para podar as árvores que convivem com os postes na mesma calçada.
E só precisa informar à Prefeitura depois de executar o serviço.
Não importa a condição fitossanitária.
Estrago feito, estrago informado.
O que a CELPE quer é preservar a emaranhada fiação aérea, que não só gera poluição visual como ameaça quem anda nas calçadas da cidade.
Vale lembrar que no Recife choque elétrico em via pública mata mais do que ataque de tubarão.
E que há uma Lei Municipal já aprovada e sancionada que dispõe sobre o embutimento desta fiação, mas que a Prefeitura insiste em não regulamentar.
E assim as árvores vão sofrendo com amputações e inclinações que não deveriam ser necessárias.
Mas o mais chocante são mesmo as erradicações.
Ao falhar na manutenção preventiva, o que resta à Prefeitura é mesmo erradicar.
Foi o que aconteceu com a Palmeira Imperial do Pátio do Carmo.
E com boa parte das mais de cem que tombaram durante o vórtice ciclônico do ano passado.
Assoladas por pragas ou pelas agressões sofridas nas vias da cidade, muitas árvores do Recife vão sendo condenadas.
A Prefeitura até sabe onde elas estão, mas não sabe qual é a situação fitossanitária de cada uma delas.
Muitas vezes, a única solução é cortar.
Em outras, não. É o caso das árvores do canal do Arruda, ou ainda do já famoso oitizeiro da Rua da Amizade.
Exemplos que mobilizaram ambientalistas, ciclistas e moradores da cidade, que se manifestaram contra suas erradicações.
E que vão engrossando o caldo da opinião pública.
Verdade seja dita: a Prefeitura conta com muitos técnicos competentes e compromissados com a arborização urbana no Recife.
Servidores públicos que dedicam a vida ao cuidado com o verde da cidade.
E que, muitas vezes, carecem de equipamentos, orçamento e, principalmente, de atenção da alta gestão.
Se a Prefeitura não mudar a abordagem, valorizando sua capacidade técnica de realização e assumindo um compromisso genuíno com as árvores da cidade, vai continuar perdendo esta batalha simples com a opinião pública.
E a arborização urbana vai continuar sendo encarada como um problema e não uma solução para o Recife.
Fernando Holanda representa a RAPS - Rede de Ação Política pela Sustentabilidade no Conselho da Cidade do Recife.