O líder da oposição na Assembleia Legislativa, Silvio Costa Filho (PRB), aproveitou a polêmica sobre a articulação do ministro da Saúde, Ricardo Barros, para instalar no Paraná, seu reduto eleitoral, uma fábrica do produto de maior valor agregado da Hemobrás, para criticar o governador Paulo Câmara (PSB).

Para ele, o socialista deveria se posicionar sobre o assunto. “Pela importância da planta da Hemobrás para o Estado e para o desenvolvimento da Zona da Mata Norte, o governador deveria estar liderando uma ampla mobilização para manter a produção do fator VIII em Goiana”, disse Silvio Filho na audiência pública realizada na Assembleia para debater o caso da estatal. “Mas nós não vemos uma palavra, um posicionamento ou uma única cobrança do governador Paulo Câmara, o que demonstra sua falta de liderança e de articulação política.” Humberto Costa, líder da oposição a Michel Temer (PMDB) no Senado, também criticou Paulo Câmara. “O Governo do Estado é coproprietário da Hemobrás e não pode permitir o esvaziamento da instituição e agir como se não tivesse nada com isso”, afirmou.

LEIA TAMBÉM » Funcionários da Hemobrás denunciam ‘revés’ da União e rebatem ministro, que quer levar fábrica para reduto eleitoral » Hemobrás: ministro articula fábrica no Paraná e incomoda bancada de Pernambuco O fator VIII recombinante é o medicamento distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para hemofílicos.

Hoje, uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) da Hemobrás com a empresa francesa Shire prevê a compra pela estatal e a transferência da tecnologia para que a produção passe para Pernambuco até 2023.

O ministro Ricardo Barros, porém, quer fechar com um consórcio que engloba a empresa suíça Octapharma, citada na Operação Máfia dos Vampiros, e os laboratórios públicos Butantã, de São Paulo, e Tecpar, do Paraná, além da própria Hemobrás.

Porém, nesse novo negócio, a produção do fator VIII, produto com maior valor agregado, passaria para a unidade do Paraná e em Pernambuco ficaria apenas o fracionamento do plasma.

O ministro chegou a suspender a parceria entre a Hemobrás e a Shire, o que viabilizaria a articulação dele, mas foi impedido pela Justiça. » Deputados recorrem ao TCU contra fim de contrato na Hemobrás » Luciana Santos diz que decisão sobre Hemobrás foi na ‘cara de pau’ É isso que tem provocado um movimento das bancadas do Estado.

Na Assembleia, será elaborado um documento, assinado pelos 49 deputados, apelando a Ricardo Barros que desista do negócio e mantenha a produção em Pernambuco.

Mesmo com as reclamações da bancada de Pernambuco e dos funcionários, Barros está irredutível sobre o negócio com a Octapharma. “Hemobras é Hemobrás.

O ministério tem que resolver o sangue do Brasil”, alegou em audiência pública no Senado na semana passada. “Como o Butantan não aceitou, os senhores podem não aceitar, mas nós vamos avançar”, disse ainda. “Não há nenhum prejuízo se o Estado de Pernambuco não quiser a fábrica de fracionamento em Pernambuco.

Não há nenhuma exclusividade da Hemobrás nesse negócio do sangue.” Acompanhando o discurso de outros deputados, Silvio Costa Filho frisou que foram investidos até agora aproximadamente R$ 1 bilhão na fábrica da Hemobrás em Goiana, que hoje emprega cerca de 170 funcionários.

Quando concluída, a previsão é que a estatal gere 390 empregos diretos e outros 800 vagas indiretas.