Estadão Conteúdo - Não é só a disputa presidencial de 2018 ou a importância dada às reformas que explica a posição do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do prefeito da capital, João Doria, pela permanência do PSDB na base aliada do presidente Michel Temer (PMDB).
Em ambos os casos, um fator extra tem sido levado em consideração: tanto o Estado como a Prefeitura têm como foco de suas gestões programas de desestatização que dependem da estabilidade econômica e também política do País para atrair investidores.
Juntos, governo e Prefeitura ofertam hoje uma cartela de negócios de cerca de R$ 55 bilhões.
Uma eventual segunda troca de presidente em pouco mais de um ano poderia afugentar investidores e reduzir as chances de fechar bons negócios a tempo de mostrar ao menos parte dos resultados antes da corrida eleitoral.
Com a arrecadação em baixa, os tucanos têm colocado todas as suas fichas nas possibilidades de parcerias com a iniciativa privada para engordar o caixa.
Há um mês, Alckmin e Doria cumpriram uma agenda extensa em Nova York e Washington, com o intuito de apresentar seus projetos a empresários brasileiros e estrangeiros.
Doria, especialmente, já fez três viagens internacionais desde janeiro com essa mesma pauta: tentar vender os 55 ativos listados por sua gestão no plano municipal de desestatização.
Na relação, estão o Estádio do Pacaembu, o Autódromo de Interlagos e o Complexo do Anhembi, além de parques, mercados e cemitérios.
A relação de Alckmin é ainda mais ousada.
Inclui, por exemplo, concessões de rodovias estaduais, linhas de trem e metrô, sistemas de abastecimento de água e ainda habitações de interesse social.
Na análise do governador, que já alcançou bons resultados neste ano ao conceder estradas - o leilão da Rodovia dos Calçados, na região de Franca, por exemplo, obteve ágio recorde de 438% e rendeu R$ 1,2 bilhão em outorga -, a instabilidade política pode prejudicar seus planos. “É claro que sempre atrapalha um pouco”, disse Alckmin.
O que pode minimizar os efeitos da crise no governo Temer, segundo o governador, é que o investimento, neste caso, é de médio e longo prazo, já que os contratos de concessão são de 20 a 30 anos. “Então, ele não está enxergando o Brasil deste ou do ano que vem Esse é um ponto importante.
O segundo ponto a se destacar é que São Paulo oferece segurança jurídica.
Nossas concessões são da década de 1990 e temos agências reguladoras profissionalizadas.
Isso nos ajuda”, afirmou Alckmin.
Cronograma O governador disse também que vai manter o cronograma estabelecido para os leilões.
No próximo dia 5, por exemplo, ele participa do leilão da Linhas 5-Lilás e 17-Ouro do Metrô na Bolsa de Valores de São Paulo.
O lance inicial para os dois ramais é de R$ 189 milhões, mas com previsão de alta.
Ao todo, o programa estadual está avaliado hoje em US$ 14,6 bilhões, ou cerca de R$ 48 bilhões.
Para aumentar a concorrência e atrair empresas estrangeiras, o governo estadual alterou as regras das concessões paulistas, retirando uma exigência técnica que limitava a participação a empreiteiras.
Neste ano, até abril, Alckmin ainda fechou a concessão de 570 km de rodovias no centro-oeste do Estado e de cinco aeroportos de aviação executiva. “Temos de transformar as necessidades do Brasil na área da infraestrutura em oportunidades.
Com boas reformas, o País vai crescer, o emprego vai ser retomado, assim como o consumo e a renda.
A razão de o PSDB ter permanecido é essa: as reformas.
O nosso compromisso não é com o governo”, afirmou.
Doria segue o mesmo discurso.
Para o prefeito, a continuidade das reformas e a manutenção da política econômica da gestão Temer, que, na sua análise, vem sendo bem realizada, dão o caminho de que é possível ainda a investidores nacionais e internacionais confiarem no manejo econômico do País e em uma razoável estabilidade política para permitir que alguns investimentos sejam realizados. “Pior seria se tivéssemos instabilidade plena, o enfraquecimento do governo e sua paralisação quase que por completa diante de uma saída do PSDB.
Felizmente, preservou-se o bom senso e o equilíbrio, mas dentro de um aval que não é incondicional”, afirmou Doria, sobre a decisão tomada pela executiva nacional da legenda no início deste mês.