Por Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife A história recente registra tentativas recorrentes de privatização da Chesf - sempre com argumentos precários, segundo os quais o Estado seria inepto para gerir tamanho complexo energético.
Ridículo argumento, que colide frontalmente com a evidência dos fatos. É o que se repete agora, quando o governo Temer reedita tentativa frustrada no governo FHC.
Na remodelagem do setor energético ora apresentado pelo Ministério de Minas e Energia, a transferência do controle acionário do sistema Eletrobras à iniciativa privada envolve a Companhia Hidroelétrica do São Francisco.
Vale dizer: um contundente ataque aos interesses nacionais e do Nordeste em particular.
Resistir é preciso.
Na Câmara dos Deputados, por iniciativa da deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), é articulada uma frente parlamentar com esse propósito.
Engenheiros e especialistas na matéria têm se pronunciado criticamente sobre o assunto.
LEIA TAMBÉM » Fernando Filho pretende privatizar Eletrobras até o primeiro semestre de 2018 » Instituto Miguel Arraes vai ao MPF contra venda da Eletrobras » Chineses, fundos e europeias na lista de candidatos à compra da Eletrobras Num instante como esse, vale lembrar o governador Miguel Arraes, que em seu tempo compreendeu como poucos a dimensão do cargo - que mais do que obrigações administrativas, implica liderança política.
No governo Fernando Henrique Cardoso, em carta aberta ao presidente da República (cujo rascunho tive o privilégio de conhecer em conversa com o governador), Arraes se pronunciou contrário à tentativa de privatização da Companhia, assinalando que tal intento significava, na prática “privatizar o Rio São Francisco” - um bem público inalienável.
A Chesf não existe sem o rio – dizia ele -, pois de suas águas produz energia.
O que equivale a dizer não se pode vender a empresa sem dar, como peso morto, o rio. » Privatização da Eletrobras divide governistas e oposição na Câmara » Vender Eletrobras deixa País sujeito a apagões, prevê Dilma » Governo quer reduzir participação da União na Eletrobras Semelhante argumento Arraes brandiu, em outra oportunidade, em artigo publicado na Folha de S.
Paulo, citando o engenheiro João Paulo Maranhão Aguiar: “por que privatizar um sistema se ele foi construído em 50 anos de investimentos maciços do povo brasileiro, gera energia boa e barata, comparada ao custo internacional, e dá lucro?
Por que países como os EUA e Canadá mantém estatizados seus sistemas hidrelétricos, havendo até casos de reversão de operadoras privadas para o setor público?” Na ocasião - vale destacar como ensinamento às novas gerações -, o governador de Pernambuco fazia ouvir sua palavra segura e firme na defesa da região e, mais, ainda, na afirmação da absoluta necessidade de controle estatal desse setor estratégico a um projeto nacional de desenvolvimento.
Agora, tanto quanto antes, cabe a todos os que não arriaram suas bandeiras de luta nem cederam às pressões imediatistas de um poder efêmero e nocivo, nem se permitem envolver na atual agenda regressiva de direitos e solapadores das salvaguardas soberanas de nossa economia, somarem esforços na resistência.