A bancada do PP no Estado de Pernambuco - mesmo partido do ministro da Saúde, Ricardo Barros - pode ter alguma dificuldade em contrapor-se à suposta tentativa de fracionar o projeto da Hemobrás, levando partes da unidade para o Paraná.
O deputado Fernando Monteiro, um dos principais aliados do governador Paulo Câmara na bancada federal, chegou a indicar diretores na estatal de hemoderivados, de acordo com informações de bastidores políticos.
Ele também mantém boas relações com o ministro Ricardo Barros.
O deputado federal Eduardo da Fonte, por sua vez, declarou-se contrário à iniciativa do auxiliar de Temer. “Sou contra a negociação do ministro”, afirmou a repórter Amanda Miranda, deste blog.
No evento realizado pela oposição na Assembleia Legislativa do Estado, na segunda-feira, apenas dois deputados federais deram o ar da graça.
Estavam presentes João Fernando Coutinho, Augusto Coutinho e Silvio Costa.
Depois das críticas da oposição, em especial do petista Humberto Costa, o ex-líder de Paulo Câmara, Waldemar Borges, chamou ontem Ricardo Barros de ‘idiota’.
O Estado de Pernambuco hoje é sócio da Hemobrás, com 1% de participação no capital.
Os outros 99% pertencem à União.
Pela participação, o governo estadual tem o direito de indicar um dos diretores.
A imprensa, de forma equivocada, informa que o nome apontado pelo Estado é Marcos Arraes, tio do ex-governador Eduardo Campos e filho do também ex-governador Miguel Arraes.
Na verdade, desde que Eduardo Campos saiu candidato em 2013 os cargos foram entregues na gestão federal.
No caso da renovação da indicação do tio, a indicação coube a vereadora Marília Arraes, que é uma das pré-candidatas ao governo do Estado pelo PT nas eleições de 18.
Entenda a polêmica Sem alarde, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, nomeou em junho para um cargo na pasta um assessor da presidência do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar).
Mas por que a informação está sendo noticiada agora?
A decisão saiu em meio às articulações de Barros para levar para Maringá (PR), seu reduto eleitoral, a fabricação do fator VIII recombinante, medicamento usado no tratamento da hemofilia e produto com maior valor agregado da Hemobrás, em Pernambuco.
O novo negócio tem provocado reação da bancada do Estado, que prevê, com a decisão do ministro, o esvaziamento econômico da planta local, que custou até agora cerca de R$ 1 bilhão e precisa de mais R$ 600 milhões para concluir os 30% restantes.
O escolhido foi Rodrigo G.
M.
Silvestre, assessor da presidência no Tecpar, que foi para o Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde (Deciis), da Secretária de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde.
No instituto paranaense, Silvestre atuava desde 2013 justamente na formulação de projetos de Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP), forma do negócio da Hemobrás para o fator VIII recombinante. É a mesma área em que trabalha agora.
LEIA TAMBÉM » Presidente da Hemobrás contraria ministro e mostra interesse em manter contrato » Funcionários da Hemobrás denunciam ‘revés’ da União e rebatem ministro, que quer levar fábrica para reduto eleitoral » Hemobrás: ministro articula fábrica no Paraná e incomoda bancada de Pernambuco A parceria atual é com o consórcio Braxter/Shire e prevê a compra pela estatal, mas também a transferência da tecnologia para que a produção passe para Pernambuco até 2023.
Barros, porém, quer fechar com um consórcio que engloba a empresa suíça Octapharma, citada na Operação Máfia dos Vampiros.
Nesse novo negócio, a produção do recombinante passaria para a unidade do Paraná e em Pernambuco ficaria apenas o fracionamento do plasma, hoje executado pela Hemobrás em outro contrato.
Ao ser nomeado, Silvestre defendeu que iria atuar “fortemente na política de transferência de tecnologia para que o Brasil seja detentor de tecnologia para se tornar autossuficiente em insumos estratégicos”. “Sem dúvida, com a sua competência, Silvestre vai ajudar o Paraná e o Brasil no desenvolvimento de novos medicamentos para tornar o SUS mais sustentável”, chegou a afirmar o diretor-presidente do Tecpar, Júlio C.
Felix, quando o então assessor assumiu o cargo. » Líder da oposição critica não ‘ver uma palavra’ de Paulo Câmara sobre Hemobrás » Após cobrança da oposição sobre Hemobras, Waldemar Borges chama ministro da Saúde de idiota » Deputados recorrem ao TCU contra fim de contrato na Hemobrás Vista aérea da fábrica da Hemobrás em 2014 (Foto: Divulgação) A Shire propõe investir U$ 250 milhões na conclusão da planta de Goiana.
Além disso, aceitou estender o prazo de pagamento e abrir mão dos juros da dívida da estatal com a empresa, hoje estimada em U$ 175 milhões – pela compra do recombinante.
Enquanto isso, no negócio proposto pelo ministro o investimento de US$ 250 milhões em Pernambuco, mas para que o Estado fique com o fracionamento do plasma, e US$ 200 milhões iriam para o Paraná, para a fabricação do recombinante, mais lucrativo. » Luciana Santos diz que decisão sobre Hemobrás foi na ‘cara de pau’ » Humberto Costa usa suposto desmonte da Hemobras para atacar ministros pernambucanos de Temer » Operação Pulso: MPF recomenda afastamento de ex-presidente da Hemobrás e outros envolvidos De acordo com o presidente da Hemobrás, as duas alternativas estão sendo analisadas de forma detalhada pelo conselho administrativo, sob os aspectos jurídicos, econômicos e financeiros. “Não sabemos, no entanto, como ficaria a questão jurídica de quebrar o contrato com a Braxter”, disse em audiência pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) nessa segunda-feira (7). “Queremos achar uma solução viável, destacando que temos um contrato firmado e que manter a atual parceria é hoje de interesse da Hemobrás.” O procurador Marinus Marsico, do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), explicou na mesma reunião que o órgão trabalha em uma medida cautelar pedindo a continuidade do atual contrato de parceria.
A instituição foi procurada pela bancada de Pernambuco, descontente com a decisão do ministro Ricardo Barros. “Se vem ocorrendo atraso na transferência da tecnologia, não é por culpa da Braxter/Shire ou da Hemobrás, mas em função da falta dos investimentos na planta de Goiana, que são de responsabilidade do Ministério da Saúde”, disse.
O mesmo foi dito pelos funcionários da Hemobrás em uma nota de repúdio ao ministro divulgada no fim de semana.