Com o PSB dividido sobre a denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB), a líder da bancada socialista, Tereza Cristina (MS), favorável ao peemedebista e negociando uma vaga no partido dele, passou a palavra em nome da legenda para o pernambucano Tadeu Alencar.

Encaminhando voto pela sigla, o deputado seguiu a orientação da executiva nacional e defendeu que a acusação contra Temer por corrupção passiva seja analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que depende da autorização da Câmara, discutida na tarde desta quarta-feira (2). “O próprio presidente deveria desejar que essa investigação ocorresse para provar que o que tem dito tem razão de ser”, afirmou Alencar.

O socialista enfatizou que uma aprovação da denúncia não significa a condenação de Temer, e sim que a Câmara permite à Corte dar início ao processo. “Isso não é um fato corriqueiro. (Deve-se investigar) Se o Ministério Público Federal, o senhor procurador-geral da República, fez, como disse o advogado do presidente, uma denúncia ‘frouxa’ ou se há razão para que se tenham fundadas suspeitas”, argumentou o deputado.

Alencar afirmou que, após deixar o mandato, Temer pode responder ao processo em primeira instância, mesmo que ele tenha sido arquivado pela Câmara. “Como imaginar que o presidente, depois de sair do cargo máximo é obrigado a responder processo, e agora é blindado?”, questionou. “Não é possível aturar que o servidor mais importante se veja protegido, intocado de responder às condutas que lhe imputam.” O deputado afirmou que a postura da executiva nacional PSB é para lembrar um histórico de ‘ética e decência’ do partido.

Ao argumentar, ele falou sobre o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, citado por delatores da Operação Lava Jato.

Dois dias antes da votação, o Ibope apontou que 81% dos eleitores defendiam que deputados aceitassem a denúncia contra Temer e a aprovação era de 5%. “Esta Casa não tem outra posição a não ser adotar aquele que é o sentimento da maioria da população.” A acusação contra Temer tem como base as investigações realizadas após a delação de Joesley Batista, do grupo J&F.

Para Janot, o presidente era o beneficiário de recursos entregues pela empresa ao seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, que recebeu R$ 500 mil em uma mala. “O que nos faz presumir que há fundadas suspeitas, indícios robustos de que as denúncias merecem ser no mínimo investigadas”, afirmou Alencar.

O deputado ainda lembrou que Temer é alvo de outras duas investigações de Janot.

Uma delas é a acusação de obstrução de Justiça, devido à gravação feita por Joesley Batista de uma conversa com o presidente no Palácio do Jaburu, em reunião fora da agenda oficial, em que o peemedebista estaria negociando o ‘silêncio’ do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em meio aos rumores de que o ex-deputado, preso em Curitiba, estaria negociando um acordo de delação premiada.

Segundo a investigação, valores também seriam pagos a Lúcio Funaro, acusado de ser o operador do ex-parlamentar e também em processo de colaboração.

O procurador-geral da República ainda pediu ao Supremo para investigar Temer mais uma vez, agora pelo ‘Decreto dos Portos’, sob a suspeita do cometimento dos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva.

Nos dois casos, após concluir as apurações iniciais, Janot deve oferecer a denúncia ao Supremo, que envia à Câmara para uma nova análise.

Novamente, a Corte só pode decidir se prossegue ou não com as apurações se a Casa aprovar a admissibilidade delas, com 342 votos.