Estadão Conteúdo - Deputados do PMDB, PSDB e de ao menos oito partidos do Centrão firmaram acordo para incluir na reforma política o “distritão”.
Pelo sistema são eleitos para o Legislativo apenas os mais bem votados em cada Estado.
A medida é apontada pelos parlamentares como uma forma de assegurar a própria reeleição e, consequentemente, manter o foro privilegiado em meio ao descrédito com a classe política causado por escândalos de corrupção como os revelados pela Lava Jato.
Hoje um candidato mais votado não garante necessariamente uma cadeira na Câmara.
O atual sistema é chamado de proporcional.
Ele soma o número de votos de todos os candidatos e na legenda e a partir daí define a quantos assentos o partido terá direito.
Os mais votados dentro da sigla são eleitos.
Por isso, ocorre o fenômeno dos puxadores de votos, como Tiririca (PR-SP), que podem ajudar a eleger parlamentares com baixa votação.
LEIA TAMBÉM » Eunício pede a Rodrigo Maia que acelere a reforma política na Câmara » Confira as propostas para reforma política em análise na Câmara » Relator retira tipificação de caixa 2 do parecer da reforma política na Câmara Sem considerar esse modelo, a ideia é apresentar a emenda do “distritão” durante as discussões, em plenário, do texto do relator, deputado Vicente Cândido (PT-SP), a ser analisado a partir de agosto.
Esse modelo pode dificultar a renovação da Câmara e favorecer a permanência dos deputados no poder, uma vez que eles têm recall (são conhecidos por maior parcela do eleitorado pela participação em eleições passadas), visibilidade midiática e máquina administrativa, como acesso a emendas que garantem verbas para obras em redutos eleitorais.
Como o petista sugere um sistema “transitório” para as eleições de 2018, os parlamentares já articulam o “distritão” como sistema permanente.
A proposta foi tema de debate em uma reunião na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na quarta-feira passada.
Estavam presentes parlamentares do Centrão, do PMDB, da oposição e do PT, que discorda da medida.
A reportagem apurou que, no encontro, os deputados debateram abertamente a eficácia do sistema para garantir que eles se mantenham nos cargos a partir das próximas eleições. » Líder do PT não descarta retirada de ‘emenda Lula’ » Políticos reagem contra ‘emenda Lula’ para 2018 » Petista articula “emenda Lula” para blindar candidatos de prisão A emenda será apresentada pelo deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) e vai transformar os Estados em distritos.
O parlamentar, porém, negou que a proposta tenha a finalidade de garantir a renovação dos mandatos. “Isso quem vai decidir é o povo.
O ‘distritão’ garante a representação das minorias.” A bancada do PMDB deverá votar majoritariamente a favor desse sistema. “Há uma maioria na Câmara a favor da proposta, apenas existe uma discordância se o sistema deve ser transitório ou permanente”, afirmou o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA), que não estava presente no encontro. “Só não há consenso porque a oposição é contra”, disse.
Maia é contra a proposta, mas afirmou aos parlamentares que aceitaria uma articulação no caso de o “distritão” ser usado apenas em caráter transitório.
Para parlamentares críticos à medida, esse sistema só poderia ser adotado após a aprovação de uma cláusula de barreira para diminuir o número de partidos.
A avaliação é de que o “distritão” vai incentivar legendas nanicas a lançar candidatos populares, como artistas, delegados e apresentadores de TV. ‘Atraso’ O cientista político Jairo Nicolau, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em sistemas políticos, é crítico ao modelo. “É um sistema atrasado, que reforça o personalismo na política e enfraquece os partidos”, afirmou. “O distritão é um sistema com muitos problemas, não é usado em nenhuma democracia tradicional, é um sistema que esteve em vigor no século 19.” Ele lembrou que, há dois anos, praticamente os mesmos deputados já rejeitaram o “distritão”, durante a votação da minirreforma eleitoral de 2015.
Hoje, disse ser “lamentável” o que chamou de “acordos de bastidores”.
O sistema defendido por Cândido em relatório é o distrital misto Pela regra, o eleitor votaria duas vezes: uma no candidato e outra no partido de preferência.