Dias de almoços, jantares e ligações intensas para arquivar a denúncia depois, o presidente Michel Temer (PMDB) escapou da primeira denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção passiva.

Os opositores do peemedebista não alcançaram os 342 votos para devolver a acusação para o Supremo Tribunal Federal (STF), para que a investigação continuasse, e o caso será arquivado.

O que sacramentou o resultado foi Aureo, do Solidariedade do Rio de Janeiro, o 286º deputado a ser chamado.

O resultado final foi de 263 votos contrários à denúncia contra Temer e 227 a favor.

O resultado final, pelo arquivamento, será comunicado ao Supremo.

Ironizando a mala com R$ 500 mil recebida da JBS por Rocha Loures, deputados de oposição levaram uma mala (Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados) Em meio à articulação para levar os parlamentares ao plenário e tentar atingir o quórum, houve denúncia de ‘compra de votos’ através de emendas parlamentares.

Foram empenhados este ano mais de R$ 4,2 bilhões em emendas e, desse valor, mais de R$ 3,5 bilhões foram para deputados federais.

Segundo um levantamento da ONG Contas Abertas, 108 parlamentares que haviam declarado voto pró-Temer uma semana antes da votação haviam recebido R$ 1 milhão a mais que os outros.

A acusação contra Temer tinha como base as investigações realizadas após a delação de Joesley Batista, do grupo J&F.

Para Janot, o presidente era o beneficiário de recursos entregues pela empresa ao seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, que recebeu R$ 500 mil em uma mala.

Um mês antes da votação, uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha apontava que 83% dos brasileiros consideravam não haver dúvidas sobre o envolvimento de Temer no esquema de corrupção e a aprovação ao governo era de 7%.

Dois dias antes da votação, o Ibope apontou que 81% dos eleitores defendiam que deputados aceitassem a denúncia contra Temer e a aprovação era de 5%.

Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados - Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados Paulo Abi-Ackel, o relator (Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados) - Paulo Abi-Ackel, o relator (Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados) Antonio Mariz, o advogado de Temer (Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados) - Antonio Mariz, o advogado de Temer (Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados) Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados - Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados Foto: Antonio Augusto / Câmara dos Deputados - Foto: Antonio Augusto / Câmara dos Deputados Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados - Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados Foto: Antonio Augusto / Câmara dos Deputados - Foto: Antonio Augusto / Câmara dos Deputados Foto: Antonio Augusto / Câmara dos Deputados - Foto: Antonio Augusto / Câmara dos Deputados Foto: Antonio Augusto / Câmara dos Deputados - Foto: Antonio Augusto / Câmara dos Deputados Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados - Foto: Antonio Augusto/Câmara dos Deputados Os deputados que disseram “sim” nesta quarta-feira (2) votaram pelo arquivamento da denúncia e os que falaram “não”, o contrário, autorizando que Temer fosse investigado.

Isso porque o parecer não é aquele inicial, de Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), que pedia a admissibilidade da denúncia por corrupção passiva.

O documento do peemedebista foi rejeitado na CCJ após articulação da base e a troca de 12 nomes da comissão.

O novo, do tucano Abi-Ackel, é contra a investigação.

Como foi a sessão da denúncia contra Temer A reunião da Câmara começou pouco depois das 9h, o horário marcado para o início da discussão.

O primeiro a falar foi Abi-Ackel, o relator do caso, defendendo que a denúncia fosse rejeitada.

Depois, quem falou foi o advogado de Temer, Antonio Mariz.

Deputados contra e a favor do presidente também subiram à tribuna.

No fim da manhã, foi aprovado o requerimento para encerrar a fase de discussão e passar à votação propriamente dita.

A oposição obstruiu parte da sessão e apresentou requerimentos para retirar a votação da denúncia da pauta, todas rejeitadas.

A manobra para atrasar a votação, porém, levou ao fim do tempo regimental e ao encerramento da primeira reunião, que já havia atingido o quórum.

A base aliada, então, levou mais duas horas para atingir o número de 342 deputados exigidos para o início da votação.

Os 24 partidos, então, puderam encaminhar votos.

Foto: Gilmar Felix/Câmara dos Deputados Durante a manhã, deputados da oposição protestaram com faixas e gritos de ordem “Fora Temer”.

Alguns deputados da base do governo responderam com gritos “Lula na cadeia”. À tarde, voltaram a trocar farpas, desta vez até com um tumulto no plenário, em que foram jogados ‘Pixulecos’ e cédulas de dinheiro falso de um lado para o outro. “Vocês acham que ficar jogando boneco de um lado para o outro é bonito para o Brasil?”, interrompeu Maia.

Outras suspeitas contra Temer Estão com Janot ainda duas investigações decorrentes da delação.

Uma delas é a acusação de obstrução de Justiça, devido à gravação feita por Joesley Batista de uma conversa com o presidente no Palácio do Jaburu, em reunião fora da agenda oficial, em que o peemedebista estaria negociando o ‘silêncio’ do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em meio aos rumores de que o ex-deputado, preso em Curitiba, estaria negociando um acordo de delação premiada.

Valores também seriam pagos a Lúcio Funaro, acusado de ser o operador do ex-parlamentar e também em processo de colaboração.

O procurador-geral da República ainda pediu ao Supremo para investigar Temer mais uma vez, agora pelo ‘Decreto dos Portos’, sob a suspeita do cometimento dos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva.

O presidente é suspeito de receber vantagens indevidas pela aprovação da medida.

Nos dois casos, após concluir as apurações iniciais, Janot deve oferecer a denúncia ao Supremo, que envia à Câmara para uma nova análise.

Novamente, a Corte só pode decidir se prossegue ou não com as apurações se a Casa aprovar a admissibilidade delas, com 342 votos.