Após ajudar a livrar o presidente Michel Temer (PMDB) da denúncia por corrupção passiva, deputados do centrão cobram mais espaço no governo, especialmente no Ministério das Cidades, que coordena programas com capacidade de ampliar apoios eleitorais, como o Minha Casa, Minha Vida.

Quem está à frente da pasta hoje é o pernambucano Bruno Araújo, do PSDB, partido que declarou voto contrário a Temer no último dia 2, mas mantém quatro ministérios. “Não perco um minuto de sono com isso”, afirmou o tucano em entrevista à Rádio Jornal nesta segunda-feira (14) sobre a articulação do centrão. “O PSDB foi para o governo menos pela disposição de cargos e mais para usar sua história e seu prestígio para garantir estabilidade na transição para 2018”, disse Araújo. “Tenho aproveitado esse momento para garantir recursos para o Nordeste e especialmente para Pernambuco.

Servi ao País como deputado e hoje como ministro, onde puder estarei colaborando.

O resto é o tempo que gerencia.” Apesar de o PSDB ter declarado voto pela investigação de Temer, Bruno Araújo, exonerado para a sessão sobre a denúncia, votou contra o processo.

LEIA TAMBÉM » Centrão cobra cargos e ameaça travar reforma da Previdência Em meio às cobranças do centrão, que reúne parlamentares do PP, do PSD e do PR, Temer faria um aceno a Bruno Araújo em visita a Pernambuco no mês passado, para lançar o Cartão Reforma em Caruaru, no Agreste, cidade onde a prefeita é a tucana Raquel Lyra.

O encontro foi adiado por causa de uma disputa do peemedebista com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pelos dissidentes do PSB, mas o presidente levou o ministro para uma viagem à Argentina na mesma semana.

O interesse pelo Ministério das Cidades é especificamente do PSD, que hoje comanda o Ministério das Comunicações com Gilberto Kassab, à frente da pasta de Cidades no governo Dilma Rousseff (PT).

A bancada peemedebista, sigla que já comanda seis ministérios, também reivindica o ministério de Bruno Araújo.

O PP quer a presidência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), órgão hoje controlado por uma aliada do senador Antonio Carlos Valadares (SE), do PSB, partido que já desembarcou do governo, embora ainda mantenha o Ministério de Minas e Energia.

Outro partido do centrão, o PR cobra de Temer a Secretaria dos Portos.

Embora seja vinculada ao Ministério dos Transportes, que já é comandado pelo partido, o comando da secretaria está com o ex-senador Luiz Otávio, que chegou ao posto por indicação dos senadores Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA), ambos do PMDB.

Os quatro partidos ameaçam não retomar as articulações para votar a reforma da Previdência no plenário da Câmara se o presidente não atender aos pedidos e não reorganizar a base após a rejeição da denúncia.

Com o teto de gastos e a reforma trabalhista aprovados e sancionados, a mudança no sistema previdenciária é o objetivo principal de Temer agora, além da reforma tributária.