Por Fernando Holanda, especial para o Blog de Jamildo Nesta semana, peço licença ao nosso costumeiro tema - a ação política pela sustentabilidade no Recife - para falar sobre um tema que pode assolar ainda mais a política do Brasil nos próximos meses: a aprovação do Distritão.

Pra quem não soube, nos últimos dias, os deputados se sentiram no direito de conchavar em Brasília sobre uma possível alteração na forma como eles mesmos seriam eleitos.

E que já seria válida para o ano que vem.

Com o Distritão, passariam a ser eleitos para a Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas apenas os candidatos mais bem votados.

A princípio, a ideia pode parecer atraente, mas ela teria efeitos nefastos sobre nosso sistema político, pois enfraquece os partidos políticos e esmaga as chances de uma candidatura segmentada, que represente a agenda de uma minoria, possa se eleger.

O Distritão garante uma larga vantagem aos candidatos mais conhecidos, sejam eles subcelebridades, jogadores de futebol ou, como não poderia deixar de ser, os próprios deputados que defendem a mudança.

Seriam eles, na verdade, seus maiores beneficiários, já que poderiam contar com a máquina administrativa e as convenientes emendas parlamentares para manterem seus mandatos.

E, de quebra, garantir aquele oportuno foro privilegiado, “em meio a toda essa confusão causada pela Lava Jato”.

O Distritão substituiria o atual sistema proporcional, onde o quociente eleitoral é o que determina quantas cadeiras serão ocupadas por uma coligação de partidos.

Apesar de complexo, o sistema garante a representação das minorias e o voto ideológico, pois o voto é dado a um grupo de pessoas que representa uma ideologia.

O sistema brasileiro ainda tem a vantagem de você escolher a pessoa do grupo que você prefere para representar suas ideias, ao contrário do sistema de lista fechada, utilizado em Portugal e na Espanha.

A ideia original é boa: os candidatos representam uma causa e portanto devem ser votados em bloco.

O problema é que o sistema proporcional é frequentemente assolado pelas famigeradas coligações partidárias, que quase sempre são compostas com partidos nanicos e cartoriais, onde a matemática eleitoral e o fisiologismo imperam.

As coligações obviamente precisam ser corrigidas do sistema proporcional e isto parecia ser um ponto pacífico nas discussões sobre a reforma política até bem pouco tempo.

No entanto, a proposta dos deputados não é melhorar o sistema proporcional - que, diga-se de passagem, é utilizado na maioria das democracias mais consolidadas do mundo.

Tampouco a adotar o voto distrital misto, um modelo interessante, utilizado em países como a Alemanha.

O que nossos atuais parlamentares querem é aventurar o Brasil num ornitorrínquico sistema só adotado pelo Afeganistão, pela Jordânia e pela remota ilha de Vanuatu, no extremo leste do Oceano Pacífico.

Algo difícil de explicar até para um país já calejado de tanta patifaria política.

Diz-se à boca miúda que a proposta seria apresentada logo após o fim do recesso parlamentar - outra excrescência, se considerarmos o atual contexto político nacional.

Justamente agora, quando o que mais a sociedade espera é que a Câmara autorize a abertura do processo contra o Presidente Michel Temer.

Ou seja, em meio ao maior turbilhão político das últimas décadas, os deputados estão correndo para aprovar uma reforma eleitoral.

Não para moralizar a política.

Não para garantir a efetividade do Legislativo.

Mas para se perpetuarem no Poder, fortalecendo o personalismo na política e dificultando a renovação nas Casas Legislativas. É como se os Deputados fossem jogadores de um time que está levando um sete a um diário.

Eles acreditam que a culpa pelo fracasso é das regras do jogo.

E, é claro, que no time deles não se mexe.

Para manter tudo como está, não só protegem o incompetente e corrupto treinador, como tentam fazer um gol contra para desacreditar ainda mais o campeonato.

E assim forçar a mudança das regras, afastando novos talentos e aqueles que acreditam nos valores do esporte.

O Distritão é um gol contra renovação.

Contra a valorização e o fortalecimento da democracia.

Contra a capacidade de acreditar que é possível transformar o Brasil através da política.

Fernando Holanda representa a RAPS - Rede de Ação Política pela Sustentabilidade no Conselho da Cidade do Recife. É filiado à Rede Sustentabilidade.