Por Pedro Henrique O golpe segue em frente, embora caminhe mais lento, obrigado a enfrentar as barricadas erguidas pelos trabalhadores a cada nova esquina, na noite sombria que cobre o país.
A queda injustificada de Dilma, primeira mulher eleita presidenta do Brasil, operada em conjunto pelos setores mais corruptos da política e da elite econômica, onde se situa, entre outros, a mídia empresarial convertida em partido político, deu inicio a uma verdadeira marcha da barbárie.
Esses setores seguem buscando estancar cada um sua sangria, a das taxas de lucro e a das prisões, enquanto sangram os mais pobres rasgando com lâmina fina os direitos sociais históricos conquistados com muita luta pelos trabalhadores.
A carnificina que aqui assistimos ocorre neste momento em todo o mundo.
O setor financeiro, fração hegemônica do capital internacional, impõe uma resposta à crise por ele criada através de dois elementos centrais: o rebaixamento do padrão de vida da classe trabalhadora e a domesticação da democracia (o encarceramento da política).
Tais processos ocorrem a partir de uma luta feroz pela direção do Estado.
O que tenta o neoliberalismo é, na verdade, disputar o orçamento público via instrumentalização da dívida pública, drenando para si os recursos do conjunto da sociedade.
Busca se apropriar da parte do Estado que lhe interessa.
O prometido sumiço do Estado, propagandeado pela mídia mercantil e seus “especialistas” só existe, nesse projeto, para o trabalhador, que tem seus direitos – existentes pelo pacto que apenas o poder estatal pode garantir - ameaçados.
Para os setores do capital a maquina estatal permanece viva, mantida com as vísceras expostas, atacada dia e noite como um Prometeu amarrado em frente ao mar, pelas aves de rapina do mercado.
Nesse contexto, aqui no Brasil as franquias democráticas que garantem certo enfrentamento pelos rumos do Estado e da economia foram suspensas, desde o impeachment fraudulento.
Há enorme propaganda contra a política, que tem seus diversos atores, inclusive os movimentos sociais, constantemente deslegitimados.
As elites deitam e rolam no controle das instituições de todos os poderes, fazem negociatas à luz do dia sem que a democracia as consiga tocar.
Estão, todas as instituições, fora do alcance das ruas.
A plutocracia, com espaço total, visto que livre de um constrangimento chamado PT e, com sorte, sonham eles, de Lula, cujos governos no mínimo as obrigavam a negociar margens de ganhos para a classe popular, avançam contra direitos consagrados com o objetivo explicito de resolver a crise diminuindo o nível de vida dos mais pobres e estabelecendo um novo padrão de acumulação de longo prazo, sem o consentimento popular.
Dessa forma, se deseja converter enorme parcela da população em neoescravos: terceirizados, sem acesso a educação e saúde públicas, acesso extremamente dificultado à previdência, salários rebaixados, empregos crescentemente rotativos.
Num país como o nosso, absurdamente desigual, com ampla parcela da população vivendo em condições precárias, coagida cotidianamente por violências de todo tipo, tal agenda evidencia a selvageria de uma elite nascida das entranhas do escravismo.
O golpe, que a alguns parecia apenas uma querela entre grupos políticos rivais, mostra sua face real: é um ato de força, em curso, contra a classe trabalhadora e os mais pobres. É a batalha tropical da grande guerra que está sendo travada no mundo, a guerra do dinheiro contra a democracia e os direitos sociais.
Nesse cenário é fundamental compreender que a destituição de Dilma e a tentativa de demolição de direitos através das reformas propostas por Temer na previdência e nas leis do trabalho são partes de um mesmo projeto de classe.
Trabalhar a favor dessas reformas é abraçar o golpe, pois significa participar do seu clímax, ajudar o trem golpista a chegar até a sombria estação almejada desde a saída da presidenta.
Desconstituindo os direitos consagrados na Constituição de 1988, contra esmagadora maioria da população, o projeto golpista proclama que todo poder emana dos interesses do mercado, ainda que bárbaros, e não da soberania popular.
A esquerda deve seguir marchando contra essa agenda.
Nesse período de radicalização da disputa política no país, diferente do que ocorreu no país e no estado em 2014, cabe cada vez menos a forças de esquerda convergir para o centro.
Cabe cada vez mais a afirmação da luta de classes, dos interesses divergentes irreconciliáveis, das alianças a partir da construção de um programa capaz de oferecer uma resposta popular consistente à crise.
Em todos os lugares onde a esquerda tem buscado reafirmar convicções e resgatar a democracia e os direitos sociais ameaçados, buscando aprofundá-los contra a força das elites, tem se fortalecido, como ocorreu com o Partido Trabalhista britânico recentemente.
Onde insistiu em programas moderados e alianças contraditórias jaz sob escombros.
Delimitado corretamente o campo da disputa, o caminho para a esquerda é a unidade a mobilização.
Em Pernambuco isso é possível e parece já estar em curso.
Mãos à obra!
Pedro Henrique é secretário estadual da juventude do PT-PE e membro da direção estadual do PT em Pernambuco