Estadão Conteúdo - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse nesta segunda-feira (17) que achou que fosse “mentira” a denúncia do empresário Joesley Batista, da JBS, sobre suposto esquema envolvendo o presidente Michel Temer (PMDB).

Nos Estados Unidos, onde participa de um evento no Woodrow Wilson Center, sobre o uso dos acordos de colaboração premiada na promoção de Justiça e do Estado de Direito no Brasil, Janot contou aos americanos sua primeira reação ao receber detalhes do esquema de corrupção supostamente liderado pelo presidente. “Minha primeira reação foi dizer: ‘isso é mentira, não acredito que isso esteja acontecendo, não pode acontecer, depois de três anos e meio da Lava Jato, com esses números (de prisões e condenações), é inacreditável que a prática (da corrupção) continue aberta’.” LEIA TAMBÉM » Mais uma vez sem quórum, Câmara adia leitura do parecer sobre Temer » Votação rápida da denúncia da PGR em plenário ajudaria Temer » Contra denúncia, Temer avalia reforma ministerial Janot contou que os delatores da JBS exibiram algumas gravações “em que realmente comprovavam ali o cometimento de crimes desses altos dignatários da República”.

Uma gravação apresentada à Procuradoria-Geral da República revela diálogo de Joesley com Temer em que o presidente supostamente articula a compra do silêncio de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso desde outubro do ano passado na Lava Jato.

Aprendendo com os erros Para Janot, o País está aprendendo “um pouco com os erros do passado”.

Ao relatar o caso do doleiro Alberto Youssef - peça-chave da Operação Lava Jato -, o procurador lembrou de um outro escândalo que abalou o Brasil, o caso Banestado, investigação sobre evasão de divisas da ordem de US$ 30 bilhões nos anos 1990 que virou alvo de ações da Procuradoria já na primeira metade dos anos 2000 e se tornou precursor da delação premiada. “Aprendendo um pouco com os nossos erros do passado tivemos uma experiência nos idos de 2003, uma investigação grande que houve no Brasil, o caso Banestado, em que ali se iniciou um arremedo de colaborações premiadas envolvendo inclusive um dos primeiros investigados nessa Operação Lava Jato, um doleiro conhecido no Brasil”, disse Janot, no Woodrow Wilson Center.

O procurador não citou nominalmente o doleiro, mas se referiu a Alberto Youssef, alvo do Banestado e da Lava Jato. » Maia marca para 2 de agosto votação da denúncia contra Temer » Saiba como votaram os deputados em parecer contra denúncia de Temer » Em 2ª votação, CCJ aprova rejeição de denúncia contra Temer No escândalo Banestado, o doleiro foi condenado pelo juiz federal Sérgio Moro.

Como fez acordo de cooperação, recebeu benefícios e uma pena reduzida.

Apanhado na Lava Jato, quebrou o acordo no caso Banestado, mas fechou novo pacto de delação, em 2014, pegou um limite de três anos de pena efetiva e já está na rua. “Naquela época tivemos vários acordos de colaboração, ou que se definia acordo de colaboração, muito restrito, mas se estipulou a concessão de penas muito pequenas.

Em todo contrato de colaboração você tem uma previsão da possibilidade de quebra desse contrato, em que o réu deverá responder integralmente ao processo penal e aos crimes que praticou.” “Esse cidadão (Youssef) rompeu o acordo (do caso Banestado).

E quando fomos aplicar as penas previstas nos processos que contra ele tramitaram, a pena estava limitada àquela do acordo.

Então, ocorreu a prescrição e nós não conseguimos alcançar o sujeito pelos crimes.” “Aprendendo um pouco com os erros do passado, hoje, a gente concede menos diminuição de pena, mas um regime muito razoável, um regime muito favorável de cumprimento de pena porque, em caso de quebra de acordo, não perderíamos a oportunidade da aplicação da lei penal.”